Lucas.Carneiro 23/01/2021
Jo Van Gogh-Bonger, viúva de Théo, costumava a guardas as cartas que eram trocadas entre os irmãos, e, se não me falha a memória, em 1914 elas foram publicadas pela Maatschappif Voor Goede, uma editora Holandesa.
Considero esse material recomendável para quem possui interesse em conhecer um pouco acerca da vida do pintor e sua relação com a arte. Existe também uma edição mais completa; trata-se da própria biografia do Vincent, publicada pela companhia das letras e de autoria do Steven Naifeh e Gregory White Smith, entretanto, não posso recomendar; visto que, ainda não fiz a leitura.
Destaco duas passagens que me deixaram bastante reflexivo, e, por um lado, até um pouco abatido:
1°)
"Desenhei até cinco vezes um camponês com uma enxada, um lavrador, em todos os tipos de atitude, duas vezes um semeador, duas vezes uma menina com uma vassoura. A seguir, uma mulher com uma touca branca, descascando batatas, e um pastor apoiado em seu bastão, e enfim um velho camponês doente, sentado numa cadeira perto do fogão, a cabeça entre as mãos e os cotovelos sobre os joelhos." (Vincent Van Gogh, Etten, Setembro de 1881.)
Nessa carta, o pintor retrata ao seu irmão, Théo, sobre algumas pinturas feitas enquanto estava em Haia, cidade holandesa.
Destaco a última arte, para mim, sem sombra de dúvidas, como uma das mais belas do artista!
O quadro de nome: Homem velho com a cabeça em suas mãos retrata um velho de aspecto doentio e solitário abstraído pelas suas dores.
Uma coisa que se torna perceptível com a leitura do livro "Cartas a Théo" é a forte influência que o pintor realista Francês Jean-François Millet tinha sobre as obras do Van Gogh (em especial, representações de camponeses).
2°)
"Enquanto isto sempre posso lhe contar que os dois últimos estudos são engraçados.
Telas de 30, uma cadeira de madeira e palha toda amarela, sobre lajotas vermelhas contra uma parede (durante o dia).
A seguir, a cadeira de Gauguin, vermelha e verde, efeito noturno, parede e assoalho também vermelho e verdes, sobre o assento dois romances e uma vela. Em tela fina com empasto grosso (563)."
Um trecho da carta do Vincent Van Gogh ao seu irmão, Théo Van Gogh, sobre algumas pinturas feitas durante período em que morou em Arles com o pintor impressionista Paul Gauguin (1848-1903)
Para mim, uma das cartas mais forte do livro é a do Gauguin descrevendo o episódio de ataque de locura do Vincent seguido pela automutilação:
" [...] Na cama Vincent Jazia, completamente envolto pelos lençóis, todo encolhido com os joelhos junto ao corpo: parecia inanimado. [...]
Imaginar essa acontecimento para mim foi um tanto quanto doloroso...A cada sentença lida, parecia que eu estava realmente vivendo esse momento assombroso, que também é descrito no filme "Loving Vincent". A cena do pintor na cama chorando e ferido é realmente forte, impossível um leitor ou um intérprete não ser tocado por esse ocorrido.
Saliento também que, uma dúvida me surgiu assim que terminei a leitura do material, e por isso, lanço uma provocação para aquele (a) que ler essa resenha: Vocês consideram a leitura dessa obra como um possível gatilho?