Ressurreição

Ressurreição Leon Tolstói




Resenhas - Ressurreição


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Renata Rezende 27/08/2021

Como eu imaginei...
... os protagonistas não são aquilo que conduz a história. O livro é uma crítica social, político-jurídica.

Primeiro livro do Tolstói que me traz esse desconforto desagradável no final.
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Juliana 21/08/2021

Custava obedecer as regras do proprietário?
Quarto livro do Tolstoi do ano ( morte de Ivan ilitch, Anna Karenina e Guerra e Paz ), confesso que já comecei o livro com grande expectativa e ela se cumpriu até metade do livro.
A narrativa dele é linear, um pouco diferente de Anna Karenina e Guerra e Paz, que tem dois cenários e histórias se desenvolvendo ao mesmo tempo .
Como todo livro dele, trás reflexões mto fortes e desta vez sobre a sociedade ( mas eu esperava um pouquinho mais de romance ).Será que somos melhores do que quem julgamos ? Quem nos deu autoridade para decidir e castigar outro ser humano ? Será que as prisões recuperam alguém ? Ou será o amor e fé na humanidade ?
A história começa no julgamento de Katiuscia, onde o protagonista reconhece a mulher que marcou sua juventude, mas que ele largou à própria sorte .
Muitos anos depois ela está sendo julgada e ele é jurado e como reparar a injustiça do passado ? Existirá perdão possível?
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Tyssia.Rayol 11/07/2021

Tolstói sempre sendo Tolstói? a gente começa a leitura gostando pouco e pensando: acho que esse não vai me agradar! Mas à medida que o enredo se desenrola e os temas vão se aprofundando, me vejo envolvida e reflexiva perante os pensamentos desse príncipe tão humano.

As autodescobertas vividas por ele trazem verdades difíceis de aceitar e ao mesmo tempo deixam claro o quanto é simples ser bom.

Vale ler e reler?. É uma excelente oportunidade de entender a alma do brilhante Tolstói.
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Gabi Guerra 09/07/2021

Absurdo! o romance mais claro de tolstoi
- Ressurreição foi o último romance escrito por Tolstói.

✳️ Na obra, publicada pela primeira vez em 1899, Dmitri Nekhliúdov, príncipe aristocrático, se vê como jurado no processo de julgamento de sua ex paixonite adolescente Maslova. Ela é acusada de homicídio por envenenamento.

❇️ Maslova é uma camponesa que trabalhava na casa das tias do aristocrata. Foi iludida por Dmitri e engravidou, perdendo o emprego e o respeito da sociedade, enquanto ele sumia do mapa. Em consequência, tornou-se prostituta.

✳️ No banco do júri - nem tão popular - Dmitri passa por um processo de autoconhecimento e autopunição que resultará na ressurreição dos seus ideais sobre moral, caráter e justiça.

✳️ Sem dar spoilers, eis o resumo. é uma leitura de reconstrução, recheada de críticas às leis, formalismo da justiça, aristocracia hipócrita e igreja com falsos princípios.

💕 faça o favor de ler a obra em algum momento da sua vida. É completamente viciante e atual. Tolstoi é mais acessível que Dostoiévski, vale a pena arriscar a leitura, mesmo que o número de páginas assuste.
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Fabiola Hessel 05/06/2021

O valor da consciência e reflexão
Esse livro é daqueles que eu comecei gostando pouco, mas terminei amando e agora quanto mais eu penso nele, mais eu gosto.

Estive revisitando minhas leituras e tem no mínimo 5 anos que eu sempre leio um livro do Tolstói pelo menos, o mesmo acontece com Jane Austen, Virgínia Woolf e Charles Dickens, escritores que me mudaram como leitora e consequentemente como pessoa.
Eu acho tudo que esse homem escreve maravilhoso ? e merece muito ser lido.

O mais engraçado é que tenho esse livro há anos e sempre postergava sua leitura, afinal, era o último romance que o Tolstói escreveu e o que me faltava ler. Mas como sempre, li no melhor momento possível, cada livro tem sua hora pra mim, o livro me tocou e conversou profundamente comigo.

Acho que ler esse livro com mais maturidade fez toda diferença, pois diferentemente de Anna Karenina esse livro não trata de amores, mas sim de autodescoberta, culpa e amadurecimento moral e ético. Também achei a escrita bem afiada, mais direta e cínica.

