Dois irmãos

Dois irmãos Milton Hatoum




Resenhas - Dois Irmãos


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IvaldoRocha 14/07/2016

Um belo romance digno de um Prêmio Jabuti, não por acaso.
Professor de literatura francesa da Universidade Federal da Amazônia e professor visitante de literatura brasileira da Universidade de Berkeley, Milton Hatoum é um escritor que chama a atenção.

Seu primeiro livro “Relato de um Certo Oriente” recebeu o prêmio Jabuti em 1990, o segundo livro “Dois Irmãos” recebeu o prêmio Jabuti em 2001 e o terceiro “Cinzas do Norte” o prêmio Jabuti em 2006. Depois que soube disso, me vi quase obrigado a ler alguma dessas obras, afinal ou é muita coincidência ou autor é muito bom.
Acreditem ele é muito bom.

Uma história cheia de personagens fortes, como os gêmeos Yaqub e Omar, o pai Halin perdidamente apaixonado pela mulher Zana, a mãe que vive pelos filhos mas tem em Omar, o caçula dos gêmeos o seu preferido, talvez por ter nascido mais fraco e quase ter morrido após o parto. Além de Rânia, a irmã caçula, bonita e apaixonada pelos irmãos e Domingas, índia que é a empregada da casa e seu filho, “o filho da empregada”, cujo nome só aparece uma vez, é o narrador da história e busca descobrir a identidade de seu pai.

Tendo como cenário uma Manaus após o seu apogeu, a cidade se torna quase que um outro personagem. É um organismo vivo que assim como o casarão e a família, apresenta o seu declínio, após um período de grandiosidade e riqueza.

A narrativa tem um ritmo agradável e a história, que embora narre os relacionamentos problemáticos de uma família em declínio, ou seja, nada de novo, o faz de uma maneira fora do lugar comum, de um jeito inusitado e sutil. Você se surpreende com os acontecimentos e revelações inusitadas.

Embora em um plano secundário a crítica à situação política do país nos anos 60 e 70 não deixa de aparecer. O golpe de 1964 chega em Manaus com seus desmandos e prisões aleatórias e sem legitimidade.
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Elaine.Freire 20/05/2016

Dois Irmãos, de Milton Hatoum – autor vencedor do Prêmio Jabuti de 1990 (obrigada, Mariza, pela lembrança!) , conta a história de uma família na qual dois irmãos gêmeos idênticos – Yaqub e Omar – são rivais, ilustrando oposição de personalidade e de comportamento. Zana, a mãe, superprotege Omar, o Caçula entre os dois, que teve a saúde frágil quando bebê. Yaqub, por sua vez, é criado por Domingas, a empregada doméstica. Na casa também moram Halim, o pai, Rânia, a filha mais nova do casal, e o narrador do livro, filho de Domingas.(...)

Yaqub é a criança calada, medrosa, que se destaca nos estudos e se torna um grande profissional. Omar, ao contrário, tem coragem de subir alto nas árvores, geme de dor, faz barulho e extravasa seus sentimentos por meio da violência. O primeiro passa cinco anos da adolescência no Líbano, volta para casa, e vai, definitivamente, embora para longe; o outro, na sombra do irmão e sob a saia da mãe, vive na zona de conforto, sem estudar ou trabalhar. Rânia, boa filha e irmã, é ainda muito boa comerciante, no entanto, sua vida é marcada pela reclusão social.

LEIA A RESENHA COMPLETA: http://livrosquelibertam.com.br/2016/04/30/resenha-livro-dois-irmaos/

site: http://livrosquelibertam.com.br/2016/04/30/resenha-livro-dois-irmaos/
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Fran 05/05/2016

Uma família disfuncional em uma narrativa fascinante!
Dois Irmãos relata a história de uma família disfuncional descendentes de libaneses e ambientada em Manaus. Acompanhamos essa família desde sua origem, seus conflitos e ressentimentos. Tem como pano de fundo uma parte da história do Brasil em uma crítica sutil ao regime militar e também nos aproxima da cultura manaura nos fazendo sentir estrangeiros em nosso próprio país.

