de Paula 16/08/2021
Somos coisas aos olhos dos ricos?
Esse livro é incrível não só em sua escrita e história, mas principalmente nas discussões que suscita em 1848! A narrativa se dá em Paris, onde um jovem advogado recém formado se apaixona de forma ensandecida por uma cortesã de saúde frágil e juntos vivem uma das histórias de amor mais bonitas da literatura. Não quero me aprofundar porque acho um livro necessário e que representa o auge do romantismo em meio ao momento de revoluções e iluminismo que a França vivia. Isso é importante porque em meio as eras mais dramáticas da História as pessoas continuam vivendo.
A discussão mais forte gira em torno da cortesã, Margueriitte Gautier, que é uma jovem só em Paris e possui diversos amantes que bancam seus luxos de 100 mil francos ao ano em troca de seus serviços sexuais. E é só isso, ninguém a vê como pessoa, exceto o protagonista, que mesmo sem conhecê-la direito se preocupa e chora ao vê-la sucumbindo. O amor deles nasce da necessidade que ela tem de se sentir alguém e não o objeto de outros, até mesmo de seu benfeitor, um duque que a sustenta pela sua semelhança a filha morta dele.
Gosto do livro iniciar com o final do romance e levar o leitor a entender e amar a dama das camélias como o seu verdadeiro amor. A narração é feita por um terceiro que dá voz ao jovem apaixonado, que se encontra moribundo e após isso a cortesã. Em diversos momentos a história é tratada como apenas uma história de amor, o que é, mas para as pessoas daquela época e até hoje vem isso como capricho ou que uma mulher que trabalha com prostituição não merece nada além de desprezo e uma vida à margem da sociedade, além do desejo que pague pelos seus pecados, quando se tem alguém para culpar são os financiadores desse mercado, que monetizam e pagam para que pessoas na época e em pleno século XXI sejam escravizadas e traficadas para alimentar seus desejos carnais. Mesmo assim, a prostituta é a culpada de tudo e por isso desprezada, humilhada e impedida de viver como outra pessoa qualquer.
O preço do amor dos protagonistas, a dura realidade financeira, os sugadores de finanças e de alma que se dizem amigos, a vingança, os desejos mesquinhos e uma vida desregrada são temas encontrados na leitura e nos fazem pensar se as coisas mudaram tanto assim desde a publicação da obra, tal como a reflexão do valor e papel da mulher na sociedade, mesmo as que não são prostitutas (que é uma profissão escolhida por algumas mulheres hoje, mas ainda envolve muito machismo e misoginia, além dos crimes supracitados). Magnifico e eletrizante do início ao fim, vale muito a pena!