Lys Coimbra 06/07/2015Viva as criaturas do acaso!"[...] nós, criatura do acaso, temos desejos fantásticos e amores inconcebíveis".
Eu não gosto de spoiler, mas peço licença para praticá-lo. Ter o desfecho de um livro revelado desde o primeiro capítulo também não me agrada, mas "a dama das camélias" é diferente. Saber como tudo termina não faz com que todo o enredo perca a graça.
Quando Armand Duval, filho de uma família tradicional, embora sem grande fortuna, conta sobre sua paixão por Marguerite, a meretriz mais cobiçada de Paris, ele toca profundamente o coração dos leitores mais sensíveis.
Apesar de saber do destino fatal de sua amada, me peguei torcendo para que tudo desse certo e que, contrariando todas as expectativas, eles ficassem juntos e felizes.
Fui tocada pela força de um amor puro entre duas pessoas que há muito haviam perdido a inocência, mas que, apesar de tudo, amaram com todo o seu coração. Me sensibilizei pelo desnudar de sentimentos de dois seres humanos livres, e paradoxalmente escravos das convenções e do julgamento de uma sociedade conservadora e hipócrita, proibidos de viver a plenitude do seu amor por convenções sociais que a eles pouco importavam.
Saber que Alexandre Dumas Filho teve como inspiração de sua grande obra-prima a sua própria história de amor me deixou ainda mais tocada, mas também esclareceu o sentimento quase tangível que aflora daquelas páginas.
Talvez eu seja uma romântica incorrigível e, por isso, tenha sentido de forma tão intensa cada capítulo dessa obra. Talvez ainda hoje essas e tantas outras convenções nos acorrentem. E, pensando nisso, é inevitável me questionar quantas histórias de amor são abreviadas ou impedidas por desencontros, mal entendidos, diferenças de toda espécie e ditames sociais.