Narra a trajetória dos irmãos gêmeos Yaqub e Omar e o ódio surgido entre os dois desde muito cedo. E se isso por acaso te faz recordar alguma novela de gêmeo bom e mau esqueça, essa história é muito mais complexa e nos traz diversas nuances. Por mais que em alguns momentos iniciais do livro o leitor possa tender para o lado de algum personagem, logo percebemos que ambos tem seus erros e acertos e que ninguém ali é inocente.

Temos um narrador muito próximo a família e que observa todos os acontecimentos que marcam a vida deles. Trata-se de uma narrativa que por muitas vezes é cruel e incomoda, mas que também, em certos momentos, consegue ser tão terna e delicada que nos leva a emoção. Os personagens são ricamente desenvolvidos, eles são palpáveis e a complexidade dos seus sentimentos e ações nos enreda. O leitor compra essa realidade.

O ritmo do texto é perfeito e envolve o leitor. Hatoum consegue te prender desde o primeiro parágrafo tornando as relações cotidianas muito interessantes. Talvez por conseguir expor tão bem uma cultura e experiências que são tão próximas ao autor pelo fato de que ele também descende de libaneses e é manaura.

Há também no livro uma crítica social muito interessante, ao menos eu a compreendi assim, quando fala dos indígenas e se percebe sua escravização e exploração. Em diversos trechos do livro o autor nos chama a realidade dessa questão e se você for um leitor curioso basta uma pequena pesquisa para perceber que estas questões não mudaram muito. Esse livro relata um período antes e durante o regime militar e percebemos o quanto essa questão permanece atual.

Outro ponto que me marcou foi ter a oportunidade de conhecer uma cultura que para mim é completamente estranha. E preparem-se para desfazer estereótipos, pois o que temos aqui nesse livro, além de elementos já propagados e esperados da cultura amazonense, é a efervescência urbana de Manaus e como a cidade é vibrante e ativa. Como ela viveu períodos conturbados de nossa história. Mais um livro para minha lista de livros para entender o Brasil.

O autor nos envolve nessa saga familiar tão profunda e emocionante. Ele nos provoca sensações: asco, ternura, revolta e compaixão. Uma escrita tão rica e bem desenvolvida e que explica tão bem por que Milton Hatoum é conhecido por ser um dos melhores escritores vivos em nosso país. Tenho certeza que sua obra vai se perpetrar como clássica de nossa literatura e seus livros serão estudados. Ele já se tornou um dos meus autores preferidos.

Milton Assi Hatoum nasceu em Manaus é escritor, tradutor e professor. Ensinou literatura na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e na Universidade da Califórnia em Berkeley. Escreveu quatro romances: Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos, Cinzas do Norte, Órfãos do Eldorado, além do livro de contos A Cidade Ilhada.
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Nat 02/04/2016

the treta never ends
Ganhador do prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance, dois irmãos conta a saga dessa família disfuncional onde o ódio entre os gêmeos Yaqub e Omar delineou todos os demais relacionamentos: a mãe Zana que dá mais atenção a um do que o outro, o marido Halim que se sente deixado de lado, a filha Rânia que se reusa a namorar e casar, a empregada Domingas que fica grávida e ninguém se interessa em saber quem é o pai da criança, e esse filho que vai crescendo e vira o narrador da história.
Coisas que achei interessantes no livro: a narrativa ocorre em Manaus, lugar pouco explorado na nossa literatura, no período de 1910 a 1960, mostrando seu crescimento e um pouco da Ditadura Militar; o livro não é linear, ou seja, a história vai e vem, do passado muito antigo para um passado mais recente e depois volta mais um pouco o que normalmente me deixa confusa, mas nesse caso não; a escrita do Hatoum é muito interessante; a história dos imigrantes libaneses, porque normalmente lemos sobre portugueses ou alemães; a história do professora Laval.
O que não gostei: toda essa atmosfera de ódio, onde você leitor é sempre levado a esperar pelo pior, mas esse pior nunca vem (imaginava que efetivamente um mataria o outro); as ações de Yaqub contra o irmão, para mim, eram totalmente previsíveis e esperadas, condizentes com toda a personalidade dele traçada ao longo da narrativa; senti falta do aprofundamento ou da finalização de algumas histórias, como o que realmente aconteceu com Yaqub nos seus anos de Líbano e quem era a pessoa por quem Rânia se apaixonou; falta de ação na história, que credito a forma como Nael narra.
Acredito que não gostei tanto da história mais pela história em si, todo esse ódio, que acaba criando uma repulsa no leitor, do que a escrita do Milton Hatoum em si, que é fluida e envolvente. Acho que essa aversão ao tema é uma genialidade do autor, afinal ele conseguiu me fazer sentir algo muito forte pela sua história. Dei três estrelas.
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Thiago 01/04/2016

