Carolina 28/03/2014O Livro Branco é uma coleção de "19 contos inspirados em músicas dos Beatles + bonus track" organizada por Henrique Rodrigues. Encontrei esse livro por acaso e fiquei com muita vontade de ler, não só porque o disco branco sem nome (mais conhecido como The White Album) é um dos discos mais famosos da banda, mas também porque é um dos meus favoritos. E é literatura brasileira! Comprei para presentear o maior fã de Beatles que eu conheço, mas acabei ficando com o livro para mim. Ele ficou parado na minha estante por mais de duas semanas, até que, numa tarde chuvosa de sexta-feira, eu resolvi colocá-lo na frente das minhas leituras acadêmicas.
Li os vinte "contos" (explico as aspas daqui a pouco) no tempo que daria para ouvir o álbum duas vezes. A leitura já valeu por isso: adoro devorar livros só para lembrar que consigo. A equipe de autores brasileiros que compõem a obra conta com vários mestres e doutores em literatura, autores com várias obras publicadas, jornalistas famosos e gente que entende muito mais de música (e Beatles) do que eu poderia sonhar. Mesmo assim, embora seja um livro bom e uma leitura bem agradável, não acho seja uma obra literária brilhante. Talvez isso seja um problema de arte contemporânea - não vou entrar no mérito.
Os autores parecem ter interpretado a ideia de "se inspirar" em músicas dos Beatles de maneiras bem diferentes, em níveis bem diferentes. Algumas narrativas (vou chamá-las assim, genericamente, só por achar que nem todas se encaixam no gênero conto) são guiadas pelas letras de canções específicas, outras são inspiradas por títulos, algumas são mais uma homenagem à banda, sem muita especificidade. Bem, inspiração é inspiração. E há narrativas para todos os gostos: fragmentadas, psicodélicas, meio militantes ou pura e agradavelmente prosaicas.
Para não me prolongar muito, vou apenas selecionar as minhas "faixas" favoritas, em um top five.
5 - O barbeiro e o besouro, da Ana Paula Maia, me pegou pelo desfecho inesperado que me deixou boquiaberta. Também pela referência óbvia a um personagem que eu amo. Não posso falar mais para não entregar a história.
4 - Revolução no Grajaú, do Fernando Molica, me cativou porque me pareceu a história de amor mais sincera da coleção. Qualquer semelhança com a minha vida pode ser ou não coincidência.
3 - Carta de são Paulo ao apóstolo João, do Felipe Pena, é muito sagaz no diálogo com o texto bíblico e me fez rir de verdade. Admito que é meio rude, mas isso nunca foi problema para mim.
2 - While My Guitar Gently Weeps, da Marcia Tiburi, tem uma relação íntima com a música, mas também traz um enredo inovador e emocionante.
1 - 1986, do André de Leones, tem um enredo que incomoda e comove na mesma medida. Gostei dele por tudo: pela escrita, pelas perguntas não respondidas, pela tensão e, principalmente, por como o conto se relaciona com a música escolhida. É o tipo de conto que eu amo ler.
Não posso deixar de mencionar a "bonus track" escrita pelo Nelson Motta, entitulada Meu Beatle Favorito. É um depoimento cheio de nostalgia e verdade de alguém que pôde ver os fab four em toda a sua glória. Fechou perfeitamente a coletânea.
O livro não mudou a minha vida e não tem a mesma força que a música dos Beatles, mas, mesmo assim, fica a sugestão da leitura para quem ama a banda e acha que música e literatura têm tudo a ver.