May 12/01/2023
Não é um livro sobre os outros
Suzanna passou dois anos internada num hospital psiquiátrico aos 18. Depois de ter tentado suicídio e não saber ao certo quem quer ser ou o que gostaria de fazer de sua vida, a autora conta nesse livro como foi sua experiência durante os dois anos internada. Se você viu o filme antes de ler o livro, com certeza sentiu falta da profundidade das outras personagens, as garotas que também estão internadas. E dos funcionários também. Mas, se você ler de coração aberto e sem se apegar ao que já conhece, vai ser capaz de entender do que de fato se trata tanto o livro quanto o filme: a jornada de descoberta do transtorno de personalidade da autora. Não é uma história linear e talvez tenha sido escrito dessa forma justamente para metaforizar que o transtorno também não segue um tratamento linear.
Diagnosticada com transtorno de personalidade borderline, Suzanna traz logo no início uma comparação de sua personalidade com algum produto com defeito de fabricação. E, sendo assim, inútil. Afinal, como poderia ser outra coisa se não quis entrar na faculdade e não parava em nenhum emprego? O vazio dentro de si aumentava e o tédio pelo mundo é frequentemente citado também. Gostava de escrever, mas isso seria o suficiente como um plano para o futuro? Em 1967 as coisas eram diferentes, borderline e esquizofrenia andavam juntos, como um só, nos diagnósticos psiquiátricos.
Os pensamentos e amadurecimento de Suzanna são retratados com clareza e, ao mesmo tempo, de forma sutil. Bem diferente do filme, o livro trata sobre a autora, e não sobre o todo. De qualquer forma, vale a leitura do livro e assistir ao filme, pois são complementares.