Isabele240 14/05/2021Parabéns, eu odieiO conceito desse livro/filme sempre me atraiu muito. Uma sátira que critica o capitalismo, o consumismo e o vazio existencial que vem ao atender as expectativas alheias.
Mas a execução não me pegou. Vamos por partes.
Meu deus, a REPETIÇÃO...
Eu lembro de pegar esse livro pela primeira vez e dar boas gargalhadas com as descrições das roupas alheias e da marca de todas as coisas. A quantidade de tempo que Patrick dedicava a coisas supérfluas como quantos abdominais ele podia fazer por minuto ou sua rotina de skincare.
A maior parte dos capítulos segue um mesmo padrão com Pat em algum lugar caro, reparando nas roupas dos conhecidos até que algo que o irrita acontece e esse ciclo se reinicia. Eventualmente ele vai resenhar a carreira de algum artista pra você.
E isso se estende de forma excruciante até mais da metade do livro e apesar de entender que a ideia é expor o leitor ao tédio absoluto que é a vida do Patrick, lá pela página 200 eu já estava exausta dessa dinâmica.
Quanto aos personagens:
Existem muitos nomes nesse livro, mas "personagens" é uma palavra forte. Tudo que vemos é através da perspectiva de Patrick e como ele despreza todo mundo é difícil conhecer alguém além do olhar narcisista dele.
Uma das coisas que gostei muito foi a dinâmica de ninguém saber quem é quem. Patrick se confunde e é confundido o tempo todo com outra pessoa. Achei um comentário interessante sobre padrões e aparência. MAS... por conta dessa brincadeira não sobra muito espaço pra ver Patrick interagindo por muito tempo com alguém que ele não esteja torturando/assassinando. Senti falta dessas interações, porque nesses momentos ele acaba deixando escapar sua estranheza e seu desespero.
(Também achei os diálogos muito confusos, a falta de textura que vem com o estilo de escrita do autor deixou a interpretação das conversas um pouco mais difícil pra mim).
Quanto a violência e a pornografia...
Imagine a cena mais gráfica que puder e não vai estar nem perto do que é esse livro.
Não vou me alongar sobre a pornografia: é só pornô barato sendo descrito de um jeito beeeem cru. E a violência vem logo depois, então o único efeito é te deixar com medo de sexo.
Em ambos os casos, não são cenas realistas. Apesar de BEE conseguir causar choque e desgosto com muita facilidade.
As cenas de tortura mais longas e detalhadas são com mulheres. Envolvem ratos, furadeiras, armas de pregos e até mesmo canibalismo.
São cenas caricatas demais pra serem críveis, mas violentas demais pra serem engraçadas e no fim acabam sendo apenas mau gosto e imaginação cruel.
A maioria das falas e atos violentos são direcionados a minorias e vem de repente, fazendo você oscilar entre o tédio e o desgosto.
Agora, sobre a narrativa (ou a falta de):
Esse não é um livro linear, não há uma dinâmica de ato e consequência. Pat dificilmente lida com os crimes que comete.
Também fica implícito que ele já matava e torturava quando estava na faculdade, então quando ele comete seu primeiro crime violento não há impacto, já que pra ele mesmo não se trata de grande coisa.
Existe essa qualidade caricata da violência que faz você se perguntar se ele realmente fez tudo que descreveu e o livro nunca é conclusivo quanto a isso.
Pat e seu mundo passam inalterados por todo o livro, não há consequência pra nada e apesar disso possivelmente ser proposital, acaba sendo frustrante pois dá a sensação de que NADA aconteceu.
CONCLUSÃO:
Vi muita gente falando como esse livro carrega uma genialidade, esse remédio amargo que você deve suportar pra ter a recompensa. O conceito de tudo é realmente incrível, mas ao mesmo tempo, aprender como o capitalismo funciona ou não funciona, aprender como atender as expectativas alheias pode fazer você se perder de si, aprender que a sociedade se baseia em mentiras e aparências e aprender sobre vazio existencial... me parecem coisas que todos aprendemos sozinhos (e até mesmo bem jovens) só por estarmos vivos em um mundo capitalista.
Existe essa ilusão de que BEE transcendeu o comportamento social e está tentando te iluminar com a verdade.
Mas pessoalmente, a sensação que ficou foi a de um experimento, como se o autor tivesse escrito um diário da sua pior versão e depois adicionado algumas cenas de tortura. Ele escreveu uma história sobre nada sem personagem nenhum, usou capitalismo pra justificar esse vazio e as pessoas acreditaram e colocaram novos significados nessa não-história.
Quando penso nesse livro, não consigo evitar as palavras "preguiçoso" e "pretencioso" rondando minha cabeça.
Mas então, o que eu esperava?
O desconforto em si não é um problema pra mim, desde que eu sinta que algo está sendo dito. Aprendi muito com livros como Lolita e Uma Vida Pequena. Mas ao fim de Psicopata Americano tudo que senti foi que perdi meu tempo e que torturei a mim mesma com essa leitura. Parecia que nada havia acontecido no livro apesar de tanto ter acontecido.
Por volta da página 300, Patrick tem um breve lapso de humanidade antes de voltar a ser violento. Um pouco mais tarde lemos o diálogo que abre o filme em que ele fala sobre ser vazio. Essas foram partes em que realmente me senti interessada. Percebi que o que eu queria ver era Patrick enlouquecendo e não já sendo louco, queria poder empatizar com ele, sentir que esse vazio existencial era algo que poderia acontecer comigo se eu estivesse em seu lugar.
Mas não consegui, ainda que com aquela vida entediante e rasa, ainda que a violência não seja real.
É como ler o diário de alguém que você detesta. Não chega em lugar nenhum e não há nada pior pra mim que violência pela violência. Se vai me deixar desconfortável nesse nível preciso de algo melhor que "o capitalismo é ruim".