A cabeça do santo

A cabeça do santo Socorro Acioli




Resenhas - A Cabeça do Santo


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Eliza 29/03/2024minha estante
Eu estou LOUCAA pra ler esse livro


Loli.carol 01/04/2024minha estante
Leia sim!!!! É bem divertido




Hév 17/03/2024

Significa, Rosário, que você é o meu milagre.
Li por indicação do Paulo Ratz (never misses) e foi minha primeira experiência com realismo mágico. Me encantei com a construção impecável do ambiente e personagens de forma tão profunda, embora o livro não chegue a ter 200 páginas. Extremamente bem desenvolvido, me senti assistindo uma novela regional BOA, que realmente representa nosso sertão. Li em uma sentada só e acabei com vontade de já engatar outro livro da autora.
mariaclara.pb 19/03/2024minha estante
Amiga, leia a casa dos espíritos!!


Hév 19/03/2024minha estante
Já adicionei pra as próximas leituras!!




viic 28/10/2022

fui obrigada
Fui obrigada a ler esse livro por causa da escola, talvez por conta disso, ele não tenha me agradado muito. Eu achei a história até que interessante, mas pra mim a escrita não foi nem um pouco flúida, eu fiquei mais de um mês lendo esse negócio.
Enfim, legalzinho... não me agrada muito.
mariaaa 28/10/2022minha estante
realmente nao é muito cativante


viic 28/10/2022minha estante
muito chato e entediante maripach




Luana1208 10/05/2023


Que leitura leve e gostosa. Uma história que tem muitas reviravoltas mas é envolta de uma simplicidade que cativa e de uma escrita que faz as gente rir um bocado. Não dá pra ler devagar, o livro prende a gente na história de Samuel e de Candeias. É uma leitura que dá um quentinho no coração mas sem obviedades e clichês que algumas histórias assim carregam. Permeado, claro, pelo nordeste, pelo Ceará, que não conheço mas muito admiro e me sinto mais próxima do povo e sua cultura após a leitura de Socorro Aciolli.

A fé tem um papel fundamental. A autora é honesta, mostra o lado dos que manipulam a fé alheia mas também mostra a economia que ela gira, das pessoas que tiram seu sustento dos romeiros. E por viver nesse contexto, o personagem principal desacredita totalmente dessa fé alucinante e é irônico que seja ele o escolhido pelo por santo Antônio pra ser seu mensageiro Sua família tem uma relação intrínseca com a fé e ele não pode fugir disso. E mesmo se sentindo tão sozinho sem ninguém no mundo com quem contar, as mãos invisíveis - e essa força estranha dentro de si – não o abandonam, mobilizam sua jornada pra tudo se encaixar, pra encontrar o que busca e o que ainda nem sabe que busca.

Acho bonito como o livro mostra o poder do imprevisto numa trajetória de vida. Trás pra gente a fé de que mesmo quando tudo sai completamente fora do esperado, as coisas tem um motivo pra acontecer e no fim tudo fará sentido. Estava precisando dessa mensagem de otimismo :)

Recomendo muito a leitura!
Jeane 13/05/2023minha estante
Lindo o seu comentário. Traduziu bem o que achei do livro, mas não consegui expressar.


Luana1208 14/05/2023minha estante
Ah que bom, obrigada Jeane! :)




cris 07/04/2024

Que narrativa incrível
Finalizei a cabeça do Santo! Que livro incrível, Socorro Acioli ganhou um fã

Adentrei na história de Samuel, um personagem que encanta, a gente rir, chora, fica com raiva! Ele está tentando realizar os desejos de morte de sua mãe, embora ele próprio não acredite em santos. A história se passa no sertão do Ceará! Me vi muitas vezes como romeiro de Canindé, devoto de São Francisco e Santo Antônio! Apouco tempo fiz do Ceará uma casa e também me identifiquei de várias formas, uma cultura recheadas de crendices populares! A riqueza do nordeste que tanto amo... Enfim, Samuel amadurece durante o construção do personagem, envoltos nas questões de raízes, espiritualidade e família!

Os personagens são de uma riqueza tamanha, Francisco e seu Chico coveiro estão no meu coração, gente da família, aqueles que a gente faz questão de está perto, gostaria de sentar e prosear um cadinho com eles, ia sair muita história! A leitura é fácil e ágil, num estante você finaliza os capítulos e fica com gosto de quero mais!

