thamiis 07/10/2021Uma lenda antiga transmutada em misterioso encantamento.Na primeira parte de ?A hora das Bruxas? somos apresentados à diversas personagens com personalidades tão verossímeis e profundas que fica complicado não se afeiçoar de maneira imediata até pelas mais desagradáveis delas.
A autora escolheu uma maneira interessante de intercalar de uma personagem a outra sem comprometer a linha de entendimento da história, seguindo uma ordem que mescla passado e presente de maneira fluida e leve, permeando os fatos narrados com uma aura de mistério e tensão. A cada transição temos contos individuais completos para cada personagem crucial costurados em uma lenda que os une não só pelos fios do destino através dos séculos, mas também graças ao interesse histórico crucial do Talamasca, uma secreta ordem paranormal benigna tão antiga quanto o tempo e o adendo da existência de Lasher, o enigmático espírito do qual seguimos sabendo muito pouco além de sua íntima e peculiar conexão à família Mayfair.
A carta na manga de Rice é, sem dúvidas, conseguir dosar o interesse do leitor pelo passado juntando-o à curiosidade acerca do futuro das personagens mais recentes na linha cronológica (as do presente).
A leitura segue instigante e cheia de promessas, com destaque para o terror psicológico sutil e ao mesmo tempo tão palpável que mais de uma vez me peguei evitando as janelas e atenta aos ruídos de minha própria casa durante a madrugada, no afã de esquivar-me de uma aparição. Há tempos uma história não tinha o poder de despertar esse tipo de sentimentos sem esforço.
Na segunda parte, chegamos aos realmente volumosos arquivos do Talamasca, mergulhando diretamente na fonte que dá origem à família Mayfair e posteriormente, a seu legado. Em alguns momentos durante essa parte da narrativa a história se torna enfadonha e por vezes confusa, principalmente com o aumento de descendentes, entretanto é possível perceber uma tentativa de minimizar esse desconforto pela troca de narradores e estilos de narrativa.
Do terreno fértil, mas por vezes batido dos acontecimentos históricos reais e bárbaros como a caça às Bruxas na Idade Média e das lendas fomentadas pela Igreja Católica baseadas no medo que eles tinham do paganismo celta e das religiões africanas, Rice criou neste volume I uma história até o momento plausível e bastante realista cujo fim é uma divisão abrupta em dois tomos (que talvez na época da tradução tenha se dado pela quantidade de páginas), uma vez que os arquivos da segunda parte continuam no volume II.
Anne Rice não decepciona em nenhum momento na estrutura de seu romance nesse primeiro volume de ?A Hora das Bruxas?. Se peca por algum motivo, talvez seja pelo excesso no que se trata dos arquivos da família Mayfair, onde poderiam ter ?enxugado? algumas passagens sem prejudicar a história, mas ao mesmo tempo é entendível que essa talvez tenha sido a versão mais resumida possível que encontraram de contar os fatos. Por aqui, sigo ansiosa pela continuação dos acontecimentos no volume II.