Marcos Pinto 05/12/2014SurpreendenteO mundo como conhecemos não existe mais; ele foi destruído pelos homens em uma guerra nuclear insana. Os poucos sobreviventes receberam de herança um mundo devastado, porém ainda existia conhecimento para que tudo fosse reconstruído. Mas, a maior parte dos sobreviventes acreditava que a culpa de tudo que acontecera era da tecnologia e do conhecimento acumulado. O resultado foi desastroso: intelectuais foram perseguidos e os livros foram queimados.
A humanidade mergulhou nas trevas da ignorância. Em meio a terras áridas, a população tentava sobreviver criando animais ou plantando o que desse. A Igreja Católica remanescente do ataque tentava trazer um pouco de luz à humanidade, mas não dava conta da maioria das necessidades, pois os padres e monges não tinham os conhecimentos necessários.
Poucos livros sobraram do holocausto do conhecimento feito pelos sobreviventes e estes estavam guardados na Ordem Albertina de São Leibowitz. Apesar dos padres e monges não entenderem praticamente nada do que eles tinham guardado, eles defendiam os livros com sua própria vida, pois acreditavam que, um dia, a humanidade seria capaz de se reerguer. Porém, se isso acontecesse, será que conseguiríamos aprender com os seus erros ou os repetiriam?
“Por si só sua alavanca saltou-lhe da mão e desferiu um golpe repentino no lado de sua cabeça, e então desapareceu para dentro de um súbito afundamento do terreno. Aquele goste incisivo fez Francis rodopiar. Uma pedra que vinha cruzando o ar desde que o deslizamento começara o pegou na nuca e ele caiu sem fôlego, inseguro, sem saber se estava ou não caindo no poço até que sua barriga deu de cheio no chão duro, e ele o abraçou. O troar das rochas caindo foi ensurdecedor, mas breve” (p. 30).
Um Cântico para Leibowitz é um livro distópico que entrou para os meus favoritos. Apesar de eu ler muitas obras desse gênero, esse livro, para mim, foi único. Sua narração é completamente diferente das outras distopias que já desbravei; o vocabulário, a grandeza... Tudo contribuiu para que eu amasse a obra.
A primeira grande diferença que temos desse livro para a maior parte das distopias é a narração. Walter M. Miller Jr. optou por uma narração mais lenta, cadenciada e com pouca ação. A linguagem também é bem mais trabalhada do que o normal. Mas quem pensa que isso é ruim está enganado. Ao invés da ação, Walter privilegiou uma paisagem muito bem descrita e uma distopia quase psicológica. O mais importante não são as batalhas, mas a mente dos protagonistas. Não há super-heróis e sim humanos normais que sofrem com a devastação da Terra.
Os personagens também contribuíram de uma forma incrível para a excelência do livro. Todos eles, protagonistas ou coadjuvantes, foram explorados ao máximo. Entendemos seus medos, suas angústias e também suas dores. Apesar de o livro ser em terceira pessoa, o autor conseguiu dissecar a mente de cada um de uma forma que nem um livro em primeira pessoa é capaz.
“Foi assim que, após o Dilúvio, a Precipitação radioativa, as pragas, a loucura, a confusão de línguas, a ira, começou a carnificina da Simplificação, quando os remanescentes da humanidade esquartejaram outros remanescentes, membro a membro, matando governantes, cientistas, líderes, técnicos, professores e todas e quaisquer pessoas que os líderes das turbas ensandecidas dissessem que mereciam morrer por ter ajudado a tornar a Terra aquilo que ela havia se tornado” (p. 83).
Outro ponto que me ganhou foram as passagens em latim do livro. Sou fascinado por essa língua desde novo e, ao vê-la no livro, fiquei mais do que feliz. E, claro, para um completo entendimento, a editora providenciou um glossário de termos e expressões no final da obra.
Se não bastasse a grandiosidade da obra, o capricho da editora também me encantou. Eu adorei a capa, pois encontrei nela um ar de ficção científica e de subjetividade. A tradução do livro está perfeita; a revisão também. Não encontrei qualquer erro. Não obstante, o livro foi impresso em um papel amarelado, o que é essencial para tornar a leitura mais ágil.
Por todos esses motivos, eu recomendo de olhos fechados Um Cântico para Leibowitz para qualquer um. Esse livro vai agradar a quem gosta de distopia, de ficção científica e de livros com um ar psicológico. Sem dúvidas, essa é uma grande aposta para presentear alguém no natal.
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http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/06/resenha-um-cantico-para-leibowitz.html