Taverneiro 07/08/2017Depois de muito analisar esse livro, cheguei a conclusão de que podia ter bem menos bailes XD... Há mil anos o grande herói estava predestinado a salvar o mundo, mas ele falhou.
O Senhor Soberano tomou o controle de tudo e impôs o seu império, o Império Final, e desde então ele vem esmagando e sobrepujando todas as revoltas, e massacrando quem se opõe a ele. Extremamente poderoso, imortal e com um desejo sem fim por governar, não existe esperança de algum dia isso mudar. Ele é tratado como um deus, visto como uma força da natureza que você não pode lutar contra, só aceitar. Ele é o Senhor de tudo e sempre será, até o fim dos tempos.
O próprio mundo está diferente, embora poucos se lembrem disso. Caem cinzas do céu de tempos em tempos. As plantas perderam seu verde e a noite uma densa bruma cobre o mundo e mantém as pessoas assustadas dentro de suas casas.
O Senhor Soberano impôs uma rígida hierarquia social nesse mundo de cinzas. Existem os nobres, pessoas que podem ser consideradas humanas, e existem os skaa, um povo inferior de escravos. Esse regime escravagista é tão inexorável quanto o Império Final e poucos ainda têm esperança…
É ai que conhecemos Kelsier. Um misterioso homem com um plano para derrubar o Senhor Soberano e por um fim no Império Final! Ninguém o leva a sério, é claro, mas a possibilidade de lucro é o suficiente para reunir a sua antiga gangue e, apenas por alguns instantes, voltar a ter um pouco de esperança…
Esse livro tem um ritmo muito bom e uma leitura gostosa (na sua maior parte né), tem personagens bem legais (principalmente o Kelsier ^^) e um sistema de magia super maneiro, onde as pessoas ganham poderes, como ficar mais fortes ou controlar as emoções de outra pessoa, com o auxílio de certos tipos de metais. Embora tenha em destaque todo esse lance de “herói que falhou” isso é apenas o pontapé inicial do mundo, e não é retratado no livro. É uma leitura muito boa, mas nada é perfeito né… Vamos analisar melhor esse livro, começando direto pela cereja do bolo que todo mundo gostou…
O Carro Chefe do Brandon!
Toda a construção de mundo é bem contida. Temos Luthadel, que é a cidade onde se passa toda a ação. Somos apresentados a toda a hierarquia de skaa, nobres e inquisidores. Temos também alguns vislumbres de como o mundo está zoado, com chuvas de cinzas, as plantas não são mais verdes, todos tem medo de sair de noite por causa das brumas… É um mundo muito curioso e irado em vários aspectos e os trechos de diário no início dos capítulos nos dão uma noção de como era antes, o que torna tudo mais instigante ainda…
É uma construção de mundo boa, até chegar na melhor coisa desse livro: o sistema de magia.
A cereja do bolo do Brandon Sanderson. Os sistemas de magia e o tratamento dado a eles é o carro chefe a meu ver.
Pra quem não conhece, a Alomancia é uma habilidade que permite a pessoa consumir algum tipo de metal e ganhar alguma habilidade com isso. São oito tipos de metais, como visto na tabela abaixo.
Cada nobre pode utilizar apenas um metal normalmente, mas alguns entre eles conseguem utilizar todos, esses são conhecidos como os Nascidos das Brumas e costumam ser ferramentas muito valiosas nas mãos das casas nobres. Os nossos dois protagonistas, Vin e Kel, são nascidos das brumas.
O autor, ao ver que esse sistema de magia era muito maneiro, fez dele a roda central da série Mistborn, fazendo todo o plot girar ao redor da alomancia. Tanto as consequências finais como o desenvolvimento do livro e dos personagens giram entorno do desenvolvimento desse sistema de magia, como se ela fosse o esqueleto desse livro.
Esse sistema de magia é vivo e intenso graças ao tratamento mais “ficção científica” do autor. Os efeitos postos em prática têm uma vida impressionante nas páginas. Coisas simples como respeitar as Leis da Termodinâmica (mais ou menos né XD) já fazem tudo ficar palpável e imersivo. Outro excelente sistema de magia que também faz isso é o utilizado no Nome do Vento. Ambos são incríveis.
Temos também nesse livro a Feruquemia, um sistema de magia que, ao invés de consumir os metais, usa ele como uma forma de “bateria” para armazenar habilidades humana. Você pode armazenar força, inteligência, memória… Só que para isso você precisa abrir mão daquilo no seu corpo por um tempo. Um exemplo, para armazenar força física em algo você tem que ficar extremamente fraco por um tempo, quanto mais força você quiser armazenar, mais tempo você tem que ficar fraco.
Esse sistema de magia não é nem de longe tão explorado aqui quanto à alomancia, mas ainda assim é bem importante e bem irado!
