Raquel Moritz 23/07/2013O livro de estreia açucarado de Beatriz CortesAcho que a frase que melhor combinaria com a capa do livro, para ser utilizada como chamada, seria “amar é encontrar uma coragem dentro de si que nem se sabia que existia”, encontrada lá pelas tantas no texto. A Luíza, a protagonista adolescente dessa história, passa por isso. Depois de uma grande e imensa decepção amorosa com um rapaz que ela amava, Luíza se fechou pra vida. Ela vive na sombra da dor, desconfiança e ressentimento do que aconteceu tempos atrás entre ela e o ex-namorado Lucas.
Daí entra um garoto novo no colégio, o Arthur. A Luíza nem troca uma palavra com ele e já sai falando mal do rapaz pras amigas. Numa tentativa de calar a garota, ele a puxa para dentro do almoxarifado e dá uma bronca nela. O zelador pega os dois na hora, pensa que aquele é o mais novo point do amor do colégio e manda os dois pra diretoria. Detenção para os dois. Mais tempo para ficarem juntos. Mais motivos pra Luíza ficar xingando a vida e o garoto que ela mal conhece.
Entre tapas e provocações, fica claro pra gente que o Arthur tá caidinho por ela e ela fica se fazendo. As amigas da Luíza já sacaram que tanto ódio assim só pode vir acompanhado de amor, e demora um pouco pra garota começar a enxergar Arthur de outra forma. Ela nega, se desvencilha da situação e das perguntas, mas sabe que lá no fundo tem algo surgindo. É sobre essa descoberta do amor e do poder que ele tem na vida de uma pessoa, que o livro trata.
O Outro Lado da Memória tem um conteúdo adolescente, tanto pelo cenário quanto pelas atitudes (a Luíza só briga com o Arthur, pega no pé dele e dizer que ele é idiota), muito embora as cicatrizes de Luíza sejam iguais a de gente grande (ela acredita que ninguém pode ajudá-la a superar o que ela passou e que a vida dela será uma derrota pra sempre, etc, etc). Em entrevista concedida a Editora Novo Século, a Beatriz comentou que a dor que a decepção causa é uma das piores e que um recomeço é sempre algo lindo. Isso também está aqui no texto.
Aliás, ponto positivo pra autora, que segurou a explicação do que aconteceu a Luiza até metade do livro, fazendo você querer avançar as páginas pra entender o que é que de tão ruim aconteceu com ela. Outro ponto positivo é a criatividade do Arthur em esquematizar as coisas pra mocinha. Acho ele um pote de açúcar da cabeça aos pés, mas ele é original nas coisas a que se propõe.
Durante toda a leitura, não consegui me identificar com a Luíza. Talvez porque eu e ela somos tão diferentes. Quer dizer, eu acredito no amor como resposta pra muita coisa. Mas no quesito de comportamento, não houve conexão.
-Sair xingando o Arthur já no começo da história, sem nem ter trocado uma palavra decente com ele, soou forçado aqui, sabe.
- Se eu conquistasse o coração do capitão do time de basquete, por quem sou apaixonada, eu não teria tanta vergonha ou medo do que os outros vão pensar.
- Se eu tentasse resolver algo com um ex-namorado que fez o que o Lucas fez, eu jamais faria no lugar que ela fez (daí não posso contar, é importante pra história).
- Mesmo que tenha servido como gancho pra história acontecer, é muito pouco provável que eu deixaria sair impune uma criatura que agiu da forma que o Lucas. Ainda mais considerando um detalhe que surge na última página do livro. Mas a autora acredita verdadeiramente que a felicidade não pode ser atingida por pessoas tão pequenas e que o perdão e a aceitação de alguns fatos te eleva. É nobre, mas é um detalhe injusto.
Como todo livro de estreia, O Outro Lado da Memória tem seus méritos e seus defeitos. Alguns recursos de pontuação e expressão são usados com tanta frequência que deixam o texto um pouco cansativo, e o excesso de diálogos faz com que a gente apenas ouça a história, e não participe realmente dela. Explico: na cena do primeiro beijo dos dois (isso não é spoiler, né gente, é um livro de romance), faltou descrever a sensação *daquele* beijo sabe, que te tira do chão e faz sentir que nada mais importa. As cenas se arrastam em detalhes que não importam, e pecam em detalhes que fariam a diferença.
Mas Beatriz Cortes deu a cara pra bater. O livro dela está aí, fala sobre amor e tem um mercado para explorar. Beatriz tem um futuro e tanto pela frente. A estudante de Psicologia, nascida em 1994, tem uma fé inabalável em Deus e no amor (algo que fica bem explícito no texto) e este é o seu livro de estreia.
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http://pipocamusical.com.br/2013/07/05/resenha-livro-o-outro-lado-da-memoria-beatriz-cortes/