Tetynho 30/05/2024
Que experiência incrível!
Por meio de poucas palavras – caso seja possível – quero descrever parte de tudo aquilo que senti ao ler Papillon. Mas antes, preciso dar um pequeno contexto de como tive conhecimento da obra. No ano de 2021, fui fazer uma espécie de estágio não remunerado em um escritório de advocacia. Para resumir ainda mais o relato, basicamente, e de forma bem simplória, o lugar era uma bagunça. Depois da segunda semana, abri mão de parte da minha seriedade e "profissionalismo" de primeiro emprego, e fui assistir TV, enquanto a advogada saía para resolver qualquer situação. Numa dessas divagações em horário de trabalho (não remunerado), assisti aos últimos 30 minutos da adaptação do livro, a mais recente, feita pelo ator da série Sons of Anarchy. Eu fiquei completamente alucinado, passei o dia pesquisando sobre e descobri que se tratava da adaptação de um livro.
Poucos meses depois consegui um emprego, dessa vez remunerado, comprei o livro, mas perdi o tempo para ler por entretenimento. Pois bem, mais ou menos três anos depois, consegui o tempo necessário entre conciliar faculdade/trabalho/relacionamento, e tive o prazer de me dedicar à odisseia escrita por Henri Charrière.
O próprio autor confessa que parte de sua obra deriva de sua própria imaginação, mas, caso 60% – jogando muito baixo – seja de fato verdadeira, dificilmente o mundo verá uma pessoa que viveu tanto quanto ele. Pensar em uma pessoa que, presa injustamente, decide com todas as suas forças fugir, mas que, mesmo assim, reconhece parte de suas fraquezas e falhas, e que talvez até reconheça merecer certa punição por seus pequenos delitos, mas jamais por algo que ele não cometeu. É absolutamente fantástico. De cara, fui fisgado.
O senso de justiça do personagem, a facilidade em lidar com outras pessoas, em enxergar o lado positivo de situações que nenhuma outra pessoa conseguiria ver, faz com que torçamos quase que instantaneamente por ele, em quase todos os momentos. Ao longo de todo o cárcere, contando os períodos de maior flexibilidade e de certa fuga, como na passagem pela região dos índios ou na Guiana Inglesa, percebemos a clara evolução dele, mesmo que alguns desvios de caráter tenham permanecido.
Me senti aliviado, tenso, triste, com raiva, desesperançoso, mas além de tudo, intrigado e cativado por ele, mesmo com todos os erros dele. Se analisado friamente, definitivamente não estamos acompanhando a história de um herói, anti-herói ou vilão; estamos acompanhando uma pessoa, com seus lados positivos sendo tão relevantes quanto os seus demônios.
Para além da história, precisa ser salientado o talento narrativo do autor. Durante a primeira passagem do nosso "herói" na "Devoradora de Homens", é simplesmente fantástico. Dois anos se passam e a escrita é veloz ao mesmo tempo que tudo aquilo é fascinante. Dezenas de páginas relatando alguns poucos metros de cela, nada poderia ser mais exemplificativo para demonstrar todo o talento do autor.
O que mais posso dizer? Com certeza foi uma das melhores experiências literárias que tive. Recomendo para todos, sem exceções.