Stella F.. 09/11/2020
Muitas vezes foi difícil a leitura, porque algumas poesias são mais fáceis e acho que compreendi, mas outras para mim foram herméticas por serem experimentações junto com a poesia concreta e haicais. Algumas, li em voz alta, porque sentia que alguns pedaços não tinham a ver com outros. Mas acho que foi o poeta fez de propósito, como se uma mesma poesia fosse feita de vários pedacinhos. Valeu a experiência porque ler poesia para mim é sempre um desafio.
Algumas tive um entendimento racional, acho que compreendi algo, e outras foram completamente ininteligíveis para mim. Algumas estranhei e por terem uma linguagem concreta ou muito inacessível, passaram quase que rapidamente sem grande engajamento de minha parte.
Cito uma da qual gostei bastante:
"O que passou, passou?
Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro de pronto,
lá se ia nosso defunto para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha. Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado, praga de velha e amor mal curado. [ ..]
Que mais podia um velho fazer nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos e virar fotografia?
Ninguém vivia para sempre,
Afinal a vida é um upa. [..]
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi ao vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento. [..]
Essa achei bem espirituosa, no meio de algumas bastante melancólicas ou exageradamente experimentais.