Naty__ 17/05/2022Resenhar o livro A garota que tinha medo é bastante complexo, não porque se trata de uma obra ruim. O livro aborda um tema bastante delicado: a síndrome do pânico. Breno nos apresenta a personagem Marina, de 25 anos, e sofre dessa doença desde os 18 anos.
A história se passa em Paraguai, um lugar praticamente incomum para ser retratado no livro. Embora nunca tenha lido nada relacionado, gostei de como o autor descreveu o enredo. A descrição do lugar é bem feita, pensamos que Breno visitou o país para escrever sua obra ou, ao menos, fez pesquisas minuciosas para retratá-la com maestria.
Marina leva uma vida aparentemente comum, contudo seus ataques de pânico surgem a qualquer momento. Seus surtos provocam medo em quem está assistindo. Quando sua crise acaba, ela sente-se envergonhada. Ela se culpa o tempo todo por suas falhas.
“Sou ansiosa e sofro antecipadamente. Me contrate como operária para construir um prédio e eu estarei erguendo o segundo andar antes de ter concluído o primeiro” (p.09).
Além das cobranças pessoais, Marina tem de enfrentar a pressão da própria mãe, pois ela, constantemente, cobra da filha para que se inscreva no maior número de instituições possíveis. Marina se inscreveu em seis e passou em quatro universidades. Para sua felicidade, ela passou justamente naquela em que desejara estudar: Universidade Católica de Assunção.
Assim como milhares de brasileiros, a protagonista passa por um conturbado processo ao enfrentar a síndrome do pânico. Marina se culpa a todo o momento por não conseguir admoestar seus sentimentos, sua ansiedade, nervosismo e o excesso de perfeccionismo.
Ao iniciar o curso de Jornalismo na Universidade Católica, ela se vê em um novo mundo. Novas ideias, novas descobertas e perspectivas. Porém, ela não imagina que nessa nova etapa outra crise de pânico irá surgir e deixará os estudantes totalmente receosos de sua presença.
“O livro é um pão que podemos comer à vontade – explicava eu –, sem que ele jamais perca sua substância. Hoje, por exemplo, comi este livrinho de poemas, sem que ele perdesse uma ideia, uma figura de linguagem, um floreio. Tudo quanto ele diz, continua exatamente onde estava” (p.78).
De forma bastante tocante, Breno consegue prender o leitor até as últimas páginas. O sofrimento que a protagonista passa consegue transpassar para nós. É possível sentir cada momento de aflição que Marina está vivendo.
Não obstante, a maneira que o autor explora o processo para a tentativa da cura, é magnífica. É possível compreender que houve um vasto estudo tanto sobre a doença em si, seus sintomas, bem como os meios para o tratamento.
Marina conhece Júlio pela internet e começam a namorar. Porém, o que era para ser um relacionamento feliz e eterno, sofre alguns contratempos. Além de abalá-la emocionalmente, isso acarreta em mais crises de pânico.
“A diferença que há entre os soldados reais e aqueles idealizados por alguns filmes é mais ou menos a mesma que existe entre as histórias de amor reais e aquelas idealizadas pelo cinema. Há soldados que são heróis de guerra, mas de um modo um pouco diferente do que imaginamos. E existem homens que são heróis no amor, mas de um jeito um pouco ou muito diferente do que as garotas pensam” (p.90).
Sua fonte de consolo, em partes, é a blogosfera. Ela tem um blog literário e resenha livros. Lá, também, ela começa a fazer postagens sobre a síndrome do pânico e declara que é portadora da doença. Muitos leitores sofrem ou conhecem pessoas que passam por esse processo e começam a dar apoio para que Marina permaneça no tratamento e seja curada.
Embora a escrita de Breno seja bem feita, de maneira comovente e diálogos bem fluídos, notei que algumas descrições na obra foram desnecessárias. Existem detalhes que não precisavam ser narrados. Porém, por se tratar de um livro escrito em primeira pessoa, a protagonista escolheu os processos mais marcantes para ser evidenciados em sua história.
Achei a capa bem diferente; não é chamativa, mas é bem artística. A diagramação é bem feita e os erros de revisão são pouquíssimos, quase imperceptíveis. A editora está de parabéns pelo trabalho bem feito.
“Quem supera seus medos é mais corajoso que aquele que nunca os teve ou jamais os enfrentou” (p.183).
Recomendo a leitura da obra tanto para quem sofre com a doença, para quem desconhece e, até mesmo, para quem a conhece. Com certeza, Breno tem muito a nos ensinar com este livro.