emmanuel_arankar 27/07/2023"Jesse Chesnutt" de Leonardo Faig
O selo Novos Talentos da Literatura Brasileira surgiu como uma iniciativa da renomada editora Novo Século. Seu principal objetivo é proporcionar uma plataforma para autores iniciantes que ainda não tiveram a chance de se estabelecer no competitivo mercado editorial. O processo de publicação por meio deste selo envolve uma análise cuidadosa dos originais enviados pelos escritores. Aqueles que são selecionados têm a oportunidade de assinar um contrato de publicação, e a editora se compromete a imprimir uma tiragem inicial de, no mínimo, 1.500 exemplares, sendo que 500 deles são adquiridos pelo próprio autor.
Além de abrir portas para novos escritores, o Novos Talentos oferece suporte editorial e oportunidades de distribuição em livrarias de grande porte. A editora se envolve ativamente no processo de lançamento de cada livro, fornecendo serviços de divulgação e publicidade para ajudar a promover a obra. Adicionalmente, os autores recebem assistência no processo de edição, incluindo revisão e diagramação, para assegurar que seus trabalhos atinjam um alto padrão de qualidade.
Essa iniciativa se situa em uma interessante encruzilhada entre o modelo tradicional de publicação, no qual as editoras selecionam criteriosamente os títulos a serem lançados, e o crescente fenômeno da autopublicação. Isso oferece uma abordagem híbrida que permite que autores iniciantes encontrem um meio-termo entre o desafio de serem aceitos por editoras renomadas e a possibilidade de publicar por conta própria.
Não é raro encontrar os livros do selo Novos Talentos da Literatura Brasileira em livrarias virtuais, indicando que essas obras têm conseguido obter visibilidade no mercado, tornando-se disponíveis para um público mais amplo. Embora nem todos os livros publicados sob esse selo alcancem um sucesso extraordinário, a iniciativa é valiosa por fornecer um trampolim para novos autores e dar aos leitores a oportunidade de descobrir talentos emergentes.
Um exemplo desse esforço para dar visibilidade a autores iniciantes é "Jesse Chesnutt e o Mistério do Planeta T12", escrito por Leonardo Faig. É importante observar que este é o segundo livro do autor, mas o primeiro a ser lançado oficialmente, visto que seu romance anterior permanece na gaveta. O enredo de "Jesse Chesnutt" faz parte de uma história serializada, projetada para se desdobrar em várias partes. Como frequentemente ocorre com a literatura de gênero, a trama é centrada em elementos de fantasia.
A história se desenrola em um espaço de tempo relativamente curto, começando com um evento específico em 20 de abril de 2012. Nesse dia, um vírus misterioso transforma os seres humanos em criaturas agressivas e aparentemente indestrutíveis. Jesse Chesnutt emerge como um dos poucos sobreviventes e embarca em uma jornada em busca de respostas para esse vírus devastador, que se revela mais sinistro do que inicialmente parece.
Embora a premissa seja cativante, a narrativa de "Jesse Chesnutt" carece de inovação. É perceptível que o autor incorporou várias influências em sua trama, muitas vezes fazendo homenagens diretas a elas. Esse processo de absorção de influências é comum para autores iniciantes, que muitas vezes buscam encontrar sua própria voz e estilo enquanto ainda exploram os gêneros literários.
O desenvolvimento da história é marcado por uma série de acontecimentos interligados, por vezes excessivamente repetitivos, que não conseguem criar a tensão adequada necessária para manter o leitor verdadeiramente engajado. Um elemento crucial da narrativa é a ação, que por vezes peca pela falta de originalidade e pela ausência de reviravoltas genuínas.
Um aspecto que merece atenção é a falta de intervenção firme por parte do editor. Em outros livros publicados pelo selo Novos Talentos, a qualidade da escrita foi contraposta com o papel do editor, que poderia ter evitado excessos e o uso de expressões clichês. Isso se aplica também a "Jesse Chesnutt", onde a falta de uma intervenção mais rigorosa resultou em expressões repetitivas e em uma narrativa que carece de uniformidade no ritmo e na construção das cenas de ação.
O final da obra traz uma reviravolta que insinua uma direção mais voltada para a ficção científica, deixando uma sensação de que parte do livro foi escrita com um propósito específico, enquanto a conclusão foi projetada para o desenvolvimento subsequente da trama em partes distintas. Essa transição pode criar expectativas entre os leitores que desejam explorar a continuação da história.
Em relação à escrita de Leonardo Faig, é evidente que ele ainda está em uma fase inicial de sua carreira de escritor. A leitura revela mudanças que requerem aprimoramento, apesar do entusiasmo louvável na narrativa dos eventos. Com o desenvolvimento subsequente da série, é provável que a escrita de Faig adquira mais maturidade, eliminando excessos desnecessários e focando mais no ritmo narrativo e na construção de uma trama coesa.
A edição do livro pela Novo Século é elogiável por sua capa bem trabalhada, o que demonstra um cuidado estético. Além disso, a inclusão de um marcador de páginas é um toque agradável que pode agradar aos leitores que valorizam detalhes especiais. Para quem se interessar pela obra, é relevante mencionar que os três primeiros capítulos estão disponíveis para leitura, oferecendo um vislumbre do enredo e do estilo de escrita de Leonardo Faig.
Em resumo, "Jesse Chesnutt e o Mistério do Planeta T12" representa uma obra que faz parte de um selo literário promissor, destinado a dar oportunidades a autores iniciantes no mercado editorial. Embora a premissa da história seja atraente e a narrativa ofereça elementos de fantasia e ficção científica, a execução deixa a desejar em alguns aspectos, como a construção dos personagens, a repetição de acontecimentos e a falta de uma intervenção mais firme por parte do editor. No entanto, é importante lembrar que a recepção de uma obra literária é, em última instância, uma experiência subjetiva, e o livro pode encontrar seu público e atrair leitores interessados em histórias de zumbis e ficção científica. Portanto, "Jesse Chesnutt e o Mistério do Planeta T12" é um exemplo de uma obra que pode ter apelo para alguns, embora deixe outros em busca de uma narrativa mais aprofundada e coesa.