spoiler visualizarWagner269 11/02/2022
um favorito, uma leitura em duas partes, intensa e deliciosa.
Samarcanda – Amin Maalouf
Que está maravilha esteja em minhas mãos e que eu possa ainda que superficialmente conhecer a história de Omar Khayyam, Hassan Sabbah, Nizam Al-Mulk, três dos homens mais influentes do seu tempo e que deixariam sua marca para posteridade; que eu possa conhecer os Rubaiyat de Omar, e procurar nessas quadras o significado de suas reflexões, enquanto reflito sobre minha passagem, e que séculos depois de sua passagem, eu esteja motivado a conhece-lo melhor, seus Rubaiyat’s levantam em mim perguntas que eu pensei que nunca faria.
Em dado momento, quis ser um fiel escudeiro do poeta, quis ser eu a ouvi-lo falar longamente sobre o vinho, sobre os prazeres da alma e do amor. Quis me teletransportar em tempo e espaço para aquela Samarcanda, onde ao fim de um dia lento e tristonho, os cidadãos desocupados vêm rondar o beco das duas tavernas, perto do mercado das pimentas, não para beber o vinho almiscarado, mas para espiar o vaivém ou para brigar com algum bêbado... quis ser eu, este bêbado, para então ser salvo pelo poeta.
Também quis ser eu, Benjamin O. Lesage, a sentir o sol e o calor e o frio e assistir a noite estrelada e testemunhas as revoluções, quis ser eu a abraçar a princesa Chirine, tê-la em meus braços e dividir com ela os meus anseios, meu amor, quis que fosse eu a ter em minhas mãos o original manuscrito de Samarcanda e poder lê-lo todas as noites, uma taça de vinho ao alcance de um esticar de braço.
Queria ser eu, a caminhar pelas ruínas de Samarcanda, a conversar com um turista e ouvi-lo dizer, “em Samarcanda, o tempo se desenrola de cataclismo em cataclismo, de tábula rasa em tábula rasa. Quando os mongóis destruíram a cidade, no século XIII...”, não interrompê-lo, mas deixar a mente se distanciar enquanto vislumbro Omar que caminha entre nós com seus Rubaiayt’s.
Que um livro atravesse eras, séculos, guerras, e que um pedaço dele esteja neste momento em minhas mãos, é preciso agradecer que Amin Maalouf tenha se debruçado sobre as páginas em branco e ido até estas cidades e feito pesquisa por anos, para enfim, nos brindar com essas mágicas palavras, que transformam a realidade em ficção e a ficção em realidade.