Jim do Pango 15/10/2010
Fórmula Mágica
Me lembro vagamente de já ter lido em algum lugar que Bernard Cornwell descobriu uma espécie de fórmula mágica. Não chega a ser a Fórmula Mágica da Paz cantada pelo rapper Mano Brow, mas uma fórmula por meio da qual ele dá a luz seus grandes romances.
Cornwell publica um sucesso atrás do outro, deixando, entrementes, o mercado editorial suspenso na expectativa do seu próximo lançamento. Aqui no Brasil, a Editora Record vem publicando as obras de Cornwell em um ritmo que considero moroso, haja vista a série Crônicas de Sharpe que no original possui mais de 20 volumes - e que, inclusive, virou tema de seriado para TV -, enquanto não conseguimos sequer atingir o décimo livro.
No caso de Azincourt, as ações de marketing, por ocasião do lançamento no Brasil da obra, foram intensas e contaram com a presença do próprio escritor na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2009. Bernard Cornwell esteve pela primeira vez em terras brasileiras e distribuiu simpatia aos seus milhares de fãs.
Sou um desses fãs e esperava muito de Azincourt. Talvez por isso tenha me decepcionado um pouco com a obra.
Em verdade, após ler tudo do Cornwell publicado no Brasil, é fácil esperar que seus livros tenham (i ) um herói marcante, destemido e conquistador; (ii) uma donzela de beleza extraordinária; (iii) vilões vis e poderosos; (iv) e um toque especial do humor refinado do autor. Em Azincourt, admitamos, se encontra tudo isso.
Entretanto, Nicolas Hook, o protagonista, é muito diferente de outros heróis de histórias medievais de Cornwell como Thomas de Hookton (da série Em Busca do Graal) e Derfel Cardan (da série As Crônicas de Arthur). Estes dois últimos se destacavam pelas qualidade intelectuais: Hookton era filho de um padre e, portanto, versado em francês e latim; e Derfel, o narrador dos livros, malgrado filho de uma escrava, dominava igualmente os rudimentos da escrita, coisa rara de se ver na baixa idade média. Nick Hook, por seu turno, é um filho de camponês ignorante que se distingue mais pela sua força descomunal, o que é perceptível na maneira com que retesa seu grande arco de guerra.
E por falar em guerra, talvez o tema da Guerra dos Cem Anos e da habilidade extremada dos arqueiros ingleses, que lhes garantiam superioridade no campo de batalha, tenha sido suficientemente debatido nos livros O Arqueiro, O Andarilho e O Herege, ao ponto de, assim me pareceu, já não despertar tanto interesse.
Durante a leitura, cheguei a comentar com os amigos que aquela era a primeira vez que lia um livro do Cornwell e não estava absolutamente empolgado. Antes do fim, todavia, tive que me render ao estilo inigualável de Cornwell, pois, nas últimas 150 páginas Azincourt se torna uma autêntica estória contada por Bernard Cornwell. "In Cauda Venenum". Em Azincourt, o melhor está reservado para o fim.
A vitória inglesa, contra todos os prognósticos, não é segredo para ninguém. O leitor já tem plena ciência dela desde o momento em que retira o livro da prateleira da livraria, mas a maneira com que Cornwell traz luz ao evento faz valer as outras discretas 300 páginas.