Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 21/06/2022Para além do título intrigante"Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" sempre foi um título que me intrigou e do qual muitas vezes ouvi falar bem, sendo um dos livros preferidos de muitas pessoas que admiro. Devo confessar, porém, que mesmo após a leitura, essa obra ainda me intriga.
Com uma narrativa que nos enreda, esta é uma história que fala sobre o amor. Mas que vai muito além daquilo que podemos imaginar, ao mesmo tempo em que é simplesmente real. E, justamente pela soma desses fatores, ainda há muito que, com uma única leitura, tenho certeza que não compreendo nessa obra e que, provavelmente, tanto fascina aqueles que a adoram.
O livro é narrado em primeira pessoa por Cauby, um fotógrafo de 44 anos que trabalha numa região de garimpo no Pará. Por isso, somos tragados pelos fortes sentimentos do narrador (nada confiável, vale ressaltar), ao mesmo tempo em que nos deparamos com uma realidade complicada e perigosa.
O perigo, aliás, está sempre à espreita, mas é somente mais para o fim da obra que vamos realmente nos dando conta da sua força. E o que mais dói é saber que realmente existe essa violência desmedida causada, sobretudo, pelo poder.
Com despedidas escondidas a cada esquina, percorremos as páginas deste livro com medo da ruptura que está por vir, tendo a certeza, contudo, que ela sempre chega, pois esta é inevitável e se tem uma coisa que este livro não faz é maquiar a verdade (muito pelo contrários, aliás, ele consegue ser bem visceral e direto ao ponto, ainda que carregue certa delicadeza e maciez em seu tom).
Indo e vindo entre passado e presente, a narrativa entra, por vezes, em um turbilhão e, por vezes, é calmaria. Exatamente como acontece com Lavínia, a grande paixão de Cauby e esposa do pastor Ernani. Vamos conhecendo esta personagem aos poucos, pelas lentes (com o perdão do trocadilho) do nosso protagonista.
Mas nem mesmo esse vórtex de sentimentos e sensações é capaz de nos preparar para um fim tão complicado para esses personagens, que não são os únicos que compõem a narrativa.
A narrativa do grande amor da juventude (e da vida) de Careca, que mora na mesma pensão que Cauby, também permeia as páginas deste livro, nos presenteando com a certeza de que existem inúmeras formas de amar nesta vida (e como cada uma, a seu modo, pode nos machucar).
O amor também está presente nas passagens do fictício filósofo Schianberg, cujas reflexões e ensinamentos enriquecem a narrativa e as passagens desta obra.
Sendo "Eu receberia as piores notícias do seus lindos lábios" um livro tão denso, mesmo que escrito com uma linguagem relativamente simples (e quase poética), só posso deixar o meu convite para que você conheça esta obra e tire as suas conclusões sobre a mesma.
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