Livro: Dois Irmãos
Autor: Milton Hatoum
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 266

Eu tenho certa fascinação por sagas familiares. Me intriga a forma como o tempo passa para as pessoas, como elas mudam, amadurecem, melhoram, amam, amargam, alegram, entristecem, choram, odeiam, acreditam, esperam... envelhecem. Mais do que o tempo para maturar ideias e sentimentos, os atos têm igual ou maior importância. Eles podem aplacar ou agravar tanto o ódio quanto o amor.
É exatamente sobre isto que Milton Hatoum escreve neste livro. Não é um realismo fantástico, como em Cem Anos de Solidão de García Márquez, onde os nomes se repetem, mas os erros não. Aqui são os mesmos nomes que repetem os mesmos erros. Esta é a saga de uma família dividida entre o ódio e o amor, a paz e a guerra. Há tempo para redenção e arrependimento, mas nada muda o já está escrito. O que resta aos dois irmãos e sua família é manter a chama da esperança, junto à resignação diante do destino já traçado.
Uma leitura inebriante. Com frases tão belas para momentos de pura pequenez, Milton dá uma aula de narrativa. A história desta família, apesar de aparentemente corriqueira, é tecida com esmero, e vai ficar por muito tempo na memória.
Que venha a HQ e a série de TV.
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Fabio 02/03/2016

Dois Irmãos
"Dois irmãos" é a história dos gêmeos Omar e Yaqub, inimigos em um conflito constante que marca suas vidas e a de todos à sua volta. Porém não é apenas um livro sobre esta rivalidade, espécie de interpretação livre e contemporânea da história de Caim e Abel. Há de fato a intertextualidade com o relato bíblico: irmãos que recebem atenção diferenciada por parte da mãe desde o nascimento, tal como o deus que prefere Abel, deixando Caim enciumado e propenso à vingança. Neste paralelo Abel seria Omar, o filho preferido pela mãe, escolhido para ficar na casa quando começam os conflitos entre ambos na adolescência. Yaqub é Caim, o renegado, enviado para longe de casa como solução dos problemas, fechado para sempre em sua rejeição. Ao se tornarem adultos se mantém opostos, um escolhe a disciplina exagerada, o outro transforma a vida em uma festa onde todos pagam a conta. Mas Hatoum vai além, transformando lentamente os gêmeos, alternando qualidades e defeitos, distintos porém devastadores, nas personalidades que construiu completamente opostas, a ponto de não se reconhecerem em absolutamente nada além da aparência física que os une - esta também rompida por Omar ao deixar uma cicatriz no rosto de Yaqub. Assim como Caim, Yaqub se vinga, mas é Omar, tão ou mais responsável pela destruição da própria família, quem sofre a pena final de ser um fugitivo vagando sem rumo pelo mundo. Yaqub, apartado da casa e da vida que deveriam ter sido suas, refaz a vida distante, não sendo capaz de perdoar o irmão e atender o último pedido da mãe. Também Omar nunca pede perdão pelas vidas que destruiu.

