Tamirez | @resenhandosonhos 13/09/2018ExtraordinárioQuando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil. -R. J. Palacio
Esse é um daqueles livros que não interessa o seu gosto literário, sua história de vida, ou se você se atreve a não gostar de ler, você PRECISA em algum momento da sua vida ler o livro Extraordinário. Ele é a mais pura representação do amor e da simplicidade das coisas boas da vida.
Quando eu comecei a ver ele pipocar por ai, pensei que seria um livro bem infantil e bobo e estava imensamente enganada.
Extraordinário me ensinou muitas coisas e fez com que eu me lembrasse de uma porção de coisas importantes. Muitas vezes a gente tem consciência das coisas, mas acabamos, por algum motivo, deixando esse saber escondido em algum lugar da nossa mente. Esse livro faz com que acordemos, com que busquemos lá no fundo do nosso ser as muitas coisas boas que não praticamos por esquecimento. Os atos e pensamentos que são imensamente necessários e importantes na nossa vida.
— “Mais gentil que o necessário” — repetiu. — Que frase maravilhosa, não é? Mais gentil que o necessário. Porque não basta ser gentil. Devemos ser mais gentis do que precisamos. Adoro essa frase, essa ideia, porque ela me lembra que carregamos conosco, como seres humanos, não apenas a capacidade de ser gentil, mas a opção pela gentileza.
August Pullman, ou somente Auggie, nasceu com uma síndrome genética e, mesmo tendo sido submetido a várias cirurgias para corrigir, continua apresentando uma grave deformidade facial. Por isso, Auggie foi educado em casa, fugindo dos olhares e críticas alheias, porém, aos onze anos é chegada a hora de August ir para a escola e enfrentar o 5º ano.
Enquanto lia o livro tentava imaginar como ele seria fisicamente e chega a um ponto em que você desiste, principalmente após ele mesmo mandar você parar. A aparência física dele não importa. Auggie é uma representação literária de muitas pessoas que cruzam a nossa vida e são vitimas do preconceito e da falta de informação.
Talvez a única pessoa no mundo que percebe o quanto sou comum seja eu. Aliás, meu nome é August. Não vou descrever minha aparência. Não importa o que você esteja pensando, porque provavelmente é pior.
A autora, R.J. Palácio conseguiu construir uma narrativa atrativa e fluida. A história é contada em primeira pessoa não somente pelo Auggie, mas também da perspectiva de outras pessoas ao seu redor, como sua irmã Olivia e seus amigos da escola Jack e Summer. O livro é dividido em capítulos de momentos, não sendo uma história contínua e totalmente linear.
No decorrer das páginas vamos conhecendo como tudo começou e como vai ser a experiência de August na escola, nas dificuldades e preconceitos que ele passa, os muitos olhares assustados, a descrença e até o medo.
Para mim foi muito doloroso me deparar com certas situações. Fiquei pensando em quantas vezes no ônibus, quando entra alguém usando a linguagem de sinais, mesmo sendo algo tão corriqueiro, as pessoas ainda encaram, como se fosse algo anormal. No caso do personagem a situação é muito mais séria e a força de vontade e coragem apresentada por Auggie é realmente confortante. Ele é um menino muito especial, diferente, mas não da maneira feia como as pessoas o acusam. Auggie pode não ser o mais bonito dos meninos por fora, mas é deslumbrante por dentro.
Lendo esse livro lembrei-me de uma amiga muito querida que já não está mais entre nós. Ela era cadeirante e tinha uma doença nos ossos, que a impedia de crescer e mante-los forte. A Biba, como era chamada foi o meu exemplo de superação e bom humor.
Lembro de ter chegado em casa arrasada após o primeiro dia de aula da faculdade, pois não conhecia ninguém, tinha que viajar até outra cidade todos os dias, acordar super cedo e vivenciar coisas diferentes. Então, no segundo dia eu conheci ela e percebi o quanto eu estava sendo covarde. Quase que instantaneamente viramos amigas e foi assim durante os quatro anos que se seguiram. Toda vez que algo ruim acontecia comigo eu me lembrava dela, confiante e piadista, enfrentando um dia após o outros sem nunca perder o bom humor.
A Biba era uma pessoa tão boa e querida e acabou sendo levada embora por um erro médico em uma cirurgia que não tinha nada a ver com a situação de saúde dela. “Procedimento Padrão”. Se não me engano, ela se foi no dia 9 de janeiro de 2013. Parou de iluminar as nossas vidas e foi iluminar o céu. É claro que nem tudo foi fores na nossa amizade, como pessoas normais brigamos e nos desentendemos, mas jamais a tratei mal por causa da sua condição, muito pelo contrário, sempre que possível a tratava como uma igual, porque no fim das contas é isso que essas pessoas são, iguais a nós.
A situação dela é bem diferente da do personagem do livro, mas as coisas se conectam. Essas pessoas não são diferentes, elas são especiais. Esses dias me surpreendi, pois entrei em um blog que acompanho e descobri que a pessoa que escrevia o blog era uma cadeirante e logo após comentava não ter muitos amigos por causa disso. Fiquei triste e revoltada. As pessoas não deveriam ser assim, tão más, tão preconceituosas.
Ajudando a minha amiga no dia-a-dia, aprendi o quanto pode ser difícil viver assim. Você é sempre mais lento que os outros, precisa de ajuda para a maioria das coisas e as pessoas te olham feio o tempo todo, como se você fosse um fardo, um atraso. Lembro das viagens, onde o cuidado com ela era redobrado, e tudo acontecia muito lentamente; das incontáveis vezes que precisamos leva-la ao banheiro. Tudo isso serve pra me ajudar a seguir em frente e a ser mais gentil, como a autora cita em muitas vezes.
Eu tenho a sorte de ter todas as minhas condições em perfeito estado, e ainda assim vira e mexe eu preciso de ajuda com algo. Ponha-se no lugar de quem tem algum problema ou deficiência. Multiplique o seu desapontamento por 10 e talvez você sinta um pouquinho só de como eles se sentem.
Enfim, o livro é ótimo e merece uma espiada. Ele é super rápido de ler e é muito baratinho (menos de 20 reais – o meu comprei por 13 no Submarino). Li em menos de 3 horas, porque a leitura é muito leve e fluida, como ja mencionei. Também enchi os olhos de lágrimas algumas vezes durante o processo, mas isso faz parte, já que choramingo até tentando ver coordenadas em um mapa.
Ele saiu com duas capas, uma branca e uma azul, eu tenho o com a capa azul, mas gostaria de ter a branca, não curto essa onda que, depois de A Culpa é das Estrelas, começaram a por a mesma cor de capa em todos os livros, provavelmente para tentar manipular o leitor desenformado a adquirir o livro, achando que uma coisa tem a ver com a outra.
Pra terminar meus devaneios, você PRECISA LER esse livro. é o tipo de livro que todo mundo deveria ler e mais do que isso, absorver a mensagem que ele passa sobre aceitação e gentileza (:
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