Ressurreição é um romance com muita crítica social que é feita através do personagem principal, Nekhliudóv, passa por uma crise de consciência e começa a analisar tudo ao seu redor.
Ele desenvolve consciência de classe, faz críticas à burocracia, ao sistema judiciário, à aristocracia, à Igreja e à prostituição. Ninguém escapa do olhar duro do Tolstói.

Ele também toca um pouco no tema do casamento, o que me deixou com muita vontade de ler a novela Felicidade conjugal. Além disso, como ele já estava numa fase mais madura, então ele fala bastante de uma vida regrada pelos princípios cristãos (questão que ele aborda muito nossos livro Uma confissão), inclusive ele foi excomungado por ter essas crenças.

(A tradução desse livro é do Rubens Figueiredo, a mesma dos livros da Companhia das Letras e é maravilhosa, além de ter uma apresentação incrível)

Cada vez que leio um livro escrito por elel fico feliz porque são livros que me mudam e triste porque vou ler menos coisas de Tolstói pela primeira vez.
Qual foi o último livro que você leu que te marcou e foi crescendo com o passar dos dias?
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Lucas 28/04/2021

Tolstói sendo Tolstói
A pesar da história dar muitas voltas são justamente essas voltas que proporcionam todo a amadurecimento e transformação do protagonista.
É uma história que tem muito a dizer em relação a injustiça e desigualdade na Rússia do final do século 19, mas que permanece muito atual e temos muito o que tirar para reflexão para o Brasil atual.
O final não me agradou muito (questão de opinião)
mas é uma história incrível, recomendo...
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Maikel.Rosa 25/02/2021

uma crítica social a la "o príncipe e a plebeia"
não sei se fiz bem em me iniciar na literatura russa com "Ressurreição", mas segue minha impressão dessa penosa experiência tolstoista.

digo penosa porque é realmente muita desgraceira junta, mas também pra fazer um trocadilho com o sistema penal que Liev Tosltói critica no livro.

o protagonista, o príncipe Nekhliúdov, não deixa de ser um alterego do autor, que narra o despertar de consciência do nobre pra barbárie burocrata que sustenta o modelo de justiça russo no final do século XIX - nada muito diferente do que é hoje em muitos lugares do mundo, pra falar a real.

a história de redenção começa quando Nekhliúdov, ao compor o júri que avaliará o caso de uma prostituta acusada de envenenar e roubar um de seus clientes burgueses, reconhece nela a paixão que ele desonrou na juventude, e que desencadeou à coitada todos os infortúnios que a levaram ao fundo do poço.

a partir daí, o pobre-menino-rico entra numa espiral de autoquestionamento e redescoberta do seu lado espiritual, passando a sentir nojo e vergonha da sua vida ao defrontar-se com a penúria imposta às pessoas honestas e presas injustamente.

a obra traz muito da visão de vida de Liev Tolstói, sendo na verdade um tratado socialista disfarçado de romance a la "o príncipe e a plebeia", uma forma que ele encontrou de revelar sua repulsa em relação à justiça, ao governo, à propriedade, ao dinheiro e à cultura ocidental - crítica que se tornou a base do movimento tolstoísta.

só posso dizer que, apesar da canseira que me deu, é um clássico muito lúcido e totalmente relevante pra quem não aceita o status quo da sociedade capitalista.
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stéfanie 19/02/2021

eu me arrastei por algum tempo no começo do livro, mas ao começar as alteração de discurso, e o narrador onisciente se tornar mais forte, a história começa a crescer.
tolstói, como de praxe, ao longo de toda a narrativa expõe posicionamentos socialistas e mostra sempre a luta interna do homem e a influência da religião em seus pensamentos. a crítica feita ao sistema carcerário russo do final do século 19 fica bem clara, e a curta distância com o sistema atual brasileiro assusta; as passagens em meio dos desterrados, já no finalzinho do livro, onde podemos entrar na cabeça dos personagens secundários, mesmo que por poucas linhas, é incrível.
porém, o final... é FRUSTRANTE. sinto como se tivesse trilhado todo um caminho pra chegar em nada, como se o desfecho nem existisse!!!
eu amo romance histórico e o último capítulo quebrou todas as minhas expectativas.
gostaria de ter chegado à siberia.
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Juliana 21/08/2021minha estante
Com certeza , de todos que li dele, esse me frustou legal , mas as reflexões são incríveis , mas senti falta do romance e do enredo




