escrivadocaos 24/05/2024
Burocracia para rala e rola
O livro começa muito bem, tem uma ambientação dark academy, contexto de aluna de mestrado e professor PHD, literatura clássica e muitas referências que tornam a leitura extremamente envolvente.
Logo de cara, existem vários problemas em potencial (ex amantes, perda de memória, passado sombrio e complicado, crimes, dinheiro, brigas de família e abandono parental) que me deixaram super animadas com a leitura.
Mas, a partir da página 200 o escritor esqueceu que ele tava escrevendo um livro e a história virou: prof. Emerson fazendo as maiores burradas do mundo e sendo escroto e Júlia extremamente passiva, apática e sem graça aceitando tudo sem brigar, sem dar um "apavoro", sem ameaçar o escrotão de abandono.
Os personagens perdem suas personalidades em prol do romance arrastado (veja bem NÃO É LENTO, NEM SLOW BURN, é ARRASTADO) que gira em torno de não fazer nada e ficar deitado na cama falando sobre a virgindade de Júlia e como eles se amam por quatro, cinco, seis capítulos seguidos. E depois isso repete um milhão de vezes.
Esse assunto da virgindade é repetido absolutamente TODA VEZ que o casal conversa. Tipo, foi muito legal saber na primeira, na segunda, na terceira vez. Mas, na quadragésima eu já estava BELEZA, SERÁ QUE PODEMOS TROCAR DE ASSUNTO PELO AMOR DE DEUS
Enfim, essa burocracia extremamente formal que o Gabriel desenvolve como procedimento para a primeira vez deles também foi bem cansativa porque a gente já tinha entendido na sexta ou sétima vez que ele disse "Júlia, esse não é o momento ideal".
Eu não ligo muito para hot, nem partes picantes, portanto ter achado a primeira vez dele levar páginas muito maçante pode ser uma opinião extremamente pessoal que o público desse livro discorde.
O livro é bom, mas ele fica muito decepcionante por causa da repetição infinita das mesas coisas e claro, a falta de personalidade de Júlia a partir da página 200. Ela não tem resistência, não exige respeito e perdoa os crimes mais hediondos de Gabriel com uma facilidade irritante. Muitas vezes eu só quis que ela zelasse por ela mesmo, pedisse que o Gabriel fosse respeitoso, digno, sei lá. Qualquer coisa. A única vez que levanta a voz, logo em seguida pede desculpas, sendo que ela nem estava errada.
Acaba que essa somatização de fatores deixa a leitura muito chata, cansativa. Torci muito contra a felicidade do casal porque juntos além de tóxicos, ficavam muito parados, sem fazer nada. SEM DAR UM PASSEIO NO SHOPPING QUE FOSSE