Uma narrativa envolvente, cheios de mistérios e um final que me deixou choroso e com vontade de bater perna pelo Ceará! Amei ??
Gleison Marques 07/04/2024minha estante
Que resenha delicinha, meu bem. Amei ler os primeiros capítulos com você e vê a potência dessa história, que logo mais pretendo enveredar também. Nosso país Ceará é cheio de artistas e Acioli não me deixa mentir!


cris 07/04/2024minha estante
Ficou feliz que meu bem amor! Obrigado ??




Andreia Santana 10/12/2016

Entre rezas, mistérios e amores
A cabeça do santo, da escritora cearense Socorro Acioli, é uma hilária mistura de realismo fantástico com teatro sertanejo, no melhor estilo de O auto da compadecida (Ariano Suassuna), só que com um herói mais calejado. A história brinca com as crenças nordestinas nos poderes de Santo Antônio para atar romances, mesmo que os caminhos do enlace sejam os mais tortuosos possíveis.

O livro nos apresenta a Samuel, um jovem amargurado e descrente que se vê obrigado a pagar uma promessa feita à mãe moribunda. O rapaz deve procurar a avó e o pai, que ele nunca conheceu. No caminho, deve acender três velas pela alma da falecida. Assim, o rapaz empreende uma viagem insólita, a pé, de Juazeiro do Norte, onde morava com a mãe, até Candeia, cidade natal de seu pai, para cumprir a missão.

Ao chegar a Candeia, que é quase uma cidade fantasma nos moldes da Macondo de Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez - Socorro Acioli foi aluna de escrita criativa do autor -, Samuel tenta encontrar os familiares, mas é mal recebido pela avó, que o manda abrigar-se em um determinado local onde, talvez, o jovem encontre as respostas para os dramas de sua vida.

O abrigo é a cabeça gigante de um Santo Antonio, abandonada nas cercanias de Candeia. Samuel passa a morar nessa exótica caverna, cuja porta de entrada é o encaixe do pescoço do santo, e começa a ouvir, como se trazidas pelas ondas de uma rádio mística, todas as orações das mulheres da cidade. Algumas pedem marido, outras pedem proteção nas suas lutas diárias, umas rezam pela decadente Candeia e uma voz em particular canta em uma língua estranha modinhas que doem no coração e provocam uma nostalgia profunda no sofrido protagonista.

A partir daí, diversas tramas desenvolvem-se ao mesmo tempo, com Samuel atuando como ajudante do santo na resolução dos milagres pedidos pelos candeenses, ao mesmo tempo em que fio a fio, desata o novelo do misterioso sumiço de seu pai, dos silêncios da mãe sobre a família e do comportamento excêntrico da avó.

Leve, divertido e com uma trama recheada de reviravoltas, A cabeça do Santo é um entretenimento daqueles bons para desopilar o fígado e melhorar o humor. De quebra, o leitor, principalmente de outras regiões ou o não familiarizado com a diversidade cultural nordestina, é também apresentado às peculiaridades de tradições que misturam uma capacidade enorme de sobrevivência em condições adversas, com superstições ancestrais e toques de absurdo. Abrindo a cabeça (com o perdão do trocadilho), sem preconceitos, esta pode ser uma leitura das mais prazerosas.

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
Alê | @alexandrejjr 17/08/2022minha estante
Belíssima resenha, Andreia!


Andreia Santana 17/08/2022minha estante
Obrigada ?




Rosangela Max 21/01/2024

Ótima história. Faltou um desfecho para ser melhor.
É um tipo de sátira envolvendo as crendices em torno de Santo Antônio.
A história em si é sobre um fato curioso que fez a pequena cidade de Candeia renascer.
Achei leve e divertido, apesar de ter uns momentos de drama típicos de cidade pequena do interior. Eu adoro!
A autora foi respeitosa. Desenvolveu uma história para entretenimento, sem a intenção de ofender as crenças de ninguém.
O final aconteceu de forma abrupta, deixando a sensação de que não houve um desfecho.
Recomendo a leitura.
Marllon escritor 22/01/2024minha estante
também sentido falta de um desenrolar da história no fim. acho que esperávamos isso kkk


Monique 22/01/2024minha estante
Esse livro só não é cinco estrelas por causa desse final cara.




