Paula 18/01/2015#Contém spoilers - Resenha escrita especialmente para o autor, mas aberta para quem quiser ler.
Bom, antes de qualquer coisa quero agradecer a Breno Melo pela cortesia do livro, e dizer que passarei o livro adiante para que mais pessoas possam ter a oportunidade de aprender com ele. Quero dizer também que, como leiga no assunto, adorei saber mais sobre essa doença que já atingiu entes queridos meus.
Falando primeiramente, e exclusivamente da personagem, em minha opinião sobre tal, era uma pessoa muito cansativa. Cansativa no sentido de ela ser muito apegada em suas crenças, mais as temendo que as adorando; por ser muito ansiosa; custar a aceitar certas coisas. Como por exemplo, discutir com o psiquiatra sobre qual medicação seria mais adequado a ela naquele momento. Ela era altamente preconceituosa e de mente fechada em relação às coisas, apegada naquilo que sempre lhe fora ensinada, não querendo ir muito além. Sofria por antecipação, e se autojulgava demais. Isso no começo me incomodou muito, mas ao ler até o final pude ver como Marina é tão palpável; ela é como a maioria das pessoas. Marina é aquela vizinha, aquela prima, ou quem sabe até sua mãe ou irmã. Passei a admirar ela à medida que e evoluía como pessoa, reconhecendo suas falhas e procurando melhorá-las. Muitas dessas coisas que citei foram responsáveis pelo desencadeamento da doença, e talvez, se não fosse por esse infortúnio, Marina jamais teria se tornado a pessoa tão extraordinária que se tornou. Gostei de como temerosa, ela tornou-se enfim fiel à sua religião. Não mais por obrigação ou medo, ela agora era católica porque amava sê-lo.
Em relação à gramática; apesar de eu nem ser formada nem nada em Letras, mas de querer muito, e de também cometer erros, notei algumas falhas básicas, que, me pergunto foram propositais ou não para tornar mais real estória. Erros que no geral só quem estuda Português e Literatura nota. Então, sendo propositais ou não, tornou ainda mais próximo da realidade a narração da personagem, que contou sobre sua vida. Incluindo ainda nesse parágrafo, devo confessar que achei desnecessárias partes como “Me sentei na privada após vários minutos e senti o contato do papel no meu ânus.” Também aproveitando para falar sobre coisas desnecessárias, devo confessar que a morte de Péqui foi um baque. Num instante elas estavam lá e cabrum! Aconteceu. Não vi necessidade de o fato ter acontecido, talvez até por que gostava muito dela.
Alguns trechos do livro me marcaram muito, e acredito eu, fazer toda a base de reflexão da narrativa. Tem muita coisa legal citava no livro, inclusive além de reflexões, como estava dizendo, há citações de nome de livros, que pretendo adicionar a futuras metas de leitura. Eu acredito que nós, seres humanos, somos diamantes brutos que constantemente devem ser lapidados. Essa lapidação é incessante e para toda a vida, para que cada vez mais possamos chegar ao mais próximo de sermos pessoas boas, e acima de tudo, despidas de preconceitos, medos e conceitos antiquados que a sociedade nos impõe desde antes de nosso nascimento.
Provavelmente eu vou esquecer-me de colocar alguma coisa, mas me concentrei ao máximo para deixar essa resenha mais completa possível. Vou finalizar essa resenha destacando meus trechos favoritos e, agradecendo mais uma vez ao autor, por essa agregação de conhecimentos sobre a Síndrome do Pânico. Muito obrigada Breno Melo!
“Sempre fui perfeccionista; nunca me contentei com outra coisa senão a perfeição. Eu não me queixava de nada e me esforçava para dar o melhor de mim em tudo, inclusive nas coisas mais tolas dia a dia. E esse esforço, hoje eu sei, me desgastava. Fui dando o que eu não tinha, porque eu me preocupava demais, até que um dia arrebentei por dentro e precisei de conserto.”
“O fato é que nos contentamos em quebrar a cara uma única vez, e procuramos novas oportunidades de cometer os mesmos erros. Somos repetitivos em nossas ações, ainda que cada ação pareça nova devido às variantes. Em essência, nossos atos se resumem a meia dúzia.”
“Falar de si mesmo, expor suas intimidades e ainda por cima ser honesto é dificílimo. Relembrar fatos desagradáveis, já esquecidos, é terrível. Olhar para si mesmo de maneira racional, sem distorções, sem negações, pode ser um tapa no rosto. Quase ninguém está preparado para se olhar no espelho. A maioria arrancaria os olhos ou quebraria o espelho.”
“Devo encarar meus medos para que eles não me dominem, mas não devo remoê-los. Está aí a diferença entre o sofrimento necessário e a amargura inútil.”
“Mas será que não aprendemos nada, senão por interesse ou prazer, necessidade ou obrigação?”
“Sofri preconceito inclusive de professores, engenheiros e outros profissionais que eu
admirava. A verdade é que a instrução das pessoas não costuma ir além da faculdade em que elas se graduam. Fora da Pedagogia, um professor pode ser tão desinformado quanto um analfabeto. Um engenheiro, quando não está conversando sobre números, pode ser tão preconceituoso como alguém que não sabe fazer contas.”
“– Chego a pensar que a síndrome do pânico foi uma coisa boa em minha vida.
- Eu não diria a síndrome, mas as consequências dela em sua vida.”
“Se uma pessoa se julga perfeita, ela não reconhece suas próprias limitações, não se esforça para se aperfeiçoar e, quando se frustra, só pode culpar o outro. Mas é ingenuidade pensar que vamos mudar o outro se formos inflexíveis. É mais provável que nossas mudanças de comportamento levem o outro a reagir de maneira diferente.”