jota 15/05/2024ÓTIMO: a cada dois ou três capítulos uma nova aventura; elas são muitas, curiosas, singulares e sobretudo engraçadas Publicado há mais de 130 anos (em 1884 ou 1885; encontrei as duas datas) o livro de Mark Twain (1835-1910) sempre está presente nas listas elaboradas por jornais e revistas mundo afora como um dos cem melhores romances de todos os tempos. Resumidamente, e muito, As Aventuras de Huckleberry Finn traz as aventuras de três personagens importantes, bastante conhecidos no mundo literário e artístico desde que o livro veio a público.
O próprio Huck é o principal, claro, garoto rebelde que deseja escapar do pai bêbado e se aventurar pelo mundo, no caso navegar e viver aventuras na região do rio Mississípi. Depois, temos a acompanhá-lo em suas andanças pelo Mississípi, em suas aventuras, Jim, um escravo fugitivo (a história se passa antes de Guerra Civil americana), e finalmente Tom Sawyer (que já havia protagonizado um livro homônimo em 1876), mas que aqui aparece como coadjuvante, bem depois da metade do livro, mais para o final dele, em episódios bastante engraçados. Na verdade, o livro todo é muito engraçado.
No caminho de Huck e Jim, muitas aventuras, quase que uma a cada dois ou três capítulos (e eles são vários, mais de quarenta). Desse modo, As Aventuras de Huckleberry Finn tornou-se um clássico da literatura e como tal o leitor tem mesmo é que lê-lo mais do que propriamente falar sobre ele, porque é diversão garantida o tempo todo. Mesmo assim, preciso destacar alguns pontos. Começando pela Nota da Tradutora, Rosaura Eichenberg, na qual ela fala não apenas sobre a dificuldade da tradução (ótima, por sinal), reproduzir em português as falas, os dialetos característicos daquela região americana.
Outra coisa que Rosaura destaca é como os negros eram tratados – depreciativamente, é claro – na época em que Twain, que não era racista (tampouco seu personagem Huck Finn), escreveu o livro. O termo “nigger” então significava apenas negro, não tinha a conotação racista que tem hoje nos EUA, daí que ela optou por usá-lo na tradução em vez de preto ou até mesmo escravo, como querem fazer alguns editores americanos para “limpar” o texto. Coisa parecida que a esquerda festiva daqui, para não dizer coisa pior, tentou fazer ou fez, não sei bem, com nosso genial Monteiro Lobato.
Ernest Hemingway registrou que “(...) toda a literatura americana moderna se origina de um livro escrito por Mark Twain, chamado Huckleberry Finn (...). Não havia nada antes. Não houve nada tão bom desde então.” E H. L. Mencken foi mais longe: “Acredito que Huckleberry Finn seja uma das obras-primas da humanidade, equivalente a Don Quixote e Robinson Crusoé [...]. Acredito que, admitindo todos os seus defeitos, ele [Twain] escreveu um inglês melhor, no sentido de mais limpo, direto, vivido e são [...]. Ele está muito acima de Whitman e, certamente, não abaixo de Poe; [...] ele foi o verdadeiro pai da literatura neste país e o primeiro legítimo artista americano de sangue real.”
Eu vou lá discordar de Mencken? Ou de Hemingway? Nem pensar. Tenho mais é que reler Tom Sawyer um dia, isso sim...
Lido entre 01 e 14 de maio de 2024.