Paloma 25/08/2022

Brasilidade fantástica
Me joguei de cabeça nesse livro, porque os feedbacks que acompanhei no ano passado foram suficientes para me deixar com a certeza de que essa experiência seria ótima. E foi! Misturando realismo fantástico e regionalidade brasileira, esse livro, reuniu tudo que eu mais amo ler.

A história começa com Samuel jurando a promessa que sua mãe em seu leito de morte lhe fez jurar: ele iria em busca da avó paterna e do pai que nunca conheceu, para matá-lo e no percurso, acenderia três velas aos pés dos santos Padre Cícero, St Antônio e São Francisco. E assim começa a saga de Samuel, a história possui, nesse ponto, uma premissa que muito se assemelha à Pedro Páramo, de Juan Rulfo, grande clássico do realismo mágico mexicano. Mas a inspiração da autora vai além!

Samuel peleja em busca dos últimos familiares a que tem esperança de ter em vida, para cumprir com a última promessa feita a mãe. Mas os caminhos logo se encarregam de dar um outro rumo a Samuel. Chegando em Candeia, ele se vê desabrigado, com fome e rapidamente encontra abrigo na cabeça oca de um santo que, sabemos adiante, nunca foi colocada junto ao corpo da estátua por desvios de dinheiro e muita corrupção por parte do prefeito da cidade.

Dentro da cabeça que se transforma em seu abrigo, Samuel começa a ouvir diversas vozes de mulheres em oração à Santo Antônio. E aí começa todo seu desassossego. Samuel passa a ser visto como um intermediador das orações do santo, aquele que veio para ajudar os milhares de fiéis que pediam alguma coisa e se dirigiam a Candeia para ver acontecer o milagre de Samuel.

E assim a história vai se desenrolando com muita superstição, fé, mistério e humor. É uma delícia os diálogos entre Samuel e seu amigo Francisco. Esse livro tem um pouco de tudo desse Brasil, dos benefícios aos males. A escrita da autora é fluida e leve, a história vai dançando aos nossos olhos a medida que vamos nos envolvendo com a trama e os personagens. Recomendo demais!
Carolina.Gomes 26/08/2022minha estante
Eu amei essa leitura. Resenha ótima!


Alê | @alexandrejjr 02/09/2022minha estante
Esse livro parece ser uma delícia mesmo! E que título fantástico da tua resenha, Paloma, achei que ele diz tudo: "Brasilidade fantástica".




Larissa Verena 30/03/2022

Que leitura deliciosa! Leve, divertida e bem amarrada.
Mais um livro que leio por indicação do Book.ster e adorei!
Leonara 06/04/2022minha estante
Também lerei por indicação do book.ster, estou empolgada com os comentários positivos.


Larissa Verena 06/04/2022minha estante
Gostei muito Leonara, boa leitura!




Aline 13/04/2023

Gostei, mas não amei
Uma amiga me emprestou esse livro já faz um tempão e finalmente consegui lê-lo. Muitas pessoas já tinham me recomendado ou falado muito bem dessa obra da Socorro Acioli, então eu estava bem animada pra ler.

?A cabeça do santo? conta a história de Samuel, um homem que recebeu uma missão da mãe antes de morrer: encontrar uma mulher, perguntar por um homem e pagar uma dívida antiga. Após a morte da mãe, ele caminhou 18k a pé e chegou exausto e destruído em Candeia, a cidade onde boa parte da história se passa.

Candeia era uma cidade normal até que a obra de construção de uma estátua imensa de Santo Antônio deu errado e a cidade foi amaldiçoada. A cabeça do santo continuou no chão e foi nela que Samuel dormiu e viveu durante os dias que passou em Candeia - e daí vem o nome do livro.

Do ponto de vista narrativo, o livro é muito bom! É uma narrativa envolvente, cheia de mistérios e com pistas muito bem amarradas que levam a um desfecho surprendente. O trabalho com a linguagem também é incrível, é um livro com muitos trechos interessantes e muito humor também.

