Fabio 05/07/2013
Um interessante relato de um dos muitos casos de repressões e prisões por ocasião do golpe de 64. Seixas Dória, governador de Sergipe na época, procura esclarecer a atuação política e ideológica que o levaram à prisão. Entre outras coisas ressalta que não era sequer simpatizante do comunismo, mas por apoiar as reformas de João Goulart foi preso sem acusações, conforme o título do livro. O prefácio de Nelson Hungria, ministro do STF até 1961 exemplifica bem o conteúdo do livro e as contradições daquele governo:
"O que está acontecendo com o dr. João de Seixas Dória é deveras singular. Por sua moderação no apoio que prestava à ação governamental do ex-presidente João Goulart, passara despercebido ao Comando Supremo da Revolução, que não lhe cassou o mandato de governador de Sergipe, nem lhe suspendeu os direitos políticos. Ficara incólume à dizimação pela morte civil. No entanto, contra ele voltou-se, encarniçada e prepotente, a ação policial de autoridades militares do Nordeste. Caiu-lhe em cima, com a mão de ferro, a 'linha dura' do IV exército Arbitrariamente preso, a 2 de abril, no Palácio do Governo em Aracaju, degredaram-no para Fernando de Noronha, ao mesmo tempo que coagiam a Assembléia Legislativa sergipana, num espetáculo de ilegalidade, a destituí-lo de seu mandato de governador.
Pela sua pregação na defesa de um sadio nacionalismo e do ideal de um melhor tipo de vida para a gente do campo, naquelas regiões nordestinas que deus esqueceu, identificaram-no como temível inimigo do Estado, cuja liberdade poderia pôr em risco a solidez da nova ordem das coisas. O homem que fazia suas arengas de apóstolo, não em clandestinos contunbérnios, mas em tribunas erguidas na praça pública, a pleitear reformas que constituem ponto alto do programa do próprio atual governo da república, foi considerado como um perigoso 'conspirador' metido na trama de um 'golpe de Estado', sob inspiração estrangeira, para mudar o nosso regime político-social"