Marianne 03/11/2020
Já começou doente
O primeiro contato que tive com Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios foi através de sua adaptação para filme, divinamente estrelado por Camila Pitanga, assisti na faixa dos 13 anos e, por isso, muitos detalhes se perderam. Até que me deparei com o livro que deu origem ao filme, escrito por Marçal Aquino e de título extremamente cativante, essa obra despertou-me diversas emoções.
A trama é narrada por Calby, um fotógrafo experiente que passa a viver no interior do Pará. E lá, por tramóia do destino, numa loja de conveniência, Calby se depara com uma mulher chamada Lavínia que, coincidentemente também se interessava por fotografia. Pronto, o estrago estava feito. Mas, o único e talvez o maior dos problemas é que Lavínia era casada com Ernani, um pastor pentecostal que a tirou da prostituição e da dependência química. Nas primeiras páginas, Calby nos dá sinais sobre a tragédia que estaria por vir. E ela veio.
A proposta de Marçal em lidar com o romântico atrelado à sensibilidade e a realidade é encantadora e desafia qualquer leitor já que, falar de amor é falar do inalcançável. O escritor atrai o leitor aos poucos, página por página. As informações sobre cada personagem são expostas com muita cautela: infâncias conturbadas, abusos sexuais e psicológicos, dupla personalidade, amores platônicos e sabe lá o que Benjamin Schianberg diria disso tudo. Sou suspeita para falar, mas um autor que atribui a um felino o nome de Camus é existencialmente bom demais para mim. Para quem se interessa por astrologia, é um prato cheio. Entre lençóis, os astros ficavam encarregados de traçar o destino dos homens. E de avisá-los caso uma tragédia estivesse prestes a acontecer, só era preciso estar atento aos sinais. Sem sombra de dúvidas, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios é um dos livros mais bem escritos que tive o prazer de ter lido.