No entanto, pra mim, a história incomodou um pouco em um ponto. Quando Samuel passou a viver na cabeça do Santo Antônio, ele começou a ouvir as rezas das mulheres da cidade. Essas mulheres são retratadas como solteironas desesperadas pra casar - ideia reforçada várias vezes ao longo da narrativa. E sim, a palavra ?solteironas? é usada pra se referir a elas.

Por causa disso, o livro não me bateu bem. Então assim? é uma boa leitura, mas não amei. A temática, de certa forma, não cai bem em 2023.
Juliana Gouveia 13/04/2023minha estante
Excelente consideração, Aline.


@aloeliane 28/10/2024minha estante
Aline, é preciso considerar que o livro foi escrito em 2014 e que de lá para cá muitas mudanças aconteceram. Além disso, o livro se passa no interior de um estado no Nordeste - e como alguém que convive bastante com pessoas do interior, esse tipo de fala ainda é bem comum, o casamento ainda é uma grande busca e a maior conquista.




Carol 11/04/2024

E é bom!
"-Tu sonha muito, Chico.
-Foi a morte que me ensinou. O tempo de sonhar é em cima da terra."

Que história boa de ler, as andanças de Samuel e tudo que vai acontecendo me deixou presa no livro, não queria mais largar.


"Havia de ser algo estranho, gato não é bicho de dar cabimento a ninguém"
Maria 12/04/2024minha estante
Agora leia Pedro Páramo, é obrigatório depois de ler a cabeça do Santo. Na verdade antes, mas também li depois ksksks


Carol 13/04/2024minha estante
Orraaa, pois vou obedecer mesmo ??




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lumiá :) 20/04/2024minha estante
eu achei o finzinho confuso tbm ? as vezes precisava voltar pra saber se tinha lido mesmo o que li e entendido o que entendi. confesso que precisei dessa resenha pra saber que entendi certo. gostei dessa parte? n mt, mas adorei o livro


Lucas1429 20/04/2024minha estante
Bem isso mesmo né ? quero dar chance para as outras obras da autora.




Paulo de Sá 03/08/2014

Faltou verossimilhança
Apesar da sinopse ser bastante promissora, o livro não me agradou muito. A narrativa é confusa e não prende o leitor.
Aline Memória 22/09/2014minha estante
Concordo com a leitora acima, a narrativa me prendeu tanto que só larguei o livro quando o terminei.


Sérgio 09/06/2021minha estante
Perfeito! Fiz uma resenha curta há pouco no mesmo sentido.




Thay 05/04/2024

Eu tô assim ._. querendo entender pq não dei 5 estrelas. ele fica com 4,5 e tá tudo bem. foi muito bom ler esse livro. toda vez que eu parava só pensava em voltar a ler pra saber o que tava acontecendo em candeia.
esperei mais de realismo mágico, acho que foi pq venderam essa imagem do livro...
não sei se gostei do final... eu esperava outra coisa só não sei o que, mas sei que não era aquele final, por isso tirei 0,5 da nota.
Raela 09/04/2024minha estante
Quero leeeweer


Thay 10/04/2024minha estante
quando quiser eu te empresto




Leonardo 22/04/2014

Boa vontade, mas história muito fraca
Zé Lorota é um cabra bem mentiroso, todo mundo sabe. Gosta de contar vantagem e sempre inventa, exagera. É um sujeito hiperbólico. Ele vivia dizendo que tinha uma grande história pra contar, uma história cheia de emoções e reviravoltas. Só que ninguém nunca dava bola pra ele. Aonde ele chegava, tentava contar a história, mas não emplacava. Logo alguém desconversava, puxava assunto de política, de jogo, perguntava se ia chover Num sábado, num churrasco, quando ele menos esperava, a oportunidade apareceu. E era mais do que ele podia querer: estavam ali o prefeito, o promotor, o juiz, o padre, todo mundo da cidade que de fato importava. Zé Lorota estava comendo uma coxa de galinha com farofa quando o prefeito o intimou a contar a sua famosa história. Ele se engasgou um pouco de emoção e seu coração disparou. Tomou um copo de cerveja para limpar a garganta e começou a narrar a inigualável aventura nunca antes contada, nem por inteiro nem pela metade do homem que entrou por acaso na cabeça de um santo (uma cabeça gigante de uma estátua de Santo Antonio) e descobriu que podia ouvir as preces das piedosas mulheres daquela cidade suplicando a intervenção do santo para conseguirem casar. O homem teve então a brilhante ideia de ficar rico com aquele estranho dom, e as suas ações resultaram em uma grande confusão que mudou a história da cidade. Quando Zé Lorota abriu a boca para dar início à saga, um grave problema se materializou, trazendo, de imediato, outro a reboque, tão grave quanto o primeiro:

