Erick 29/10/2014
A Senhora da Magia - As Brumas de Avalon - Livro 1 (sem spoilers)
A lenda do Rei Arthur é uma história solidamente presente na consciência coletiva de todos e na cultura pop. Quem nunca ouviu falar da lenda do jovem de coração puro, que não era valorizado por ninguém e que um dia retira a espada mágica da pedra, a espada que ninguém mais conseguiu retirar, o artefato que lhe garantiria o direito de ser rei da Bretanha. Não apenas uma bela e poderosa história mas como também uma grande metáfora para o potencial escondido em todos nós. (Devo admitir que meu conhecimento da lenda seja muito influenciado pela animação da Disney A Espada era a Lei). Discursões sobre a existência ou não de Arthur como uma figura histórica perpetuam até os dias de hoje.
Por estas razões quando encontramos um livro que propõe mostrar um dos lados dessa lenda prestamos atenção. Foi o caso da série de livros As Brumas de Avalon.
A história nos conta o mito do Grande Rei através das mulheres que o cercaram durante a sua vida. Iniciando alguns anos antes do nascimento de Arthur e mostrando os bastidores e as intrigas que cercaram a promessa do salvador que um dia nasceria e unificaria toda a Bretanha, não apenas a ilha-nação como também seus habitantes e as religiões lá presentes. Seguimos no primeiro livro até o momento que o jovem Arthur ascende ao poder.
O livro mistura fantasia e realidade, nos mostrando lugares e personagens mágicos como Avalon e a Senhora do Lago e as dificuldades da Bretanha do século VI, que lutava contras as invasões saxãs e toda a política que envolvia e definia a vida da nação.
A autora Marion Zimmer Bradley escreve bem e de forma fácil, tornado seu livro um verdadeiro page turner. Ela apresenta diversos conceitos e crenças de forma didática e fluida, sem cansar o leitor enquanto conta as regras de mundo unidas ao decorrer da trama, sem apresentar nada desnecessário. Talvez o tamanho de alguns capítulos incomode quem não gosta de parar no meio deles, porém nada que afetará sua leitura.
Os bastidores e plots que cercam a vida do Rei Arthur são extremamente interessantes e por vezes (se não todas às vezes) se tornam melhores que a própria lenda, o que coloca todo o mito do rei como uma sub-plot.
A autora nos apresenta todas as culturas da ilha britânica, principalmente através de suas religiões, sendo as duas principais o cristianismo, o culto a Deusa. Culturas estas com dogmas opostos que precisão do Grande Rei para unifica-las. Talvez a forma como a autora vilaniza o cristianismo possa incomodar alguns, porém não afeta a grandiosidade e potencial da trama.
O livro possui vários personagens marcantes e populares da lenda, como o próprio Arthur, o cavaleiro Lancelote e Merlin, estes são apresentados em uma grande releitura. Arthur não sendo tão lendário e heroico como conhecíamos, Lancelote tendo parentesco de sangue com quem não esperávamos e Merlin na verdade sendo o título da autoridade máxima do culto dos druidas. Mas sendo sincero, isso pouco importa, pois eles são meros personagens secundários em suas próprias lendas. As verdadeiras protagonistas do primeiro livro são as três narradoras a quem somos apresentados ao longo da leitura:
Igraine, a mãe de Arthur. A narração dela perpetua do começo do livro até sua metade, onde ela sofre e debate-se ao saber que está destinada a dar a luz ao Grande Rei profetizado. Uma personagem deveras forte que passa por grandes tormentos para encontrar o seu final feliz.
Morgana, a irmã de Arthur. Em minha opinião a melhor personagem de livro, talvez porque ela seja a que o leitor possa se identificar mais facilmente. É inteligente e jovem e narra certos pontos do livro em primeira pessoa, o facilita ainda mais a identificação. Embora seja a personagem com o maior número de qualidades (e mais meiga, me permitam dizer), Morgana representa o papel principalmente de orelha, a quem os olhos ela nos empresta para que através deles possamos conhecer melhor o seu mundo. Mas é uma grande promessa para os próximos livros, maior do que Arthur, posso dizer sem dúvidas.
Viviane, a Senhora do Lago. Talvez a que mais polarize opiniões, no final do livro você vai odiá-la ou amá-la. A grande engrenagem quem move toda a história, a peça fundamental. Mesmo tendo o menor tempo de narração, ela deixa uma impressão muito mais forte do que as outras duas personagens que destaquei. Provavelmente por fazer grandes aparições durante os pontos de vista de Igraine e Morgana. Viviane está sempre lá.
Um grande ponto positivo na narração dessas personagens é que cada uma delas são muito pessoais em suas formas de ser. De um jeito que temos uma impressão completamente diferente de cada um dos personagens dependendo de quem está narrando, ou das próprias narradoras. Exemplo: com os olhos de Igraine, eu admirei Viviane; com os olhos de Viviane eu a compreendi e a amei; com os olhos de Morgana eu odiei Viviane.
A tradução do livro é boa, mas a edição em si deixa um pouco a desejar. Principalmente no que se diz respeito as capas, que são as mesmas nas três sequências que seguem A Senhora da Magia. Isso pode confundir bastante.
Em conclusão o que quis dizer com toda essa resenha foi: vá até a livraria mais próxima e compre As Brumas de Avalon (adquirir pela internet também é permitido).
Uma grande experiência que sugiro a todos. Grande história. Grandes personagens. Grande narração. Grande tudo! Enfim, acho que todos entenderam meu ponto.
(Essa e outras resenhas podem ser encontradas no meu blog no link abaixo:)
site: http://discursoamador.blogspot.com.br/