joaoggur 19/07/2024
Como diria Proudhon, - a anarquia é a ordem.
Uma resenha que merece um título de apelo histórico: afinal, há quem nunca ouvira falar de V de Vingança, mas com certeza já vira a máscara do protagonista, em algum protesto ou manifestação. Os autores podem dormir com essa consciência, - fizeram algo que entrou para história.
A Inglaterra vive uma ditadura a lá Orwell/Huxley/Bradbury: os livros são proibidos; o poder é supostamente partido entre entidades estatais (de codinomes como ?Nariz, ?Olho??); há câmeras instaladas em todos os pontos possíveis (me lembra uma tal de ?teletela?, não?), - até que, após a explosão do parlamento, revela-se que há um terrorista, de codinome ?V?, que usando uma máscara do rosto de Guy Fawkes, começa a fazer uma serie de atentados. Concomitantemente, ele salva uma prostituta novata (Evey), e a leva para seu esconderijo (Galeria das Sombras).
A importância desta história em quadrinhos é superior ao caráter de sua influência; temos de levar em conta que fora lançada entre 1982 e 1983, há mais de quarenta anos, numa época em que a chamada ?nona arte? era associada a histórias infantis e a tramas pueris. Alan Moore e David Lloyd quebraram tal barreira; fizeram uma história adulta, com uma trama de difícil entendimento, abusando das sub-tramas e com uma linguagem (por mais que teatral) rebuscada.
A partir de V de Vingança, houve a abertura para se considerar fazer histórias d?um caráter um pouco mais profundo por meio desta mídia, - não podemos esquecer que o mesmo roterista deste volume escreveu duas edições que acho fenomenais: ?Do Inferno? e ?A Piada Mortal?, esta última que considero a primeira história ?dark? do Batman.
Ademais, não posso ignorar o caráter (se me permitem o neologismo) metalinguístico da obra: a história abunda em citações, que variam de obras teatrais (das clássicas até as modernas), livros, músicas, alusões históricas (como a presente no título desta resenha). Um prato cheio para apreciadores da cultura inglesa.
A influência de V de Vingança reverbera até os dias atuais, - talvez, pois, na iminência da ascensão de tantos governos autoritários, não é a obra que está atual, mas sejamos nós que estamos, gradualmente, regredindo.