Primeiro problema: Zé Lorota não tinha uma história. Nunca teve. Era tudo lorota. Ele tinha uma ideia homem encontra cabeça de santo e descobre que pode ouvir as preces das mulheres da cidade. Só isso. Como ele nunca havia tido que contar a história antes, ainda não havia parado para pensar que ele precisaria desenvolver seu conto para fazer jus a toda a propaganda que ele próprio havia feito acerca dos méritos da narrativa.

Segundo problema: Zé Lorota era um sujeito de raciocínio rápido, ah, isso ele era. Isso é um problema? É, porque você já deve ter adivinhado o que ele fez em seguida. Ele não apenas tinha o raciocínio rápido. Era muito vaidoso. Quando disse as primeiras palavras (Tudo começou lá no sertão, muito tempo atrás), o problema da falta da história apareceu, mas foi descartado em menos de um segundo pelo seguinte pensamento: Eu improviso. Vai dar certo.

E foi assim que Zé Lorota contou a sua história. Muito, muito rapidamente, ele criou um passado para Samuel, o personagem principal (ele estava indo a Candeias, a cidade onde ficava a cabeça do santo, em busca do seu pai e de sua avó, para pagar a promessa feita a sua mãe no leito de morte); criou um passado para a cidade (uma cidade moribunda, com a maioria das casas abandonadas, tudo fruto do que se considerava uma grave maldição a cabeça do santo, feita para coroar uma gigantesca estátua de Santo Antonio, para rivalizar com a do Padre Cícero de Juazeiro do Norte, não pode ser colocada no corpo, o que sentenciou o santo a permanecer decapitado.); criou alguns personagens, muita ação.

No começo, tudo parecia ir dando certo. Ele foi abrindo estradas, caminhos, encruzilhadas, sem se preocupar em ligá-las a nada, afinal, estava no começo da história, e se assombrava com a sua própria capacidade de improvisação. Na mesa do churrasco, as pessoas se aglomeravam, atraídas pelo jeito teatral com que Zé Lorota contava sua história.

Zé Lorota foi ficando envaidecido com seus próprios êxitos, e ousava cada vez mais. Começaram a aparecer então pontas soltas na sua história, mas ele não se importava. O ritmo da narrativa foi ficando insano, de tantos fatos que ele empurrava goela abaixo. Uma hora era um radialista que aparecia, depois um coveiro, depois uma velha com poderes sobrenaturais. Não satisfeito com isso, Zé Lorota inventou um cinema na cidade, um prefeito corrupto (se bem que isso não é coisa muito inventada), milhões desviados, direitos de imagem vendidos à CNN, repórteres, bombas, um amor para Samuel, pessoas que passaram quinze anos escondidas e mais, e mais, e mais. A imaginação de Zé Lorota não tinha limites. E quanto mais ele inventava, mais difícil ficava terminar a história. Quanto mais ele inventava, mais gente se aglomerava e maior a expectativa justamente pelo modo como tudo aquilo iria encontrar seu termo. Zé Lorota estava nervoso, com medo de um grande fracasso. Juntou ar nos pulmões e, num fôlego só, lembrando-se de todos os cordéis que já havia lido e das novelas que havia visto, terminou a história da melhor maneira que pôde, com todos os clichês possíveis.

Quando disse e assim termina a história da cabeça do santo, encheu um copo grande de cerveja e bebeu inteiro, de uma só vez, enquanto sondava, com o canto do olho, as reações dos presentes. O prefeito teria gostado? E o juiz? O promotor? A mulher do prefeito?