Mas "Dois irmãos" não é apenas sobre estas vidas divididas que deixaram seu rastro de guerra sobre toda a família. É também um livro sobre imigrantes libaneses, Halim e Zana, pais dos gêmeos e de Rana. Sobre como chegaram e viveram, construindo do outro lado do mundo um pedaço da sua terra, ressignificando o mundo tropical com suas tradições, comendo peixe frito com Arak, mesclando o português com o árabe, se apegando a objetos que lembram o que ficou no Líbano, enfim, todas as pequenas e grandes coisas que não se localizam geograficamente senão pela ação dos deslocadas. Zana é a mãe superprotetora de Omar, que deixa a criação de Yaqub a cargo de Domingas, a índia que serve a família numa quase escravidão. A matriarca zela por três coisas em sua vida: sua casa, a memória do pai, e seu filho Omar. Sacrificará todo o resto para manter estas três coisas intocadas e próximas de si, mas acaba por abrir mão até das duas primeiras para satisfazer o filho. Halim é o pai que nunca quis ter filhos. Um imigrante simples que desejava ganhar apenas o suficiente para passar a vida em um amor erótico com a esposa, jogando e bebendo com os seus. Abriu um comércio onde recebia mais amigos que clientes, assim era feliz. Porém os filhos mudaram tudo, os gêmeos tiraram-lhe a paz com Zana, abalando para sempre o amor carnal que tanto os fazia feliz; Rana, a filha mais nova, acaba por tomar conta dos negócios do pai e transforma sua pequena venda de bugigangas em uma grande loja, saem os amigos e entram os clientes, uma apaixonada pelos negócios e astuta na arte de lucrar. Halim vai se retirando de cena na própria casa, virando um recluso na própria vida. Na loja fica apenas com uma salinha de onde olha a rua, lembrando e esquecendo de si, culpando os filhos pela vida que teve.

Domingas, inicialmente uma personagem secundária, vai crescendo na trama e se torna peça chave no enredo. É uma índia que ao se tornar órfã foi entregue a um orfanato católico, onde aprendeu a rezar e trabalhar. Seu sonho revoltado contra a instituição é o desejo de um novo destino, que acaba sendo a casa da família. Ali seu martírio continua, ainda sem liberdade, rezando e servindo dia e noite, acordando madrugadas seguidas para cuidar de Omar depois de suas bebedeiras. É também a mãe do narrador, Nael, filho de um estupro ou de um amor proibido tolerado em segredo na casa. Nael, o narrador, é outro caso à parte. Temos, em meio a tanta intensidade, uma narração que ao mesmo tempo pode observar tudo e ainda está imersa na história, tem seus próprios sentimentos e conclusões. Ele é um dos explorados, uma das vítimas da casa, e isso torna a narrativa ainda mais pessoal, repleta de inconformismo e dúvida.

Difícil ser conciso ao escrever sobre um livro com tantas reflexões possíveis, mas para terminar ressalto ainda dois pontos que circulam e constroem a história: Manaus, a cidade que ao longo da trama vai deixando de ser provinciana, simples e próxima, para se tornar uma metrópole capitalista, impessoal, com grandes obras, mudança no fluxo de trabalho, demolições, e esta é uma segunda perda para os imigrantes mais velhos, especialmente Halim, como se tivesse novamente se deslocado; o outro é o estabelecimento da ditadura militar na cidade, os saraus clandestinos, a prisão do professor de literatura, sua morte, a revolta e a impotência diante da opressão, o único aspecto capaz de aproximar alguns personagens.

Das muitas formas de se compreender o mundo através de uma história familiar, Hatoum criou uma das mais interessantes possíveis.

site: http://lovelessknife.blogspot.com.br/2016/03/resenha-milton-hatoum-dois-irmaos.html
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Rafaela 20/02/2016

A historia é sobre dois irmaos gemeos Yaqub e Omar e como esta relaçao cheia de rivalidade e inveja vai transformando sua familia. Omar, o Caçula foi um bebê doente e sua mae dedicou tanta atençao e carinho so para ele, que cresce com a necessidade de ser sempre o foco da familia, dos vizinhos jogando uma sombra no irmao.
Yaqub é enviado sozinho para o Libano e quando retorna seus pais tem esperança em uma reconciliação mas no decorrer do livro fica claro que é quase impossivel. O livro é narrado por um personagem que esta a margem dessa familia, é incrivel suas observaçoes, como ele vai crescendo com o passar dos anos e vai dando pistas de como a relação dessas pessoas é estranha, doentia mesmo.
A historia se passa em Manaus e a escrita do autor chega a ser musical quando ele descreve a cidade, os cheiros e as pessoas. Os personagens sao complexos, vão se revelando aos poucos e mesmo os secundarios como a empregada Domingas recebe pinceladas proprias, Milton Hatoum é um grande escritor.
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avdantas 21/01/2016

