Maria 08/05/2020
Sabe quando você quer ler o livro pelo título? Essa é minha história com esse. O título e a sua abertura (?o amor é sexualmente transmissível?) são de uma delicadeza enorme. E assim fui. Mas bem longe de ser um romance mamão com açúcar, esse livro traz um romance poderosíssimo, ressaltando tudo o que há de melhor e pior no ser humano.?
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Aqui, acompanhamos Cauby, fotógrafo paulista que se mudou para uma cidade no Pará, cidade esta que vivia em constante conflito por estar iniciando uma corrida do ouro na mineração. Neste contexto, conhece Lavínia, mulher extremamente sedutora e que aproximou-se de Cauby pelo amor pela fotografia que ambos tinham. Entretanto, Lavínia era casada com Ernani, pastor da cidade. Então, começamos a acompanhar esse tórrido romance entre Cauby e Lavínia no contexto do livro.?
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Em busca de desmistificar o que seria certo ou errado, Marçal mistura flashes entre passado e presente, fazendo com que o leitor entenda a personalidade de Lavínia: sempre negligenciada, sofreu abuso sexual, teve que fugir de casa, se prostituir e entrar no mundo das drogas para tentar fugir dessa realidade. Foi aí onde Ernani surgiu e a conheceu, entendeu e casou-se com ela. Apesar dos erros dos personagens, por terem sido tão bem construídos pelo autor, conseguimos sentir empatia pelas suas atitudes ao longo do livro.?
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Vale ressaltar que neste livro temos um contaponto: a narração do romance cheio de fogo e cenas de sexo entre Cauby e Lavínia, sempre insaciáveis ? tanto que apelidam de Shirley essa parte da personalidade de Lavínia, sempre cheia de tesão -, faz oposição a outra história narrada por um personagem chamado Altino, que teve um amor platônico que durou toda a sua vida. Claramente mostrando as múltiplas faces que o amor pode ter. Também outro ponto interessante é a presença do livro O Que Vemos no Mundo: Um Tratado sobre o Amor Humano, de Benjamim Schianberg (psicanalista), sempre citado pelo narrador ao longo da história e que perpassa por muitos pensamentos ao longo da história, tentando justificar ou explicar certas atitudes que temos em relação ao amor.?
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Com um final bonito, mas longe de ser feliz (bom, vida real, né...), esse livro é de uma delicadeza nas palavras excepcional. Extremamente forte e poderoso, foi uma grata surpresa conhecer Cauby e Lavínia, com seus erros e acertos, com seu amor ardente e fatal. Um livraço nacional, de leitura fluida e intensa, merece todo o burburinho que existe em torno dele.?
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?O trecho está grifado no livro. Nele, o professor Schianberg dá voz a Nietzche ? ?Há sempre um pouco de loucura no amor, mas há sempre um pouco de razão na loucura? ? para depois contestá-lo, lembrando que na loucura dos amores contrariados não há espaço nenhum para a razão, apenas para mais loucura.?