Essa historinha, caro leitor, é um resumo da minha impressão ao terminar de ler A cabeça do santo, de Socorro Acioli. Quando terminei a leitura, fui ler as orelhas do livro e os agradecimentos e senti-me um pouco intimidado: a autora é doutora em estudos literários e fez um curso chamado Como contar um conto com Gabriel García Márquez em pessoa, em 2006, em Cuba. Mais do que isso, nas palavras da própria autora, as primeiras ideias do romance foram escritas justamente para o curso, e Gabriel García Márquez não só aprovou o projeto, como o incentivou, entusiasmado. Ainda nos agradecimentos, a autora expressa gratidão a três professores que avaliaram o trabalho (o romance, presumo) durante o Exame de Qualificação do seu doutorado em Estudos de Literatura.

Quando li isso, pensei: Peraí! Foi este mesmo livro que acabei de ler que foi avaliado (e aprovado) por uma banca de doutores? Porque o elogio de Márquez à ideia é compreensível: a ideia do romance é ótima. Um homem que ouve orações de mulheres pedindo maridos pode render uma excelente história. Foi justamente por conta deste mote que escolhi ler este livro. Mas a autora não foi feliz em transformar a ideia num livro. Ou foi? Meu senso estético travou enquanto eu lia esta obra, que não pude perceber seu valor?

Como ilustrei na história do Zé Lorota, os fatos se sucedem numa velocidade espantosa, como se a autora fosse escrevendo tudo que lhe viesse a cabeça, sem parar para pensar se aquilo se encaixaria na narrativa ou não. Não vou analisar cada aspecto falho do livro, mas acredito que vale a pena ressaltar alguns:

Candeia era quase nada. Não mais que vinte casas mortas, uma igrejinha velha, um resto de praça. Algumas construções nem sequer tinham telhado, outras, invadidas pelo mato, incompletas, sem paredes. Nem o ar tinha esperança de ter vento. Era custoso acreditar que morasse alguém naquele cemitério de gigantes.

Por conta da maldição do Santo Antonio, a cidade era o que se dizia acima. Eu, que sou do interior, e trabalho muito, muito mesmo, viajando e fiscalizando não apenas cidades pequenas do interior, mas pequenas povoações no interior destas pequenas cidades, consigo muito bem visualizar o que é um local com não mais que vinte casas. Para deixar bem claro, imagine uma rua com dez casas de um lado, dez casas do outro. Pronto. Aí está a cidade. Uma igrejinha no começo da rua. Um bar. Se vinte casas já não seriam suficientes para fazer uma cidade, imagine no caso específico de Candeia, em que as casas eram mortas e pouquíssimos eram os habitantes que ainda resistiam à maldição e permaneciam na cidade. Em outra parte do livro, a autora menciona que provavelmente apenas seis casas ainda eram habitadas. Aí comecei a fazer as contas: (1) a dona do bar, que tem um papel importante na trama; (2) a avó de Samuel; (3) Chico Coveiro, outro personagem importante; (4) Aécio Diniz, o radialista da cidade (sim, uma cidade com seis casas tem uma emissora de rádio que, pasmem, tinha, antes mesmo da chegada de Samuel e do surto casamenteiro que ocorreu na cidade, um programa especial sobre noivas); (5) Dona Rosa e seu moribundo marido, um casal citado no início da narrativa; (6) o funcionário encarregado de manter limpa a casa do prefeito, que, naturalmente, não residia na cidade e aparecia lá uma vez por ano. Sem forçar muito a minha memória (que é ruim) nem consultar o livro, cheguei a seis casas necessariamente habitadas. Não sobrou ninguém na cidade? Claro que sobrou, porque dentro da cabeça do santo Samuel conseguia distinguir pelo menos cinco orações, uma delas da filha da dona do bar. Sobravam, portanto, quatro outras moças querendo casar que não residiam em nenhuma das casas acima citadas.

