Lauraa Machado 04/03/2020
Muito bom, mas não tanto quanto eu esperava
Eu já tinha este livro há pelo menos um ano quando o filme saiu, mas foi pelo quanto eu me emocionei no cinema que coloquei ele como próxima leitura. Eu tinha uma versão só da primeira parte e, antes de saber que existiam duas, achei que ele tinha menos de 400 páginas, não mais de 700. Infelizmente, isso fez diferença, porque eu tinha acabado de ler um outro de 800 páginas. Adoro livros grandes, mas eles cansam, e Little Women (Mulherzinhas) me cansou.
Tentei muito não deixar meu cansaço interferir na minha opinião, porque eu gostava bastante enquanto estava lendo, então não posso chegar a dizer que a história é parada, que a leitura é arrastada ou qualquer coisa assim. Não é. Tem bastante descrição às vezes desnecessária e muitos capítulos desconexos, como se fossem contos da vida das irmãs March, em vez de uma história só com começo meio e fim, mas ambas são características do livro, e não defeitos.
Só tem algumas coisas que realmente me incomodaram aqui. Primeiro, apesar das menções mais religiosas terem sido um pouco chatas, relevei por causa da época em que o livro foi escrito, mas não consigo dizer que não teve qualquer efeito sobre o quanto eu estava gostando da história. Do mesmo jeito, sempre que a autora usou a palavra "mulher" ou "feminino" para explicar alguma atividade ou sentimento, fiquei bem incomodada. Queria que ela tivesse sido um pouco mais irreverente às normas da sociedade, como a Jo era desde o começo da história. Não que ela tenha sido machista, mas eu esperava uma visão bem mais feminista, ainda que apropriada para a época.
O que mais me incomodou mesmo foram as indiretas (muitas vezes bem diretas) sobre como Jo tinha que mudar, se acalmar e ser mais feminina para ser feliz. Principalmente, porque eu me identifiquei tanto, mas tanto com ela! Gostei bastante do final dela, achei bem apropriado, mas ainda queria mais. Ambição foi condenada aqui desde o começo, mas especialmente se vinha de uma mulher, como se escrever vários livros e ser muito famosa fosse uma receita para a solidão de Jo. Sabe, eu esperava mais.
Mas nada disso chegou tão perto de partir meu coração quanto a decepção de descobrir que não tem um único romance apaixonante aqui. Eu espero ideias ultrapassadas de livros escritos dois séculos atrás, mas também espero romances apaixonantes! O de Amy era o que eu mais esperava, mas acabou sendo descrito tão rápida e superficialmente, que nem pude aproveitar. Minha segunda esperança era para o de Jo, que foi tão decepcionante quanto o anterior. Os acontecimentos são legais, mas a descrição não me fez sentir nada além de desânimo.
E é agora que todos os amantes desse livro e de clássicos vão me odiar para sempre. O fato é que eu prefiro o filme. Mil vezes. O roteiro do filme deu ênfase em todas as partes maravilhosas desse livro, mas também redirecionou as mais decepcionantes! Estou realmente orgulhosa dos roteiristas e vou atrás de outros trabalhos deles! Além disso, as atuações foram ideais e eu sofri mais de amor e tristeza durante as duas horas no cinema do que nas últimas semanas com o livro.
Outra razão para me odiar: queria que Jane Austen tivesse escrito este livro, ou algum equivalente dela. Ela é a prova de que não precisa ter diálogos ou atitudes modernas (e não condizentes com a época) para um romance ficar emocionante. Agora sinto falta dos livros dela.
Depois de tudo isso, só preciso ressaltar que eu gostei, sim, do livro, da escrita da autora e principalmente da narrativa onisciente, com comentários aqui e ali sobre o futuro, como alguém que já sabia de tudo. Isso foi bem legal! As personagens são bem desenvolvidas também e gostei muito da relação entre elas. Por fim, Laurie merecia mais crédito e atenção, mesmo depois de toda dada a ele!
Eu recomendo o livro, mesmo para quem se apaixonou primeiro pelo filme, só aconselho que abaixe suas expectativas e vá preparado para uma história um pouco diferente, principalmente em tom, do roteiro maravilhoso que criaram.