Imagine quantas histórias sobre irmãos que se odeiam você já leu/ouviu/conheceu na sua vida. Foi o que pensei sobre este livro. Mas desde o começo, eu dei um crédito imenso ao autor. Já havia lido um livro de Milton Hatoum antes, chamado “Relato de um certo oriente”. Ouvi falar do autor ainda na faculdade, com muito entusiasmo. O que posso dizer, agora, das narrativas de Hatoum é: exóticas. Primeiro, porque se passam no norte do país, no Amazonas, tendo Manaus como pano de fundo, a floresta, a mistura do português com outras línguas nativas e não nativas. Segundo, porque a maioria das personagens de Hatoum são imigrantes ou descendentes de imigrantes libaneses. A mistura de duas culturas, uma nacional e outra internacional, porém ambas desconhecidas minhas, tornaram as narrativas muito, muito excitantes.
“Dois irmãos” é considerado pela crítica especializada um dos melhores romances brasileiros da atualidade. É um livro que supera expectativas, mas vou arriscar o motivo: Hatoum não subestima seus leitores. A história, apesar de ter como “gancho” principal a relação conflituosa entre os irmãos Omar e Yaqub, não gira só ao redor desses dois personagens. Na verdade, a história é centrada muito mais na influência que a relação desses dois personagens ocasiona nos outros integrantes da família: Halim, o pai; Zana, a mãe; Rânia, a irmã e Domingas, a agregada e empregada da família e seu filho. Começa com o fato de que a história é apresentada por um narrador em primeira pessoa que só se “mostra” (se dá a conhecer de fato) depois de decorridas cinquenta páginas do relato e de toda a história ter iniciado. Sabemos, então, que quem narra é o filho de Domingas (só saberemos seu nome muito tempo depois, contado de uma forma extremamente honesta, sem parecer uma obrigação narrativa).
Os irmãos, gêmeos, se odeiam desde a infância, pois tinham personalidades muito divergentes. Tudo se agrava quando ambos se interessam pela mesma menina e Yaqub consegue beijá-la em uma festa no porão da vizinha. Omar, meio enciumado meio humilhado (é assim que o narrador faz parecer de fato) rasga o rosto de Yaqub. A família sente medo da relação dos irmãos e resolve mandar Yaqub para morar com a família numa aldeia no Líbano. Sim, parece absurdo exilar um filho assim só por medo da relação dele com o irmão, mas lhe adianto que este livro é composto de uma série de escolhas péssimas por parte dos pais dos gêmeos. A mãe, Zana, não permite que Omar vá também, pois tem medo que ele se machuque, alegando que o filho é muito frágil. A partir daí, a superproteção de Zana com Omar leva as coisas a níveis muito ruins.
Quando Yaqub volta, anos depois, ele e o irmão já são estranhos e o ódio que sentem é mutuamente cultivado. Muitos conflitos acontecem ao longo da narrativa que inflamam essa relação. Aí vem um grande diferencial da narrativa: não existe um gêmeo bom e um gêmeo ruim. Os dois têm personalidades muito diferentes: Omar é abusivo, fanfarrão, malicioso; Yaqub é orgulhoso, não mede esforços para conseguir o que quer e não tem medo de abandonar todos. Ao longo da narrativa a família sente pena de um ou de outro, sem entender propriamente quem é culpado de que na história dos irmãos; o leitor é levado junto, ora simpatiza com Yaqub, ora com Omar.
O fim da narrativa é trágico, mas não porque aconteceu algo trágico necessariamente. Esta é uma história familiar, extremamente sedutora, porque pode ser real. A profundidade dada às personagens faz com que o leitor se familiarize com cada uma delas. Desde o distanciamento da família que Yaqub almeja à atitude extremamente passiva e condescendente de Zana com Omar.
Além disso, Hatoum cria uma trama temporal muito bem desenvolvida, mesclando casos particulares da família com a situação histórica de quando a narrativa acontece (fim da segunda guerra mundial e início da ditadura militar brasileira). Apesar disso, esse cenário político não é trabalhado de forma exagerada. Existem momentos, inclusive, que é possível esquecer da influência da ditadura militar, já que ela quase nunca é enunciada pelo narrador, o que, para mim, demonstra a incrível capacidade que Hatoum tem de criar personagens verossímeis.
Por fim, eu ressalto o cuidado com os pormenores da narrativa que Hatoum demonstra. Hoje em dia, na era das sagas literárias e da necessidade de colocar no mercado um livro por ano, ler um livro realizado com cuidado é algo refrescante, quase orgástico, mesmo. (Não estou criticando as sagas literárias. Eu mesmo sou um grande fã de sagas).

