Lucas_aqnn 06/10/2024
Um livro forte e impactante e por isso, esclarecedor!
Diferente do que muitos podem achar à primeira vista, esse livro não tem nada haver com o "Anticristo" descrito no apocalipse. Essa obra nos mostra, com argumentos fortes e lúcidos, como o Cristianismo influenciou psicologicamente, moralmente e até fisiologicamente a humanidade desde os princípios desta religião.
Nietzsche inicia a obra definindo o que é bom: "tudo o que aumenta o poder no indivíduo" e o que é mau: "tudo o que surge da fraqueza". Ele argumenta que o cristianismo promove a fraqueza nos indivíduos com seus dogmas, com o pecado e com a convicção na fé em uma moral divina. Ele compara o Cristianismo com o Budismo, afirmando que, diferente do Budismo, o cristianismo promove a ideia de que devemos nos opor aos instintos naturais, levando a crer que a penitência e as atitudes, que podem até afetar nossa saúde, são essenciais para alcançar a felicidade, e essa felicidade não está na vida que vivemos na terra, por isso, temos que dar mais importância para nossa alma, e não nosso corpo. Nietzsche critica isso muito fortemente em toda a obra.
Ele atribui a culpa da dominação cristã aos sacerdotes e aos teólogos; declara guerra contra eles; diz que os sacerdotes detêm todo o poder das leis de Deus em suas mãos e controlam o povo com mentiras. Ele afirma que toda a vida que Cristo levou; toda a sua forma de ensinar e pregar o evangelho; todos os ensinamentos sobre não ressentimento, sobre o amor ao próximo e um estilo de vida que busca a paz morreram com ele na cruz e que Jesus Cristo foi o único e último verdadeiro cristão. Nietzsche argumenta que esse fato se deve por seus discípulos (principalmente o apóstolo Paulo, sendo chamado por Nietzsche de "Falsificador do ódio") terem distorcido os ensinamentos de Cristo (prova isso mostrando passagens bíblicas no livro), por causa de seu sentimento de vingança contra os que mataram ele, criando ideias como o inferno, o julgamento final e a ressurreição de Cristo ? tais ideias totalmente opostas a tudo que Jesus pregou.
Outro ponto importante é o que Nietzsche mostra ao estudar a psicologia da criação do mundo segundo a bíblia. Ele afirma que "Deus" na bíblia pode ser trocado por "sacerdote", pois a concepção acerca do ser humano comer o "fruto da sabedoria" está diretamente ligado com o próprio ser humano duvidar e buscar na ciência a verdade e a explicação sobre verdade. Portanto, ao criar o homem, Deus cria seu próprio inimigo pois "os padres e os deuses acabam quando o homem se torna científico e a ciência torna os homens divinos".
Ao final da obra, ele nos traz a reflexão acerca do Renascimento ? etapa da história em que as sociedades ocidentais voltaram a vangloriar os costumes antigos de ascensão e investigação científica e filosófica. Ele atribui a Lutero, com o protestantismo, a culpa pela decadência do renascimento e o restabelecimento do cristianismo nas sociedades.
Este livro aborda vários outros temas de investigação acerca de como o Cristianismo fez mal para a evolução psicológica das sociedades ocidentais, e consequentemente toda a sociedade futura. Tais temas são de fácil compreensão e são trazidos nesse livro de uma forma puramente crítica. Pode ser satisfatória para quem gosta de investigar e saber mais sobre tudo, mas também pode ser dura para quem segue convicções e não abre mão delas.
Foi o primeiro livro de Nietzsche que li e irei ler muitas outras obras do autor!