Toni 25/09/2018
Este livro é um denso romance-tese construído em torno de um dos principais temas da obra de Agamben, de que "o estado de exceção política entre nós é a regra". Desse modo, o livro de Teixeira Coelho está dividido em cinco partes que destrincham à exaustão diferentes manifestações do estado de exceção ao longo da história, tendo por foco (1) o monumento a Walter Benjamim em Portbou, (2) a censura a uma exposição de arte na Argentina, (3) a ditadura brasileira (e a incapacidade — que o autor chama de impossibilidade — de distinguir governos de esquerda e de direita), (4) a ditadura do pensamento e da linguagem e, por fim, (5) um capítulo em que o autor explica como sua obra deve ser lida (uma tentativa embaraçosa de metaficção que atrapalha a fruição da obra com um pedantismo rançoso disfarçado de ironia). Por exemplo, a insistência em marcar a falta de estilo da obra quando marcas de estilo transbordam, inclusive uma mania de se referir ao Brasil como "o país Brasil", cacoete que fazia saltar minha veia da testa a cada página. Muito bem escrito e provocador, o romance, ainda que completamente desprovido de qualquer linha narrativa que prenda nosso interesse, denúncia as marcas civis do estado de exceção e consegue imprimir, não obstante, sua principal pergunta no leitor: Por que ninguém parece importar-se mais?
.
GRIFO: Hoje as pessoas passam diante do prédio do DOPS que agora abriga arte e eu passo diante do prédio do DOPS, onde se torturavam e humilhavam e aniquilavam as pessoas, como se ali não tivesse acontecido nada, e como não há um gesto especial a fazer quando se passa diante de uma casa de arte e como se julga que não há um gesto especial a fazer quando se passa diante de um lugar onde se torturavam pessoas, tudo se transforma num magma informe na memória. Na memória. P. 219