Marco 25/11/2014
Doutor Sono...muito sono.
Brincadeiras a parte, não posso deixar de demonstrar o quão descontente fiquei já no meio da leitura.
A continuação do maior livro de horror/sobrenatural já escrito, não chega nem aos pés do que foi prometido. Enquanto o "Iluminado" possuía personagens cativantes, clima claustrofóbico que nos fazia temer por suas vidas e ainda conseguia deixar marmanjos olhando sobre os ombros durante o processo de leitura (sim eu confesso), Doutor Sono nos deixa bocejando boa parte do livro.
Nessa continuação, seguimos Danny Torrance (o garoto sobrevivente do ocorrido no Overlook) por várias fases e idades de suas vida, de forma contínua. Ele ainda é assombrado pelos fantasmas e pelas experiências horríveis ocorridas no Hotel e acaba por tomar o mesmo caminho do alcoolismo que atormentou seu pai (Jack Torrance). Se instalando em uma pequena cidade de New Hampshire e ciente da decadência de sua vida, Dan começa a frequentar os Alcoólicos Anônimos e trabalha em um asilo na cidade como "Doutor Sono". Auxiliado por um gato,ele ajuda idosos com seus dons paranormais de "iluminação" na passagem da vida para a morte. É ai que uma garotinha com dons maiores do que Dan surge na trama da história, cruzando seus destino com o "Verdadeiro Nó" - um grupo quase imortal que se alimenta da "iluminação" de crianças que possuem dons paranormais.
Quando fiquei sabendo que haveria uma continuação sobre a vida de Dan Torrance, fiquei com receio de ler, pois não queria que minha experiência com "O Iluminado" fosse estragada. E é dai que mesmo depois de ler, posso tirar isso como ponto positivo: a continuação não estragará seu antecessor pela falta de uma conexão plena e essencial, bem como pela desvio no tipo de trama que a história tomou.
O início do livro e suas primeiras 100 páginas são impressionantes. O sentimento para fãs da obra antecessora - ao entrarem em contato com os primeiros anos de Dan Torrance após experiência traumática - será indescritível de prazeroso. O problema do livro começa quando a história de Dan se cruza com Abra Stone e o Verdadeiro Nó. A primeira acaba sendo mais uma criança estereotipada de Stephen King, e o segundo (os vilões da trama), não assustam nem criança de 4 anos. Exato, o Verdaeiro Nó é até "simpático".
Muitas pessoas não gostam de Stephen King, adjetivando-o de ser prolixo. Eu sempre achei suas descrições sua maior qualidade. E é o que falta em Doutor Sono. Situações mais cruéis poderiam melhor ser trabalhadas em prol do Verdadeiro Nó (como ele quase sempre faz), a fim de criar vilões mais repugnantes e assustadores que nos façam temer pela vida de Dan e Abra. Sem contar ainda, o fato de que o trabalho de Dan como "Doutor Sono" no asilo, é pouco explorado pelo autor.
Outro ponto negativo, é exatamente o que me dava receio e que provou ser uma das maiores falhas do livro. O livro poderia conter personagens diferentes e uma trama que nada tenha a ver com O Iluminado, que ele ainda seria a mesma coisa, pois da página 100 para frente, embarcamos em uma "aventura" que mais foca no lado sobrenatural das personagens principais, do que no clima agonizante e aterrorizante do primeiro livro.
As páginas finais ainda contém uma dose de emoção e uma conclusão mais do que satisfatória (excetuando-se uma descoberta digna de novela mexicana), com uma cena que poderia trazer lágrimas a fãs de "O Iluminado".
O grande ponto positivo a se destacar, é o próprio Dan Torrance. Mesmo na vida adulta, continua sendo um dos personagens mais carismáticos e idolatrados por mim como fã de King. Fãs do livro antecessor não se decepcionarão com o homem que ele se torna.
Para concluir, posso dizer que enquanto "Sob a Redoma", teve como maior qualidade ser muito curto (sim, um livro de 900 páginas foi considerado curto por seus fãs, pois queriam muito mais), "Doutor Sono" tem isso como maior defeito. Senti falta das habilidades descritivas de King, tanto para criar situações como para criar personagens mais marcantes. 400 e poucas páginas não foram suficientes e criaram uma leitura "light" e insatisfatória demais.
Uma pena.