debora-leao 20/04/2024
Esperava mais
Este é o meu primeiro contato com Victor Hugo e a verdade é que, após escutar Tatiana Feltrin falar sobre ele tão elogiosamente, eu esperava mais desse livro. Ele não é ruim... quem sabe seja curto. Compreendo que a proposta era mostrar aquele instante de (quase não) vida. Compreendo que a exploração psicológica é devida até o momento em que não se distraia do tema do livro, e que estender-se por este caminho seria o mesmo que anular a principal discussão. E, nisso, concordo que Victor Hugo conseguiu: de fato me sinto contra a pena de morte ao término da leitura - contudo, a empatia fica prejudicada. Não condeno o personagem, mas também não o perdôo (na medida em que, como leitora, posso fazê-lo). Creio, também, que a época em que vivo me influencia. A pena de morte, ao menos no século 21, já não é questão. No Brasil, como em muitos outros locais, ela é proibida, e as formas de tortura psicológica variam. Pergunto: de quê adianta não matar e manter presos em situação tão periclitante? Creio, sinceramente, que a vida deve ser tratada com dignidade. Se não o é, melhor que seja a morte... Mas talvez seja minha frustração falando. Quem sou eu? Zero lugar de fala.
Penso que as principais reflexões que me vieram da leitura deste estão em torno da incerteza da morte. Não é o que o protagonista vive, pois tem data para morrer, mas como ele mesmo diz, todos somos condenados à morte, muitos apenas não sabem a data de execução. E, ao caminho da praça, a mudança de descrição e narrativa para ater-se aos detalhes não notados previamente é bonita. Há uma progressão do início da narrativa de sua situação (condenação, instalação na prisão, ambientação com o cenário de prisão), que era mais factual, para uma descrição psicológica mais geral (quando fala da mãe, da esposa e da filha, revendo sua vida de forma geral), para enfim olhar para o pequeno, para a reação das pessoas que observam a execução, para os relógios, torres e igrejas na praça, para o trem, para o que nunca havia notado em seu ambiente. Isso é bonito e me parece a verdadeira direção da vida bem-vivida, a presença no aqui e agora. Isso é o que o livro consegue me ensinar.