Um livro incrível e envolvente.


site: http://cheirodesombra.blogspot.com.br/
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Andressa 01/12/2015

Espetacular!
Me senti transportada para Manaus. Também me senti como se fosse estrangeira em meu próprio país, pois não conhecia 1/3 das descrições que o autor fazia, mas mesmo assim, me senti abraçada pelos aromas, rios, barcos, flora... Uma narrativa completamente descritiva, que dificulta um pouco a imersão na história a princípio, mas quando você começa a se acostumar, não consegue mais largar! Que livro, minha gente. Que livro! Sem contar o enredo, que parece clichê, mas no fundo é a realidade de muitas famílias. Quantas mães não mimam mais um filho do que outro? Passam a mão na cabeça do mais problemático enquanto o outro se sente culpado por ser certinho? Vale muito a pena ler Milton Hatoum, ainda mais que este livro virará série de TV. Largue tudo o que estiver fazendo e vá ler este livro.
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Eric 22/11/2015

Vencedor do premio Jabuti e consagrado pelos críticos, Dois Irmãos irá narrar a trajetória de Omar e Yaqub, irmãos gêmeos em que as únicas semelhanças que possuem são as aparências e o ódio entre eles. Em um cenário de imigração e industrialização, Milton Hatoum mostra em como boas famílias se direcionam para um abismo sem fim de tristeza, ódio e tragédias.

Halim é um imigrante libanês que vem ao Brasil por melhores condições de vida. Aqui ele conhece Zana, também de descendência libanesa, com quem se casa. Halim nunca quis ter filhos, mas após a morte do pai de Zana, a esposa fica depressiva e o casamento caminha para o declínio. O surgimento de filhos seria propicio naquele momento para restauração da felicidade do casal, visto isso eles decidem ter filhos, e assim nasce os gêmeos e Rânia.
Criados de forma distintas, Omar sempre foi o mais paparicado pela mãe. Cresceu um garoto mimado, sempre submisso a mãe e um verdadeiro vadio. Já Yaqub era um garoto mais independente, focado nos estudos e almejava crescer na vida, e dessa forma quando atingiu uma certa idade, ele recebeu proposta de estudos em São Paulo e resolveu partir em busca do seu sucesso.
O ódio entre os gêmeos se originou por um caso na adolescência. Este ocorrido desencadeou uma briga violenta entre os irmãos e levando a separação dos gêmeos. Yaqub é mandado embora pro Líbano e lá fica uns anos, quando volta ele se vê deslocado dentro da família, e foi questão de poucos dias para que o eterno ódio entre gêmeos se restabelecessem
Além disso, teremos a empregada Domingas e seu filho que é o narrador dessa balburdia toda. A partir dos desabafos de Halim e do que presencia, o narrador vai nos contando o que se passa nessa família tão desunida.

Milton Hatoum vai estabelecer uma metáfora de dualidade nesta obra, uma vez que ele acredita que um imigrante sofre um tipo de dualidade do lar, da pátria. Com isso teremos Omar representando o jeito boêmio do brasileiro e Yaqub um jeito mais centrado dos libaneses. E a partir dessa analise, podemos ver um choque de culturas representadas pelos gêmeos e as consequências dessas desavenças que é a destruição familiar.