Para quem quiser saber mais sobre o processo criativo do autor a respeito dos sistemas de magia, deem uma olhada nesse texto que o site INtocados traduziu, A Primeira Lei de Brandon Sanderson. Altamente recomendo que os escritores leiam e entendam mais sobre o bom uso da magia em suas histórias. ^^
Bons personagens que podiam aparecer mais…
Como toda boa história de invasão, temos os nossos especialistas. Kelsier é o líder e reúne o grupinho, ótimo em Empurrar/Puxar metal. Ham, o simpático lutador “Brutamontes” que consegue queimar peltre. Brisa, o “Abrandador” diplomata cheio de si que consegue queimar zinco e Trevo, o carrancudo dono do esconderijo e um “Esfumaçador” de primeira mantendo todos escondidos.
E, é claro, a Vin. Uma órfã que era forçada pelo irmão a fazer parte de uma gangue. Alguém que não conheceu nada além de medo e submissão até que Kel descobriu que ela era uma Nascida das Brumas, capaz de manipular todos os metais.
O autor criou aqui uma bela gama de personagens que interagem muuuito bem entre si. As cenas com todos eles juntos rendem diálogos excelentes! Ai começamos com um probleminha: os bailes….
A Vin é a personagem com mais tempo como protagonista desse livro e toda a jornada dela de sair da vida ferrada que ela levava como parte de uma gangue de rua e começar a confiar nos outros novamente e ter um pouco de amor próprio. O arco pessoal dela é bem legal e faz dela um personagem bem bacana.
O problema é que ela ganha uma missão de fingir ser uma nobre e se infiltrar na realeza de Luthadel, indo a bailes, ouvindo fofocas, plantando boatos… E isso gera uma barriga tão esquisita na trama. É como se fosse um mundo paralelo com uma narrativa com um tom próprio. Um jogo de intrigas meio fúteis. Eu não gostei muito disso e a diferenciada de estilo com o resto me faz pensar que pode ser difícil alguém gostar disso e gostar do resto também, e vice versa.
A meu ver seria muito melhor aproveitar toda aquela equipe de simpáticos personagens e deixar um pouco de lado os bailes, mas é questão de gosto mesmo. Tenho certeza que alguém deve ter curtido as aventuras mais românticas da Vin com o Elend.
Escondendo tudo ao mesmo tempo em que revela tudo!
Mistborn é uma mistura do gênero de “assalto” com a fantasia. Kelsier, na tentativa de acabar com a tirania do Senhor Soberano, reúne uma equipe de especialistas para por um plano em pratica que pode mudar o mundo. Também vindo do gênero de assalto, esse livro é repleto de reviravoltas, coisas que dão errado e segredos que vão se revelando no caminho e que podem botar tudo a perder.
O autor consegue fazer dessas reviravoltas surpreendentes e ao mesmo tempo extremamente plausíveis. Quando você lê e algo inesperado acontecer, ou algum segredo for revelado, em um primeiro momento você vai ficar em choque, e logo depois você vai pensar “Cara, ele falou isso comigo o livro inteiro…”. Brandon Sanderson consegue esconder todo o plot e as reviravoltas bem à vista de todo mundo, o que é uma das características mais legais da estrutura narrativa dele.
Mais do que um autor, um mestre. ^^
Meu primeiro contato com o Brandon Sanderson não foi com nenhum livro, mas sim com o seu podcast, o Writing Excuses, que o Brandon faz com outros autores e da dicas sobre escrita e mercado literário. Foi uma tremenda fonte de conhecimento para mim e me fez admirar esse autor muito mais. Ele não tem medo de compartilhar tudo o que ele aprendeu com o tempo, as técnicas que usa, até o primeiro livro que ele escreveu quando era mais jovem só pro povo ver como as coisas mudam… É um baita cara bacana esse Brandon. ^^
Várias das dicas que eu dou aqui, como a estrutura MICE, eu ouvi primeiro lá. Independente de estar certo ou errado, você poder ouvir autores experientes compartilhando suas histórias e dicas é um aprendizado muuuito valioso.
Se você entende inglês e quer aprimorar sua escrita eu recomendo muito que você escute todos os episódios do Writing Excuses! ^^
Concluindo…
Um livro gostoso de se ler, com bons personagens (mas meio mal aproveitados), um mundo muito maneiro com um sistema de magia irado! E um plot de trama muito maneiro. Se você gosta de livros de fantasia épica, pode ler sem medo, você vai curtir muito! Se você nunca leu nada de fantasia e quer dar uma chance ao gênero, essa é uma boa pedida para começar. ^^
site:
https://tavernablog.com/2017/08/06/mistborn-o-imperio-final-resenha/