Mas não é só isso. Depois que a cidade começa a fervilhar por conta dos casamentos que começam a ocorrer graças à intervenção de Samuel, um dos casais resolve simplesmente abrir um cinema! Qual o impacto disso na trama? Nenhum! Mas o cinema faz sucesso e vive lotado todos os dias, exibindo, dentre outros filmes, dia sim, dia não, Casablanca. Sim, o filme clássico, um dos mais amados da história do cinema. Peraí mais uma vez! Minha cidade natal, Paripiranga, tem quase trinta mil habitantes e o dono da faculdade de lá (sim, uma faculdade grande com vários cursos e com muitos, muitos alunos da região) abriu um cinema. Preço baixo, mas sucesso zero. Não houve público. Não houve interesse. Claro, sei que estou sendo um tantinho anacrônico ao comparar realidades distintas, mas uma cidade com seis casas habitadas, cujo movimento naquela época consistia basicamente em ser caminho obrigatório para romeiros rumo a Canindé, lotar sessões e mais sessões de cinema isso sim poderia ser considerado um milagre de Santo Antonio.

Talvez estes exemplos isolados não forneçam elementos suficientes para que você, leitor tenha uma ideia de como é confuso o livro. A Cabeça do Santo não funciona enquanto narrativa. Sabem aquele velho recurso de revelar que aquele personagem que todos julgavam morto há anos (mais de vinte anos, num dos casos) está vivo e esteve escondido, de maneira completamente improvável, pertinho de todos todo aquele tempo? Pois A cabeça do santo, com pequeníssimas variações, utiliza-se do mesmo expediente não apenas uma, mas duas vezes! Mais uma vez: para uma cidade com seis casas habitadas isso soa um tanto estranho, não é?

Após a leitura eu fiquei matutando, matutando, em busca de um sentido que eu não houvesse percebido para toda essa narração hiperbólica. Primeiro, tentei visualizar o livro como um filme, eu assistindo ao lado dos meus irmãos. Só o que me vinha à cabeça a cada vez que uma situação absurda daquelas se sucedia era nós todos exclamando em uníssono: Que filme ruim!

Aí veio outra ideia, essa com um pouco mais de lógica: este livro é a transcrição em prosa de um daqueles livretos de cordel! Para quem já leu, sabe como o cordel é repleto de histórias absurdas, a maioria das vezes sem pé nem cabeça (o que não lhes tira o mérito, deixo claro). A história do cordel tem uma relação próxima com a dos repentes, também tradicionais no nordeste. Há uma tradição oral muito forte, bem como a presença do improviso. Faz parte do objetivo do cordel encantar o leitor também com estas histórias absurdas, já que elas funcionam mais ou menos como fábulas.

Esta foi a única chave de leitura do romance que me fez ver alguma lógica na forma como ele foi contado. Mas não é suficiente para justificá-lo. Se o objetivo da autora foi escrever um cordel em prosa, ela não foi feliz. Falta fluidez na história, faltam personagens carismáticos (algo que não comentarei de maneira mais aprofundada, mas que é lamentável: nenhum personagem é interessante, nenhum personagem é de verdade, todos são rasos e artificiais, inclusive e especialmente o próprio Samuel), falta uma prosa elegante e competente. Falta, em resumo (e sendo bem duro, eu sei), ter sido bem escrito para conquistar o leitor.

Minha Avaliação:

1 estrela em 5.

site: http://catalisecritica.wordpress.com
Aline Memória 22/09/2014minha estante
Uma observação:
Quanto ao sucesso do cinema no interior do Nordeste, veja o filme Cine Holliúdy e perceba a influência que a sétima arte teve no sertão; tendo lotado, sim, várias e várias sessões.
Inclusive, até a metade do século passado, em que a maioria das casas não tinha TV, o cinema nas cidades do interior fez muito sucesso e atraía muitas pessoas. Se na sua cidade natal não foi assim, imagine que os tempos são outros e todo mundo hoje em dia tem uma TV em casa.


Aline Memória 22/09/2014minha estante
Outra observação, em relação a este seu trecho:

"(4) Aécio Diniz, o radialista da cidade (sim, uma cidade com seis casas tem uma emissora de rádio que, pasmem, tinha, antes mesmo da chegada de Samuel e do surto casamenteiro que ocorreu na cidade, um programa especial sobre noivas)"

Na verdade, a emissora não era da cidade de Candeia, onde se passa a emissora, e sim de Canindé.
Isso fica bem claro nas págs. 59 e 60 do livro, em que o nome da rádio é 89.1 Canindé AM. A filial na cidade só abre depois do surto casamenteiro.
E em nenhum momento da história (que eu me lembre) se diz que Abílio Diniz mora na cidade de Candeia.




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