A expansão comercial, o processo migratório e o desenvolvimento industrial no Norte é fortemente retratado no livro. É tão bem construido e concreto que o autor possibilita uma viagem quase palpável na historia da Amazônia. O choque cultural entre imigrantes e brasileiros é um dos aspectos mais interessantes no livro, podemos ter um conhecimento maior entre o quanto é benigno ou maligno o entrosamento de culturas diferentes.

A escrita do autor é maravilhosa, possui riqueza nos textos e isso é fortalecido com a presença de termos da propícios da região amazônica. Por mais que possa dificultar o entendimentos em alguns momentos, esses termos acabam dando uma qualidade mais consistente para obra.

Recomendo muito este livro, pois é um retrato muito crível de uma realidade pouco discutida. Dois irmãos é um drama familiar de qualidade, carregado de brigas, traição, romance e amor descontrolado.
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Alexandra 13/10/2015

A vingança, o tempo e a destruição
“Dois Irmãos” é considerado por muitos o melhor romance brasileiro dos últimos anos. A trajetória da rivalidade entre irmãos gêmeos que destrói a própria família é contada juntamente com a história de Manaus, o cenário do livro.

O preâmbulo inicial da obra fala da morte da mãe dos irmãos, Zana, que em seus últimos momentos ainda espera que os filhos Yaqub e Omar se reconciliem. Nessa cena, já percebemos que o narrador é alguém que faz parte deste núcleo familiar, mas não sabemos exatamente quem é. Isso se esclarece alguns poucos capítulos depois, embora o nome deste narrador só seja revelado perto do fim da história, como se, por meio deste livro, este personagem pudesse encontrar a sua identidade, buscando suas origens e algum entendimento de onde ele se situa nessa ordem social.

É pelos olhos desse narrador que criamos a nossa visão dos personagens, a partir do que ele viveu e do que lhe foi dito por outras pessoas. Fica claro que ele tem a preferência por um dos irmãos, apesar de ao longo da história perceber que nenhum deles é verdadeiramente bom. Na verdade, a grande maioria dos personagens tem muitos defeitos e as únicas verdadeiras vítimas dessa situação são o próprio narrador e a indígena Domingas, empregada da família.

Apesar dos irmãos serem o ponto central da trama, os demais personagens também têm suas trajetórias contadas. Por meio de uma narrativa não-linear, conhecemos os pais Zana e Halim, sendo que ele nunca quis ter filhos, mas concordou em tê-los para que a esposa fosse feliz. Halim até se acostumou com o filho Yaqub e com a filha Rânia, mas se tornou arqui-inimigo de Omar, que era mimado pela mãe. Aliás, a relação entre eles toma ares quase edipianos, e a aproximação entre Omar e Rânia também parece por vezes incestuosa. Os laços que unem essa família são claramente conflitantes e obsessivos, como se estivessem sempre próximos da destruição. Isso tudo reforçado pelas intensas brigas entre Yaqub e Omar, cheios de inveja, ciúmes e ódio um pelo outro. Nesta família, nunca houve espaço para o perdão.

Curiosamente, é possível comparar a obra com outro clássico brasileiro: “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis. Na obra machadiana, os irmãos Pedro e Paulo vivem em conflito, sendo que um representa o Brasil Monarquista e o outro, o Brasil Republicano. Já em “Dois Irmãos”, um personagem representa o Brasil que busca um progresso desenfreado e o outro, o Brasil rebelde embora condizente com a manutenção das elites. Os dois lados acabam demonstrando crueldade e brutalidade, por isso o livro, em um horizonte utópico, deposita sua fé em uma terceira via.

O linguajar característico de Manaus chama a atenção e reforça a atmosfera da história. Eu, pessoalmente, nunca soube muito sobre a região norte do país, mas a escrita de Milton Hatoum me fez imaginar este lugar de tal forma que me senti próxima daquilo. Não sabia da existência da Cidade Flutuante de Manaus, nem mesmo da mistura tão grande de etnias e de culturas, mas fiquei encantada e curiosa com o cenário da obra. Percebe-se que o escritor é apaixonado por este ambiente e tem um grande desejo de apresentá-lo ao leitor.

