thamiis 18/09/2021Um rumo inesperado e não necessariamente positivo.Em O prisioneiro do Céu voltamos à livraria dos Sempere & Filhos e ao protagonismo de Daniel e Fermín Romero de Torres, peças-chave do mistério das pouco mais de 200 páginas desse livro.
A presença de um estranho, um presente curioso e segredos do passado revelados acabam por mesclar todos os acontecimentos da vida de Daniel Sempere de uma maneira que ele não imaginava.
Confesso que esperava muito mais do livro por todo o hype que havia lido em resenhas sobre o mesmo, mas já nas primeiras páginas não consegui ser cativada pelo rumo que Zafón escolheu para continuar a saga do Cemitério dos Livros Esquecidos.
Primeiramente, a falha na cronologia que eu já havia observado em O Jogo do Anjo me irritou profundamente: como pode que Daniel tinha 11 anos em 1945, nasceu em 1936 e tinha 4 anos e 8 meses em 1939? NÃO FAZ SENTIDO, eu não consigo deixar pra lá e não entendo como não viram isso ao longo das revisões.
Em segundo lugar, a narrativa de Fermín sobre seu passado e tudo que envolve a aparição do estranho na livraria me pareceu uma tentativa rasa de ir tapando lacunas que não necessariamente existiam. Fiquei com a sensação gritante de que o Zafón se aproveitou do sucesso do primeiro e segundo livros e foi literalmente ?enchendo linguiça? além de escancaradamente estar preparando terreno para outro volume. A história não me convenceu, apesar de ainda carregar as emoções características do autor e com isso ter bons e tocantes momentos.
Outro ponto que me causou desconforto foi que no livro anterior paira a sensação de irrealidade a respeito da história do Martín e não temos certeza se as coisas realmente aconteceram como tal ou se foram fruto de sua imaginação. Me pareceu um livro onde o Zafón quis testar misturar vários gêneros literários distintos e criar algo inédito, o que, mesmo não sendo uma junção de meus estilos preferidos, foi interessante de observar em seus desdobramentos e cujos diálogos são bastante filosóficos. Já com O Prisioneiro do Céu, boa parte do encanto da história de O Jogo do Anjo se perde quando o que estava em suas páginas finais recebe explicações pouco profundas e simplificadas para ter ocorrido como aconteceram. Talvez se eu houvesse lido primeiro O jogo do Anjo teria me decepcionado menos, não sei.
Por fim, sobre O prisioneiro do Céu, achei muito interessante a parte crítica a respeito dos tempos sombrios da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra Mundial, cujos impactos sem dúvida se estenderam por diversas gerações e cujos horrores e traumas posso apenas imaginar. Também gostei de rever mais de perto as personagens de A Sombra do Vento, mesmo que nem sempre em livros cujas continuações ocorrem mesmo quando a ideia original era um volume único o autor consiga manter a história digna.
Longe de menosprezar o autor ou atacá-lo de maneira pessoal, afinal gosto é algo muito individual, eu infelizmente não consegui ?engolir? a trama desse livro e não tenho grandes expectativas para o último da tetralogia, mas pretendo lê-lo mesmo assim. Continuo achando Zafón um ótimo narrador, ainda que nesse livro ele tenha deixado a desejar. Veremos no próximo.