Cláudia 11/01/2018
"Chame do que quiser. Eu chamo de amor."
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios retrata de maneira extremamente poética, intensa, íntima, quase obscena, o amor proibido entre Cauby, fotógrafo Paulista, e Lavínia, moça capixaba casada com um pastor, além de tudo o que se desenvolve decorrente desse caso.
A narrativa é toda no ponto de vista de Cauby, alternando entre passado e presente, nos tempos com Lavínia e atualmente na pensão de Dona Jana.
Cauby é um homem de mais de 40 anos que nunca se casou ou teve filhos, apesar de ter tido vários casos com algumas mulheres. Um homem que luta contra seu próprios demônios. Se apaixonou perdidamente por Lavínia no momento em que a conheceu, foi aí que tudo começou.
Lavínia é definitivamente o personagem que mais se destaca durante todo o livro, apesar dela às vezes parecer tão misteriosa para o leitor quanto para Cauby. Desde a sua infância difícil até a fase adulta. Lavínia é uma vítima da vida que assim como todos nós, luta pela felicidade a sua maneira. Uma personagem muito complexa e de difícil compreensão em alguns momentos, mas no decorrer da história conseguimos ter empatia por ela e entender o que a fez ser quem é.
E por último temos Ernani, o pastor que é casado com Lavínia e tem idade pra ser seu pai. Ele aparece pouco e por esse motivo mesmo não sabemos muito de sua vida, tudo o que dá pra ter certeza é que ele encontrou em Deus uma forma de lidar com os momentos de escuridão que viveu e quando conheceu Lavínia e se apaixonou por ela, se sentiu na obrigação de fazer o mesmo.
A escrita é sem igual. Daqueles livros que dá gosto da gente ler. O autor nos mostra os detalhes mais íntimos das emoções dos personagens, me senti muito próxima deles, principalmente de Cauby, como se ele fosse um amigo desabafando comigo. A relação de Cauby e Lavínia é intensa nível hard e isso fica muito claro logo de cara, o que começa só como um desejo carnal se torna amor. E essa é a parte mais bonita de toda a história. Eles não dizem um ao outro que se amam, mas demonstram isso em atos, o que em minha humilde opinião é muito mais verdadeiro. Será que é errado torcer pra uma personagem ficar com seu amante? Se for, agora já era.
Ao final Marçal Aquino nos leva ao ápice da intensidade desse livro, as últimas páginas não poderiam ser melhores. Confesso que senti um misto de felicidade e tristeza, ainda me pergunto se isso é uma coisa boa apesar de ter dado um leve sorrisinho assim que o terminei. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios me mostrou que talvez eu esteja errada em torcer o meu nariz pra literatura brasileira, ela pode surpreender. Recomendo sim, mas a menos que você esteja com a mente livre de preocupação, pra que consiga extrair o melhor da leitura.
"Conhecer Lavínia tornou invisíveis as outras mulheres. Tornou-as indesejáveis. Fiquei imune à sedução."