Graci 05/02/2021

Difícil
A leitura é bem complicada, os personagens são muito complexos, o livro mais difícil que eu já li.
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Luigi.Schinzari 04/02/2021

Sobre Ressurreição de Tolstói:
Dentro do panteão de belíssimas obras -- algumas das maiores já apresentadas ao mundo -- construído por Liev Nikoláievitch Tolstói (1828-1910) ao longo de sua longa e prolífica carreira, Ressurreição, seu último romance, publicado em 1899, tende a ficar apagado em relação a outros livros como sua epopeia Guerra e Paz (1869) e Anna Kariênina (1877), seus dois romances anteriores -- uma injustiça histórica: Ressurreição, por ter sido escrito em um momento da vida em que Tolstói preocupava-se mais com reflexões religiosas e filosóficas -- questões essas muito próprias do autor, tão íntimas e únicas que foram denominadas como tolstoísmo a época, tendo fiéis seguidores de suas crenças -- do que com a literatura em si, acabou por ter a fama de ser um romance extremamente ideologizado, uma mentira, claro: resumir toda a beleza traçada nas páginas de Ressurreição, tão carregada de reflexões sinceras de um autor preocupado com o mundo ao seu entorno, a apenas isso -- um romance ideologizado -- é pecar contra um grande expoente da literatura russa e universal e contra o trabalho de um autor no ápice de seu domínio da prosa e de todos os seus instrumentos.

A história é centrada no nobre Dmítri Ivanovitch Nekhliúdov. Chamado para participar de um júri em que três réus são acusados de envenenamento, reconhece em um destes uma antiga paixão juvenil que, com o tempo, transformou-se em um desfruto carnal passageiro. Katiucha Máslova, antiga empregada das tias de Nekhliúdov, tendo se apaixonado por este, acabou tendo sua vida desgraça depois de engravidar do sobrinho de suas patroas, enveredando para a prostituição e chegando ao ponto encontrado pelo protagonista. Nekhliúdov, percebendo que o estado lamentável atual de Katiucha deve-se a seus atos imaturos e inconsequentes do passado, busca de toda forma redimir-se perante aquela alma desgraça que a antes feliz Katiucha tornara-se. Em meio a sua redenção, Nekhliúdov, encontrando-se com figuras como advogados, diretores carcerários e outros chefes de cargos elevados dentro do sistema prisional, reflete sobre crime, sobre pena, sobre justiça, e culmina tendo sua vida inteira mudada pelos erros de seu passado e pela vida daquela mulher sofrida.

Ressurreição, diferentemente dos outros romances de Tolstói com suas dezenas de personagens e vozes, indo de um lado para o outro em uma profusão infindável de tramas e aconteceres, segue linearmente dois lados de uma linha guia. Pula de Nekhliúdov para Máslova, e vice-versa, sem abrir brechas para outras personagens darem seus pitacos e refletirem seus pensamentos: estamos estreitos a visão nova de mundo de Dmítri, sendo bombardeados com suas percepções ácidas sobre figuras intragáveis a ele, acompanhando o despertar de novas ideias, antes tão turvas que, com o passar da narrativa, começaram a clarear em sua pensativa e conflituosa mente junto a seu pesar perante injustiças e desgraças que ocorrem a luz do dia e, parece a ele, não incomodam a ninguém além dele.

Os ecos de Dostoiévski -- fortes por conta da trama linear e psicológica deste --, tão distinto de Tolstói em todas as outras obras por sua linguagem e suas filosofias acerca da fé e da vida, na obra Ressurreição estendem-se às críticas ao sistema carcerário. Tolstói divide com seu conterrâneo as duras críticas a percepção dura em relação a pena e ao criminoso existente em Escritos da Casa Morta (1862), livro com traços fortes da vida no cárcere siberiano de Dostoiévski. Ambos, tão dissonantes em tantos pontos e até mesmo em suas vidas (é irônico pensar que ambos, os dois maiores autores russos e contemporâneos, nunca trocaram nenhuma palavra e, em vida, até mesmo criticaram um ao outro de forma dura em certos momentos), convergiram em aceitar como o sistema prisional é ineficaz e ilógico.

