Ana Elisa Dotta Maddalozzo 14/02/2021Resenha Elogio da LoucuraVocê já se imaginou lendo um livro escrito sob o ponto de vista da loucura? Essa é a premissa inédita explorada pelo teólogo e filósofo Erasmo de Rotterdam em 1509.
Essa obra renascentista traz um autoelogio da loucura, que arma-se de cinismo e sátira para explicar como é indispensável a uma sociedade. O autor nos mostra que sua protagonista pode ser dividida em dois grupos distintos:
Loucura boa: aquela que gera uma doce ilusão capaz de libertar o espírito de suas árduas preocupações, levando o indivíduo a apreciar a vida em plenitude e com disposição. Além disso, ela é responsável por sermos capazes de amar alguém apesar de seus defeitos; traduz-se como uma cegueira necessária a todos aqueles que convivem em um meio social. O tempero da loucura ameniza o definhamento da vivacidade e nos permite arriscar.
Loucura má: é aqui que Erasmo destila sua crítica contra a nobreza e a igreja. Como exemplo dessa categoria, temos os homens que vão à guerra, mesmo sabendo que cada um dos lados sempre colhe desvantagens e prejuízos; ou as histórias mentirosas e infundadas, como aquelas propagadas por clérigos a respeito de falsos milagres, a fim de manipular as massas e prover benefícios próprios. Além disso, essa loucura está presente em quem, ao pagar o dízimo, acredita estar eximido de uma vida repleta de perjúrios, bebedeiras, assassinatos e traições.
Essa leitura foi bastante reflexiva e serviu como fonte de informação para diversas práticas deploráveis que ocorriam na época, que poucos autores possuíam a coragem de denunciar. Ademais, somos instigados a pensar sobre a “loucura boa”, que nos é essencial para termos uma jornada mais leve e feliz. Esse livro, embora escrito há séculos, continua mostrando-se extremamente atual em seus ensinamentos e em suas censuras.
“Dois obstáculos principais impedem o sucesso nos negócios: a hesitação que perturba a clareza de espírito e o medo que mostra o perigo e impede a ação. A Loucura livra-se deles com a maior facilidade, mas são poucos os que compreendem a imensa vantagem que há em jamais hesitar e a tudo ousar.”