Paulo 14/11/2023
O amor abre-nos a possibilidade de redenção
Trata-se de uma tragédia dividida em duas partes. A primeira conta a descida de Fausto ao inferno.
Inspirado no Livro de Jó, no “Prólogo no céu” o diabo Mefistófeles combina com o “Altíssimo” de levar o Doutor Fausto para a senda do mal. Confiando no homem, o Altíssimo deixa Fausto por conta do diabo: “enquanto embaixo ele respira, nada te vedo nesse assunto; erra o homem enquanto a algo aspira.”
A primeira cena da peça, “Noite”, mostra-nos Fausto encerrado em seu gabinete de estudo, desesperado e angustiado por ter entregue sua vida aos mistérios do mundo, mas sem compreender absolutamente coisa alguma da vida concreta. De nada lhe valeu o estudo da teologia, jurisprudência, medicina e filosofia. Erudito, ele é o retrato do homem moderno, desorientado pelo laicismo e o ceticismo.
Logo na cena seguinte, “Diante da porta da cidade”, Fausto sente-se incapaz de viver a vida dos homens e inveja os simplórios camponeses. Fausto conhece o demônio Mefistófeles sob a forma de um cão negro.
As duas cenas que se seguem, ambas denominadas “quarto de trabalho”, trazem Fausto em profundo desespero e niilismo em face da condição humana, com pensamentos suicidas, e nessas condições ele firma com o diabo um pacto de sangue. Na verdade, fizeram uma espécie de aposta: cético, Fausto duvida que Mefistófeles seria capaz de fazê-lo se sentir saciado na Terra; se o demônio conseguisse, Fausto serviria-o após a morte.
Firmado o pacto, Fausto e Mefistófeles passam a gozar os prazeres terrenos pelo “pequeno mundo”. Inicialmente, frequentam uma taberna em Leipzig. Na sequência, Fausto bebe uma poção preparada na cozinha da bruxa e rejuvenesce cerca de 30 anos (ele tinha 60).
Na rua, Fausto se encontra com a jovem Margarida, pura e religiosa, e arde de desejo por ela. Pede ao diabo que o ajude a seduzí-la. Com a ajuda da vizinha Marta, Fausto seduz Margarida e a engravida.
O relacionamento com Fausto desgraça a vida da jovem: ela ministra à sua mãe uma poção que supostamente lhe faria dormir, mas que lhe ocasiona a morte. Depois, Fausto mata seu irmão Valentim. Na sequência, Margarida mata seu bebê afogando-o e é presa por infanticídio.
Na última cena, “Cárcere”, Mefistófeles enfeitiça o carcereiro e Fausto tenta libertar Margarida da prisão, mas ela recusa-se a fugir e é executada. Há uma voz divina, porém, que “salva” Margarida antes dela morrer.
Goethe escreveu sua obra prima baseado em relatos que circulavam na Europa sobre um nigromante que havia vendido sua alma ao diabo. Quis nos mostrar que o ser humano tem um lado negativo, diabólico, e que comete, inevitavelmente, erros enquanto viver. O amor, porém, abre-lhe a possibilidade de redenção. Ansioso para ler a segunda parte deste clássico .