Em Ressurreição, Tolstói aborda uma realidade próxima a nós: o prisioneiro, por vezes de pequeno potencial ofensivo, como no caso de um preso por furto, acaba saindo ainda pior por conta da realidade e do convívio dentro da prisão, em meio àquele ambiente predatório e intrinsicamente violento. É ilógico, diz ainda, por não haver sentido em o Estado gastar suas despesas com o enclausuramento temporário como resposta a uma ofensa à sociedade -- Nekhliúdov, a certo ponto do romance, fala que a morte ou uma punição física semelhante a Lei de Talião seriam mais justas e eficazes, servindo como exemplo e poupando gastos desnecessários. Mas tais características, isoladas, não refletem o pensamento do autor exposto no livro: é do caráter humano que Tolstói critica tanto a instituição prisão; com o cárcere, tira-se completamente qualquer vínculo do preso com a humanidade e o bestializa, maculando-o de uma forma ou de outra: ou saíra destroçado e sem perspectivas, ou abandonará de vez os traços que separam o homem da racionalidade e irá enveredar para o pior tipo de sujeito, da espécie mais cruel possível. Com isso em mente, Tolstói coloca na mente de Nekhliúdov e reflete ao leitor seus pontos, concorde ou não, com muito embasamento e questionamentos poderosos e contundentes, que, sem dúvidas, no mínimo deixarão o interlocutor com algumas dúvidas a cerca de certas certezas de antes.

Mas, além de todo seu conteúdo mais denso envolvendo as prisões, a existência, a fé e a redenção, Tolstói brinda o leitor com uma narrativa madura, equilibrando com maestria a beleza costumeira de sua prosa sensível e observadora -- em meio a tantas tragédias, existem momentos pontuais de contemplação em que a pena de Tolstói trabalha de seu modo único -- com teses filosóficas, religiosas e políticas.

Diferentemente de suas obras anteriores, o tom ácido de Nekhliúdov sobrepõe-se a perspectivas favoráveis sobre a sociedade ao seu redor -- é claro: Ressurreição é um romance mais crítico -- sem esquecer que Tolstói por si só sempre teceu suas opiniões, seja de forma sutil, seja de modo mais assíduo, em cada uma de suas obras, mesmo as precedentes de seu período mais retraído e voltado para si mesmo -- e, o que o destaca de outras obras, seus alvos são mais claros. Jamais, entretanto, sua verve dogmática retira o espaço cedido para a escrita por si só brilhar. São muitos os momentos catárticos de pura apreciação da essência humana e da nobreza -- a relativa ao caráter e não ao poder monetário ?, tão caras a Tolstói. Além do homem elevado por sua bondade, a fé em Deus e Cristo -- e a fé de Tolstói é muito única e distante dos dogmas católicos russos, tendo o autor sido excomungado pela Igreja Ortodoxa em 1901, fato que dura até hoje -- é motivo de contemplação (quando alcançado pelos meios que o autor acredita serem os corretos) em sua narrativa.

Com esses breves momentos de sentimentos humanos e religiosos nobres ao longo da obra, Tolstói encontra uma vertente nova -- talvez tendo sido utilizada antes apenas em sua A Sonata a Kreutzer (1889) -- ligada a certa vulgaridade necessária para narrar a bestialização que o cárcere a hipocrisia humana causam a certos tipos ao longo da obra. Mas, sendo Tolstói dono de talento único para compor suas obras, jamais deixa a vulgaridade se tornar regra, algo tão comum em autores menos hábeis e cansados; é instrumento, e nada além disso, que, como seus termos sujos, polui a obra e o espírito, causando repulsa e comiseração ao protagonista e ao leitor vislumbrar tais momentos.

