Beatriz B. 13/10/2013Um ótimo romance histórico, onde não falta adrenalina e aventuras.A Trama: O autor já avisa no início do livro que esta trilogia não precisa ser lida na sequência, pois cada livro possui histórias independentes. Pensando nisso, decidi aproveitar essa chance de sair dos padrões e começar pelo último e terminar com o primeiro. Confuso? Um pouco, porém bem mais desorganizada é a ordem cronológica do livro e por incrível que pareça, isso só aumentou seu charme.
A história não gira em torno apenas do protagonista, ela faz literalmente um tour nas vidas passadas de alguns personagens e a conclusão de tudo isso obtemos quando a narração volta ao "presente", para vida de Daniel. Por possuir apenas 246 páginas, percebi que o autor foi breve, ele focou bem no âmago de sua história e no que queria transmitir com os fatos narrados, como se ele quisesse que o leitor soubesse apenas do essencial da vida dos personagens. E não, isso não deixou o livro vago ou faltando alguma coisa, eu gostei do jeito do autor tratá-los como se fossem seus amigos e estivesse contando sobre suas vidas a alguém usando um ritmo bem energético e agradável, onde tudo soou natural para mim principalmente os conflitos e conquistas. Um único comentário que posso fazer foi o epílogo ter sido um pouco confuso, sem um "final" aparente para o vilão e espero entender o porquê, nunca pensei que escreveria essa frase, nos volumes anteriores.
O Protagonista: Creio que Daniel seja o protagonista da série, mas o foco do livro não ficou só para ele. Houve momentos em que o autor regressava para o ano de 1939/40 para contar a estadia de Fermín, um amigo de infância de Daniel, numa das piores prisões da Barcelona no período da Guerra. Interessante que o autor voltava no ponto exato onde Daniel se questionava, em 1957, sobre o passado do amigo e era preciso sobre os acontecimentos, sem deixar de esconder os horrores e as injustiças, tudo de um modo muito realista, como se estivesse contando um fato histórico. Enquanto isso, nos dias "atuais", Daniel continua tendo problemas de família e no trabalho de cuidar da livraria da família e foi nesse detalhe que o autor me conquistou: O protagonista não deixou de procurar saber sobre o passado dos amigos para entender melhor o mistério em volta de certos acontecimentos, mas também continuou tendo conflitos e problemas do dia a dia. Tudo isso mesclado com sua inexperiência sobre a vida e seu jeito impulsivo de resolver as situações em que se mete.
Os Personagens Secundários: O livro não apresenta muitos personagens, não por não haver espaço para tantos, mas em minha opinião, por simplesmente não ser necessário para o livro ter sido completo. O principal deles foi Fermín, com seu duro e misterioso passado, e tive a impressão que o ápice da trilogia era essa descoberta. Fermín, em 1957, já com idade avançada, está prestes a se casar quando alguns fantasmas do passado voltam a assombrá-lo, além de Daniel precisar de conselhos quando descobre um suposto segredo sobre sua esposa. Um detalhe que me chamou a atenção foi a notável mudança que ele sofreu com o passar dos anos, afinal quem é que não muda com o tempo? E o fato de o autor não ter deixado isso de lado me impressionou bastante. Entre todas as pessoas perturbadas que Fermín conheceu na prisão, destaca-se Salgado. Mesmo em meio às descrições das torturas que foi obrigado a passar, Salgado deu algum humor à trama mantendo seu senso de humor um tanto negro em preferir perder partes do corpo a ter que revelar a localização dos tesouros que escondeu. E por último, um personagem que também espero ter sido mais bem explicado nos volumes anteriores, foi o escritor de mente perturbada, David Martín, que também acompanhou Fermín na prisão. O ponto que estou mais curiosa para descobrir é como ele sabe tanto sobre Daniel e em como sua participação é a chave para desvendar todos os enigmas da trama!
Capa, Diagramação e Escrita: A capa é bem simples usando em sua composição tonalidades variadas de laranja, branco e preto, mas reserva um ar misterioso com esse cenário de uma típica Rua de Barcelona em meados dos anos 40. As páginas são amareladas, as letras são normais e o livro é dividido em partes, cada qual com seu número de capítulos. Eu adorei os mapas de Barcelona no início e final do livro, com indicação de monumentos e lugares turísticos. Achei as notas de rodapés muito úteis e informativas, pois há inúmeras citações de músicas, atores e outros que deviam ser de conhecimento popular naquela época.
O que dizer da escrita de Zafón? Adorei seu jeito agitado de contar histórias, como se estivesse chamando o leitor para passear enquanto conversa. Não pude deixar de notar que o autor não força nenhuma mudança, mas nos convida a entrar na trama do livro e tentar decifrar seus enigmas. O que achei mais interessante foi o jeito como ele dividiu e narrou seu livro. A história começa com Daniel narrando até a primeira volta no tempo, onde a narrativa passava ser em terceira pessoa para contar as enrascadas de Fermín na prisão e assim o livro se seguiu, sucessivamente. Eu também pude notar o amor de Zafón por literatura, não só por ter criado em sua história uma casa/biblioteca, mas também pelas citações de enredos de clássicos como Os Miseráveis. Espero experimentar mais seu jeito espanhol de encaixar as palavras nos seus outros livros, para que todos os segredos e suspenses sejam quebrados!
Concluindo: Para quem gosta de uma viagem pela vida dos personagens, nesse livro não há personagens mal desenvolvidos! Eu adorei conhecer um pouco mais da antiga Barcelona, não do jeito didático, mas imaginando como seria morar lá. Recomendo para quem gosta de um bom romance histórico e não tem pressa de se deliciar em um.