Passando pela decadência do ciclo da borracha até os efeitos da Ditadura Militar, esta é a história de uma região específica do Brasil que, ao mesmo tempo, é a história de todo o Brasil. Um país que se destrói e se reconstrói com a esperança em uma nova geração.

“Mas as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, acenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. E o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras.”
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GilbertoOrtegaJr 31/05/2015

Dois Irmãos- Milton Hatoum
Há dois pontos muito comuns, e por isso mesmo já batidos, em histórias sobre gêmeos, o primeiro é a ideia de que um sempre complementará o outro, e o segundo é de que só pode existir irmãos gêmeos em um livro se eles se odiarem. Tudo que é escrito sobre gêmeos usando estes dois conceitos tem uma grande tendência a ser datado e já debatido, mas mesmo assim estes são dois elementos existentes em Dois Irmãos, segundo livro do escritor amazonense Milton Hatoum, e nem por isso se transformam em defeitos desta obra.

O livro conta a história dos gêmeos Yaqub e Osmar, na Amazônia, durante o regime militar brasileiro, mas não somente deles e sim de toda a família da qual eles fazem parte, uma família composta por Halim, um descendente de libaneses, e sua mulher Zana, Na mesma casa moram Domingas, a empregada e mãe do narrador da trama, e a filha mais nova de Zana e Salim, Rânia. A história da família dos gêmeos vai se entrelaçando de forma lenta e sedutora com as descrições da cidade, e do momento histórico pelo qual o Brasil passa. Ao mesmo tempo em que vão crescendo os gêmeos vão desenvolvendo uma relação tumultuada marcada pelo ódio e por disputas; primeiro o amor da mãe, depois a mesma mulher, e correndo em paralelo com estas disputas e busca por sua própria identidade, longe das sombras paternas e maternas.

A propósito não são somente os gêmeos que estão em busca de construir a sua identidade, este é um elemento em comum na busca de todos os que fazem parte da trama de Dois Irmãos, o narrador busca saber qual dos dois gêmeos é seu pai, Halim busca preservar a sua ligação com sua terra natal, Domingas a índia que trabalha de empregada na casa sente saudades da sua terra, Yaqub se sente deslocado em sua casa, e Omar sente a necessidade de viver uma vida sua sem a sombra sufocante da mãe.

E se falarmos de Zana ela não fica a dever em nada a nenhuma daquelas mães traumáticas da literatura, ela que sempre mimou Omar e o preferiu a Yaqub, defendo ele quando este só farreava e não se apegou aos estudos, sempre arranjando pretendentes a sua filha Rânia. Mas nem Omar seu filhos mais querido escapou dela, ela não o deixava se casar ou viver com mulher alguma e nem mesmo se afastar de casa ou de sua figura materna.

Ao contrário dos outros dois livros que li do autor (Cinzas do Norte, e A Cidade Ilhada) não achei que este livro tem um clima nebuloso, pelo contrário Hatoum conta a história com uma incrível nitidez, sendo capaz de evocar detalhes e paisagens da cidade de Manaus, de sua geografia, além de captar de forma exata o clima histórico da época, criando assim uma trama épica que fervilha de tensões, afinal todos ali são rivais em algum momento, filho contra pai, mãe contra possíveis noras, filha contra mãe, empregados contra patrões.

Como eu disse o livro merece inúmeros elogios pois além de ser uma trama viciante o autor soube dosar bem tudo o que existe dentro do livro, pesquisa histórica, dramas familiares, construções dos personagens, tudo isso narrado de forma lírica e envolvente criando um grande equilíbrio, sem que com isso o livro seja contido ou racional demais, pelo contrário é neste belo livro que vemos as emoções humanas em suas formas mais puras, amor, ódio, ambição, inveja, e por ai vai criando assim, um clássico da literatura Brasileira atual.

site: https://lerateaexaustao.wordpress.com/2015/06/01/dois-irmaos-milton-hatoum/
Renata CCS 12/07/2015minha estante
Gostei da proposta desse livro. Vai para a lista de futuras aquisições!




Henrique 05/04/2015

resenha completa:
https://www.youtube.com/watch?v=t74-Pffdkt4

confiram! ;)
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