Pedro 13/06/2014Desconstrução.“(…) uma das coisas que me impelem a escrever é o fato de ter a cabeça entulhada com todas as pequenas histórias que nunca lhe contei.” (Pág. 22)
Desde que me entendo como leitor (leitor voraz), desde a primeira vez que ouvi falar desse livro e até mesmo quando me ouvi pronunciando esse título, senti necessidade extrema de lê-lo. Nem precisei recorrer a sinopse para saber que se tratava de um livro com grande genialidade, soube por intuito, assim, de cara que ele iria me tocar. Bem, eu o li, e se querem saber: sim, é muito bem escrito.
O livro é nada mais do que um amontoado de cartas organizados cronologicamente, iniciando em 8 de novembro de 2000 e finalizado em 8 de abril do ano de 2001. Por meio dessas cartas conhecemos Eva Khatchadourian, a mulher responsável por escrever as já mencionadas cartas, dedicadas a seu querido marido Franklin.
Sendo uma mulher bem sucedida, dona de uma empresa de viagens e também escritora de guias de viagens, Eva não se imaginava mãe, só que por ironia, decide embarcar nessa nova experiência da maternidade com o seu marido típico americano Franklin. No entanto, ela não esperaria gerar uma criança tão fria e tão avessa as demais; um psicopata.
Suas cartas vão relatar o tempo que viveu ao lado do marido, partes das experiencias de viagens e a criação dos seus filhos (Kevin e Célia), analisando os pormenores do seu relacionamento com sua família na tentativa de procurar entender quais os verdadeiros motivos levaram seu filho a cometer as atrocidades que fez.
Kevin, desde que nasceu já se mostrou ser peculiar, e com o desabrochar da adolescência, isso foi ficando cada vez mais evidente. A princípio, podemos dizer que foi a criação que os pais deram que o tornou um jovem frio e calculista, mas Eva descreve cada detalhe de maneira magistral que fica difícil achar que o garoto tenha sido influenciado por uma má crianção. Tendo uma família rica, com direito a tudo do bom e do melhor, um jovem tem tendência a seguir uma vida de acordo com os limites da lei (há excessos, como é o caso) o que nos leva a crer que esse lado macabro já veio de nascença.
Precisamos Falar Sobre Kevin é um livro de grande sensibilidade. Temos uma mãe que lutou do seu jeito para melhorar o comportamento do filho, mas que não conseguiu sustentar sua família como deveria ser. Podemos até achar ela egoísta, mas em suma, notamos que ela abriu mão de muito em nome da família, e eu não acho isso nem um pouco egoísta.
Lionel Shriver me pegou de jeito com esse livro, em momentos fique esbabacado e me senti esbofeteado por sua escrita rebuscada e crua. Às vezes com palavras que não costumam está em meu vocabulário, mas que de forma alguma tirou o brilho da obra, pelo contrário, fez reluzir mais deixando a narrativa lindamente encantadora e com um desejo incessante de quero mais, tanto é que ao findar o livro, já senti a necessidade de o reler.
O livro nos mostrar o quão pode ser difícil lidar com problemas que estão dentro de nossa própria casa, mesmo que não sejam nas mesmas circunstâncias (com massacres e crimes). Nem sempre podemos segurar o inevitável, mesmo assim, ficamos com aquele velho pensamento "E se tivéssemos cruzado a esquerda ao invés da direta, será que chegaríamos em outro lugar?" Fica difícil responder quando não conhecemos esse lugar, pois bem sabemos que vários caminhos podem dá em um mesmo lugar se tivermos conhecimento da região, porém, como Eva era mãe de primeira viagem, ela não tinha tanto conhecimento assim, será que ela poderia ter feito diferente?
A diagramação do livro está perfeita, fonte de tamanho agradável e o papel utilizado é o chambil avena (amarelado), um os melhores. Não encontrei nenhum erro, ou seja, os revisores estão de parabéns.
Esse livro está mais do que recomendado, mas eu dou um pequeno conselho: tenha paciência com ele, leia com carinho, calma e, acima de tudo, sem pressa. Deguste-o como um prato delicioso que você não quer que acabe nunca e aproveite cada detalhe.
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