Tratar Ressurreição, portanto, como obra menor dentre a gama célebre de trabalhos de Tolstói é incorrer em um crime -- para ficarmos nos temas abordados na obra. -- Trata-se de um texto essencial para compreender o autor como um todo e, espceficimente, o seu crepúsculo, tão incompreendido, muitas vezes, para os entusiastas de sua carreira na literatura. É amplo celeiro de debates mas, como todo bom livro deve ser, não se finda aí, propondo reflexão em meio a narrações de construção ímpar e que exemplificam o porquê de um escritor como Tolstói estar no cânone da literatura mundial. Ressurreição escancara a alma de seu autor -- homem vivido, arrependido de muitos atos de seu passado que se assemelha com o de seu protagonista -- ao passo que o redime perante si próprio assim como acontece na busca de Nekhliúdov por redenção, tanto a dele quanto a de Katiucha. São personagens complexos, construídos com esmero e calma, aliados a uma narrativa ora bela -- e não há autor que mais soube trabalhar o belo do que Tolstói --, ora horrível, propositalmente horrível. Enfim, Ressurreição, sendo o último romance publicado em vida por Tolstói, encerra o ciclo de seu autor como foi ao longo de todos seus vastos anos: brilhante, melancólico, mas, acima de tudo, belo; muito belo.
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Camila Faria 27/01/2021

A vida do príncipe Nekhliúdov, um nobre e abastado proprietário de terras, muda drasticamente quando ele se depara com Máslova no banco de réus de um julgamento do qual participa como membro do júri. A prostituta acusada de roubar e assassinar um cliente é, na verdade, uma antiga serva, enganada e abandonada por ele no passado. O choque do reencontro e a injustiça da sentença desencadeiam uma crise de consciência no príncipe, que passa a revisitar e questionar todas as suas decisões até agora. Mais do que isso, o príncipe começa a entrar em conflito com o seu estilo de vida burguês e a rejeitar os seus pares e os seus privilégios. Último romance de Tolstói, escrito quando ele tinha setenta anos, como parte de uma campanha em defesa dos dukhobóri, uma seita/comunidade de cristãos que negava a propriedade, o governo, o Estado (eles se negavam a jurar lealdade ao Tsar), o dinheiro e a Igreja. Seu estilo de vida pacifista e igualitário atraía o autor, que negociou os direitos autorais do livro para enviá-los ao Canadá ~ e aproveitou para inserir no romance muitos dos temas que os uniam (além de traços autobiográficos, como o romance com uma criada e a sua inclinação a desfazer-se de bens materiais). Ressurreição tem uma certa fama de ser um livro “religioso”, o que me espanta, já que a sua crítica da sociedade como um todo é MUITO mais forte do que qualquer teor moralista ou evangélico. O romance é um ataque duro e nítido aos sistemas judiciários e prisional ~ e Nekhliúdov chega à conclusão que muitos de nós também chegamos, mais cedo ou mais tarde: o que é a justiça, senão a manutenção dos interesses de uma classe? Maravilhoso.

site: http://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-28/
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ntayar 10/01/2021

