Mih 08/04/2020
Intelectualmente Vazia
Livro: Para Sempre Alice
Autor:Lisa Genova
Apesar da angústia e tristeza do tema a narrativa e escrita é encantadora, sutil, envolvente, extremamente agradável. Apesar de conter alguns termos técnicos, graças a Lisa Genova que conduz com maestria fantástica fazendo com que a leitura flua de maneira clara, sem dificuldade, assim ela consegue trazer muita informação sem deixar a leitura enfadonha.
"Como posso me perder na minha própria casa" (Pág. 145)
Os capítulos são dispostos por meio de fases datadas, entre um capitulo e outro decorre um certo tempo. A intensão aqui é mostrar o avanço do mal de Alzheimer de instalação precoce. Alice com apenas 50 anos de idade começa a dar sinais de pequenos esquecimentos que avança para quadros maiores como lapsos de espaço geográfico, se perde em percursos que era parte de sua rotina.
As lacunas de esquecimento começa a chamar sua atenção, ela levanta algumas hipóteses de prováveis diagnósticos, foram muitos exames até chegar ao diagnóstico preciso e mais algum tempo para a aceita-lo.
Alice e seu esposo John, pais de três filhos adultos. Um casal respeitado no meio
acadêmico e científico. Uma mulher forte, inteligente, professora de prestígio, que
ocupa a cadeira de psicologia e linguística em Harvard, tida como um cérebro afiadíssimo agora tem que reaprender um novo modelo de vida.
"Conversavam sobre Alice como se ela não estivesse sentada na poltrona, a poucos metros de distância. Falavam dela, em sua presença, como se ela fosse surda. Falavam dela, na sua frente, sem inclui-la, como se ela sofresse de mal de Alzheimer" (Pag. 211)
A trama não tem como objetivo apenas retratar as fases em que a doença vai avançando, mas a dificuldade de aceitação e resistência de familiares e amigos. A rotina da família é alterada, pois Alice agora precisa de cuidados especiais.
Mostrando também a necessidade que o individuo tem de se relacionar, interagir e sentir parte de algo. Assim como o beneficio de grupos de apoio, não só para familiares, mas também para os acometidos pela doença, grupos onde há interação com pessoas que sofrem da mesma doença.
"Teve vontade de dizer que se orgulhava dela. Mas, nesse dia, seus pensamentos
moviam-se devagar do cérebro até a boca, como se tivessem que nadar quilômetros no
lodo negro de um rio antes de chegar à tona para se fazerem ouvir, e a maioria se
afogavam em algum ponto do trajeto." (Pag. 212)
A dificuldade de admitir e enfrentar a realidade de que está tendo uma baixa
rápida considerável e iminente do seu intelecto, fica evidente no tempo que ela leva para se afastar de suas atividades, a corrida que ela trava para conseguir aproveitar o máximo da lucidez que está se esvaindo.
"Emocionalmente cansado e intelectualmente vazia" (Pag. 229)
Me apaixonei pelo livro, e certamente indicaria pela riqueza de reflexões. Ele nos faz pensar sobre o quanto do nosso tempo desperdiçamos em busca do nosso desenvolvimento profissional e da corrida em busca do “ter”. E nos faz refletir sobre como nos voltamos para o que realmente é fundamental quando percebemos que nos aproximamos da linha de chegada.
Todos sabemos que somos instantes, que nosso tempo é breve, mas temos a falsa impressão que podemos controlar algo, que teremos no futuro um tempo onde poderemos curtir a nossa família, amigos, mas o livro com a personagem de Alice nos faz perceber que não temos controle nem garantias, a vida é vivida no dia a dia.
Para mim trata-se de amor, fraternidade, compreensão...
"Sinto falta de fazer tudo com facilidade. Sinto falta de fazer parte do que
acontece. Sinto falta de sentir desejada. Tenho saudade da minha vida e da minha
família" (Pag. 271
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