Renata CCS 12/03/2013AS BRUMAS DE AVALON nos prende do começo ao fim, demonstrando que as mulheres são muito mais que uma mera platéia no desenvolvimento da história.Particularmente prefiro escrever a resenha da série, ou seja, dos 4 livros, uma vez que a ligação entre eles é muito grande, tanto que foi lançada em apenas um volume nos Estados Unidos.
AS BRUMAS DE AVALON é uma obra narrada (escrita e descrita) por mulheres que fazem parte da saga do rei Artur, mas que permaneceram nos bastidores até esta nova versão surgir. É uma nova perspectiva da lenda, onde a espada Excalibur foi dada de presente a Arthur, e não estava presa em uma pedra, Merlin não é uma pessoa, mas um título dos druidas para os magos e Morgana, a meia-irmã de Arthur, não era uma perversa feiticeira. Outros detalhes foram modificados ou inseridos pela escritora e, em minha opinião, apenas deixaram a lenda mais interessante. O que mais me agradou foi o fato de Bradley mostrar mulheres fortes e determinadas, que deixaram de lado seus próprios desejos em prol de uma causa maior.
Durante toda a narrativa há um grande choque cultural e principalmente religioso. A luta entre o Cristianismo, que está se firmando na Bretanha e onde os homens são os únicos dotados de sabedoria para tomar decisões, é representado por Guinevere, e a antiga religião dos druidas, onde as mulheres são consideradas independentes e fortes, é representada por Morgana. Ambas usam da influencia do rei para proclamar a fé que cada uma acreditava ser a melhor.
O ápice da força feminina é demonstrada por Viviane, uma sacerdotisa de Avalon, e é a irmã mais velha de Igraine (mãe de Morgana e Arthur) e Morgause, e embora tenham o sangue real e druida de Avalon, vivem ambas no castelo com Gorlois, o cristão marido de Igraine. Igraine é uma mulher que vive em constante conflito a respeito de qual religião seguir, negando em diversos momentos ser adepta da religião de Avalon considerada pagã, porém nutre respeito pela deusa e, em alguns momentos segue a preceitos nada cristãos. Este conflito de interesses parece se estender a seus filhos: assim como o destino de Arthur, fruto do segundo casamento de Igraine, é tornar-se o futuro rei cristão, o de Morgana é ser uma sacerdotisa de Avalon, assim como sua tia Viviane.
Embora o foco principal seja nos personagens femininos, os homens também são bem construídos por Bradley, sentimos o que Arthur e Lancelot, por exemplo, querem nos passar, compartilhamos seus conflitos, suas fraquezas e seus pesares. Não são apresentados como figuras invencíveis, mas humanas, antes de tudo.
Gostei muito da visão de Bradley sobre a lenda do rei Arthur, mas não indico a saga aos leitores que procuram grandes batalhas ou guerras épicas, pois apesar de serem citadas, raramente são descritas. Indico a quem busca uma visão do ponto de vista feminino e a quem tem curiosidade em obter um relato mais humano e dramático da lenda. De todas as versões conhecidas, esta é, sem dúvida, a que me foi mais atraente. Marion Zimmer Bradley fez um ótimo trabalho que vale a pena ser conferido.