Luiz.Goulart 07/09/2021Marçal Aquino na veiaEu Receberia as Piores Notícias... foi adaptado para o cinema pelo brasileiro Beto Brandt e gira em torno de relações amorosas repletas de conflitos e tensões em um triângulo amoroso heterossexual com conclusões dramáticas.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seu/s Lindos Lábios - Há uma dupla potente e premiadíssima por trás deste livro e da sua adaptação para a telona: o escritor e roteirista Marçal Aquino e o diretor Beto Brandt, ambos também responsáveis pelos livros/filmes Os Matadores, O Invasor e Ação Entre Amigos, todos com ótimas críticas.
Esse originalíssimo título, composto por simplesmente nove palavras, entrega aos leitores uma paixão visceral e asfixiante do casal Lavínia (Camila Pitanga, mais linda do que jamais esteve, na versão cinematográfica) e Cauby, fotógrafo paulista responsável por partes da narrativa.
A história se desenrola no interior do Pará, onde Cauby praticamente se isola após ter viajado pelo mundo. Ali, ele se dedica a plantar e fumar maconha, ouvir música clássica, cuidar de um tatu de estimação e fazer bicos como fotógrafo de um jornal local. Cauby rasga o peito como se usasse luvas: “Quando estou com você, eu me perdoo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e esqueço completamente que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta. Isso eu poderia ter dito a ela. Mas não disse.”
Intercalando narrativas em flashbacks, mergulhamos raso na alma sem fundo da misteriosa Lavínia, uma personagem que fascina o fotógrafo Cauby pela sua beleza fora do comum, por sua forte temperatura sexual, além de um comportamento bipolar e seu estranho casamento com Ernani, pastor evangélico 40 anos mais velho.
As transbordantes cenas de paixão física — o inferno de um seduzido pelo inferno do outro — ao som de música erudita e poesia são emolduradas pelo calor asfixiante e pegajoso do ambiente ribeirinho paraense, o prenúncio do caos que por todo o ambiente paira, seja pela latente ameaça de um conflito armado entre pistoleiros de mineradoras, garimpeiros e sindicatos, seja pela insegurança trazida pela condição mentalmente precária de uma Lavínia ex-prostituta e ex-viciada.
O livro e também o filme têm uma construção minimalista, seja na descrição exterior da suja e ameaçadora paisagem, seja do caótico interior dos personagens. Somos testemunhas do desenrolar das consequências que até podem parecer previsíveis, mas jamais menos impactantes, sem abrir mão da poética, mas também sem fugir da angústia de um amor impossível: “Uma felicidade sem futuro, como qualquer felicidade que se preze”.
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