“As pessoas são como rios: a água é a mesma para todos e é igual em toda parte, mas cada rio é ora estreito, ora rápido, ora largo, ora calmo, ora limpo, ora frio, ora turvo, ora morno. Assim também são as pessoas...”
Os protagonistas de Ressurreição são o nobre Nekhliúdov e a serva Katiucha. A menina vinha de uma família muito pobre e desagregada, abandonada e sem nenhuma perspectiva de vida. Duas tias solteiras de Nekhliúdov recolhem a garota, ensinam a ler e a falar três idiomas, e ela passa a servir como empregada na casa.
Katiucha foi crescendo e transformou-se numa moça atraente, chamando a atenção do jovem Nekhliúdov. Aos 19 anos, e ela com 16, os dois se apaixonam, ou melhor, ela se apaixona. O rapaz sentia um desejo físico pela garota e, depois de alguns encontros, ele consegue alcançar seu objetivo: uma relação que resultou numa gravidez.
“...o sentido da mulher, de todas as mulheres, exceto as da sua família e as esposas dos amigos, estava bem determinado: a mulher era um dos melhores instrumentos de prazer que ele já experimentara”
Ao saber que ela estava grávida, Nekhliúdov meteu a mão no bolso e lhe deu dinheiro para “resolver” o problema.
“Agora, era um egoísta depravado, requintado, que só amava o seu prazer”
Katiucha ficou arrasada, embora não esperasse que o relacionamento entre eles tivesse algum futuro, pois eram de classes sociais extremamente diferentes. Mas ela decide ter a criança, e planeja um jeito de ir embora daquela casa porque sabia que as tias do rapaz não poderiam aprovar aquela gravidez. Para elas, era uma situação ultrajante.
O tempo passa. Nekhliúdov entra para o exército russo, participa da guerra e vai levando sua boa vida de rapaz rico, sem nada com que se preocupar. Seus falecidos pais deixaram propriedades e terra suficiente para que ele jamais passasse qualquer necessidade.
Mas o caminho não foi tão suave para Katiucha. Sua filhinha não sobreviveu aos primeiros dias, ela nunca conseguia um trabalho decente, até que foi vista por uma mulher que vislumbrou um belo futuro para ela: a prostituição.
Passados 10 anos, Nekhliúdov é jurado num julgamento em que uma mulher era acusada de envenenar um homem, com participação de dois cúmplices.
Nekhliúdov mal pode acreditar no que via: a ré era sua amiga Katiucha. Ela negava o crime, alegando que a vítima era um cliente e que ela pensava que estava dando a ele um remédio para dormir.
Ele é tomado por enorme sentimento de culpa, pois tem certeza de que sua atitude irresponsável no passado, quando aquela jovem ingênua acreditou nele, foi o primeiro passo que empurrou Katiucha para a prostituição e tudo de ruim que aconteceu depois.
A partir daí ele começa a mudar seu modo de ser. Decide que deve fazer de tudo para ajudá-la aproveitando-se do bom relacionamento que tem com pessoas influentes, quem sabe até mesmo anular o julgamento.
O nome do livro dá uma ideia do enredo: Nekhliúdov passa por um processo de Ressurreição, de mudanças no modo de viver a vida.
O livro é muito bom, com vários personagens muito interessantes e muitos deles inspirados em pessoas que Tolstói conheceu. O protagonista tem alguns traços do autor e a jovem Katiucha foi baseada numa empregada da família por quem o autor se apaixonou.
O romance faz também uma crítica ao sistema judiciário e prisional, e analisa friamente os privilégios das classes dominantes, das relações de trabalho, da questão da propriedade e outros temas que ainda são atuais. O jovem Nekhliúdov descobre novas realidades totalmente diferentes daquela a que estava habituado. E isso o modifica para sempre.
Na Rússia, o romance começou a ser publicado em fascículos, em março de 1899, na revista Niva.
Tolstói abriu mão de seus direitos autorais em favor da comunidade dukhobóri, um grupo de cristãos que se recusava a jurar lealdade ao czar, negavam o direito à propriedade, não aceitavam a Igreja e a Bíblia como única fonte de revelação, recusavam-se a ter documentos e servir o exército.
Os dukhobóri foram perseguidos, e deportados por dois czares para regiões remotas da Rússia. Durante o reinado de Nicolau II, foram aceitos pelo governo do Canadá para onde migraram e sobrevivem até hoje.
“As pessoas são como rios: a água é a mesma para todos e é igual em toda parte, mas cada rio é ora estreito, ora rápido, ora largo, ora calmo, ora limpo, ora frio, ora turvo, ora morno. Assim também são as pessoas...”
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Letícia 30/12/2020

Quem tem o poder de julgar?
Cada vez mais admirada pelo autor e pela tamanha capacidade dele fazer o leitor compreender a ideia que está sendo dita, sem precisar concordar ou discordar, a questão é justamente PENSAR. Liev Tolstói nos mostra de forma muito clara a realidade da justiça criminal por volta de 1880 na Rússia - época em que as tensões sociais ganharam muita força - e por outro lado a hipocrisia da igreja institucionalizada.

? Que horror! Não se sabe o que é maior aqui: a crueldade ou o absurdo. Mas parece que tanto uma coisa como a outra alcançaram o último grau.?

A forma como a Igreja e o sistema carcerário funcionam e - nessa época - possuem uma união gigantesca, é assustador. Os presos são obrigados a irem à igreja, só que naquela instituição os valores pregados não são os mesmos que os de Deus, mas a violência, os maus-tratos, a negação da humanidade e o total desprezo com os detentos é empregado sob justificativa de que aquilo é castigo e é assim que tiram o fardo de serem cruéis.

? O diretor do presídio era um homem de tão boa índole que não conseguiria de forma alguma viver assim, se não encontrasse amparo naquela crença.?
Douglas 18/06/2021minha estante
Ótima resenha ?




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