Jeniffer 11/02/2017O pagador de promessasMais uma obra de Dias Gomes que tive a grande oportunidade de ler, graças à editora Bertrand. Como citei na resenha de O Bem-Amado, a editora está relançando os livros de Gomes com uma nova diagramação, linda por sinal, e com isso traz a oportunidade de novos leitores se interessarem pelo teatro brasileiro tão bem escrito de Dias Gomes.
O Pagador de Promessas é sobre Zé-do-Burro, que ao pedir à Santa Bárbara ou Iansan que seu burro se salvasse de uma grave doença, agora tenta cumprir a promessa que se pôs à realizar, carregando uma cruz até ao santo altar da igreja de Santa Bárbara mais próxima. Essa igreja localiza-se em Salvador, onde termina de chegar junto com sua esposa. Os dois andaram por muito tempo, porém, ao explicar como se ocorreu a promessa de Zé-do-Burro à Iansan, que ele acredita ser a mesma que Santa Bárbara, o padre da referida igreja não o entende e o proíbe de adentrá-la pois, o pobre moço não fez promessa pra Santa católica e sim para um orixá do 'demônio'.
A grande problemática está instaurada e agora o desenrolar da trama se passa a partir daí. Os personagens são, novamente, alegorias de cidadãos da sociedade brasileira, seja ela do interior nordestino ou não. Dias Gomes sabe como construir um enredo que prenda ao leitor sobre o que irá acontecer com eles, como essa estória irá terminar e quais críticas ele traz em sua estória?!
As críticas são muitas. Desde a promessa mal sucedida, as contradições da igreja católica e as traições que ocorrem ao decorrer da trama. O preconceito, a traição, o oportunismo e a cegueira religiosa são os temas presentes nessa obra.
Zé do Burro ainda ao cumprir promessa, divide suas terras com pobres, além de carregar a cruz pesada por sete léguas e é completamente mal interpretado pelo jornalista que se interessa por sua história. Aliás, o pobre cumpridor de promessas é mal interpretado por todos, sem exceção. Porém, o personagem carrega a persistência dita do verdadeiro brasileiro, indivíduo carregado de fé e esperança, Zé se manifesta como todo cristão verdadeiro, pelo menos deveria, ser: obstinado à ser honesto não só com a santa, mas consigo mesmo.
A leitura dessa peça se faz não só prazerosa por uma escrita tão singular e tão própria brasileira, mas também pelas reflexões sociais que ela traz, assim como O Bem-Amado, Dias Gomes consegue maravilhosamente nos surpreender com uma estória de teor reflexivo sobre questões sociais tão bem elaborada.
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