Imagem Imperfeita

Imagem Imperfeita Russell Jacoby




Resenhas - Imagem Imperfeita


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Wags 29/03/2021

A satisfação utópica de mudar
Devo dizer que fiquei muito satisfeito com esse volume. É muito gratificante para mim, enquanto estudante de utopismos, perceber que o esforço crítico-teórico em torno do assunto alcança patamares novos e de bastante cautela, mesmo que pensar numa alternativa utópica na nossa época seja algo que beira o impensável, no entanto, seguindo a linha dos iconoclastas, guiados pelos ensinamentos do judaísmo, Jacoby constrói um panorama bastante aceitável e convincente de prática utópica e utopia política no que chama de "mundo pós-11 de setembro".
Também devo confessar que não gostei muito da obra anterior do autor sobre o assunto, "O fim da utopia", até mesmo abandonando-a no meio do percurso, mas prometo dar mais uma chance, uma vez que gostei deste "Imagem imperfeita". Basicamente, o livro se trata de quatro ensaios em que o autor tenta responder se existe uma maneira de pensar utopicamente no século XXI, que guiado pelas catástrofes incessantes da guinada distópica ocorrida desde os anos 1980, apenas cristalizou a tragédia e a miséria da humanidade pelos anos afora, e é exatamente revisando conteúdos e falas favoráveis e desfavoráveis ao entorno utópico que Jacoby chega à conclusão de que o utopismo é sim possível e na verdade até indispensável, pois assim como Bloch já argumentava representa o anseio humano de sempre seguir em frente e fazer mudanças significativas na realidade.
Esse ponto pode ser encontrado com mais clareza nas chamadas "utopias iconoclastas", um tipo de pensamento exercido sobretudo na cultura judaica que apenas cogita o futuro ao se espelhar no "aqui e agora", o que de acordo com a visão do autor é bem mais confortável do que as "utopias projetistas", que nos apresentam exemplos de sociedades ideais desde Platão, e que se tornaram locus amoenus com More. Assim, o impulso utópico pode se manter constante uma vez que não apresenta imagens ou produtos de imaginação vãos criados pela linguagem humana.
Não pensar no futuro e viver poeticamente é o MO judeu, manter-se constante em Deus para alcançar a utopia no pós vida é uma maneira no mínimo curioso e instigante de se pensar. Destarte a verve religiosa, ele segue bem de perto as considerações blochianas de sonhar e satisfazer para mudar, e é por isso que o argumento do autor aqui consegue ser bastante proveitoso.
Tenho minhas críticas ao livro, sobretudo ao modo de tratar alguns assuntos como a distopia e sua contribuição para o pensamento utópico através da literatura, algo que o autor faz com certa rapidez e com apoio nos livros genéricos sobre o assunto, o que não condiz com sua apurada demonstração crítica e minuciosa de leitura no decorrer da exposição e argumentação de suas ideias, mas mesmo assim seu pensamento mostra necessidade de debate e porque não o alinhamento de mais e mais pessoas ao partido da utopia. Tornar-se utópico é necessário e espero que continuemos nem que seja minimamente buscando o princípio da esperança.
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