Memorial de Aires

Memorial de Aires Machado de Assis
Machado de Assis




Resenhas - Memorial de Aires


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Fabio Shiva 28/08/2010

Um romance de despedida
Um romance sobre a despedida.

“Memorial de Aires” foi o último romance de Machado de Assis, publicado em 1908, mesmo ano de sua morte.

Recomendável para os que já amam Machado. Pois sua beleza maior está em ser o término de uma vida de narrativas, o verso final proferido pelos lábios moribundos do poeta, o desfecho, o lacre, a tampa do caixão.

Para mim, que já o amo, esse livro trouxe um profundo sabor de velhice, de saudades irreconciliáveis, de uma ternura cansada pelos achaques da idade, mas de modo algum vencida, uma ternura essencial que parece o tesouro maior que o autor salvou para o último de seus livros.

Pela estrutura é muito semelhante a “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, com uma diferença crucial: aqui não há veneno.

É como se o Conselheiro Aires (já presente em “Esaú e Jacó”), aposentado das exigências da vida diplomática, estivesse cansado do olhar crítico e da ironia, preferindo enxergar e contar o bem onde antes fazia questão de tecer o mal.

O resultado é um livro suave, ameno, um pouco triste e monótono também. Exatamente como imaginamos a velhice.

(14.12.09)
Gláucia 13/05/2011minha estante
Nossa, linda resenha, principalmente o terceiro parágrafo. Forte hein?


Fabio Shiva 13/05/2011minha estante
Valeu pelo comentário, Gláucia querida!
Viva nosso Machadão!!! Espero reler em breve o Brás Cubas!


Hérico 05/08/2012minha estante
Concordei plenamente com esta resenha. Não tinha gostado muito do livro, achei-o sem sal. Devo ter achado isso porque não cheguei ainda à maturidade da velhice. Muito boa a resenha.


Fabio Shiva 05/08/2012minha estante
Boa ideia Herico! Vou reler o Brás Cubas, valeu!!!




KamillaBarcelos 23/06/2009

O meu escritor favorito é o Machado de Assis, mas neste livro ele deixou a desejar.
Durante a leitura eu sempre estava a espera de acontecer algo que realmente tivesse empolgação ou até mesmo relevância.
Micael81 13/12/2016minha estante
Um ponto "relevante" ou "empolgante" pelo menos para críticos eu acho é o que acontece com a Fazenda. A viuva eu acredito acaba dando-a aos ex-escravos com a promulgação da lei aurea. O que não é muito enfatizado no livro, mas que me parece ser bem forte. Mas o narrador não enfatiza né.




Jackie Morena 26/02/2009

Adoro o estilo de escrever do Machado. O livro é bom, mas nao o colocaria entre os melhores que li na vida. Ele faz sentido lido em conjunto, ou melhor, logo após, Esaú e Jacó. E acredito que foi a empogação com o primeiro que me fez ler o Memorial até o final.
TaTá 18/10/2011minha estante
gostei da dica de leitura dupla:D o bom mesmo é sempre ter uma ideai superficial do livro para não criar falsas expectativas!




Lucas 09/01/2023

A velhice como instrumento de contemplação e reflexão
Foi cerca de dois meses antes de falecer, em setembro de 1908, que o escritor Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) lançou a sua última preciosidade literária: Memorial de Aires marca as derradeiras linhas do maior escritor brasileiro de todos os tempos. Mesmo que não possa ser comparado às obras mais famosas de Machado de Assis, este seu último livro funciona como um grande compêndio da carreira literária do "bruxo do Cosme Velho".

Se Memorial de Aires é a última obra da vida de Machado de Assis, ela é a segunda "escrita" por José Marcondes da Costa Aires, conselheiro (espécie de cônsul, com carreira diplomática internacional) que já havia narrado Esaú e Jacó, livro de 1904 que trata das contendas entre dois irmãos da aristocracia carioca. Lá, o conselheiro Aires já tinha dado pistas da existência de um diário onde ele escrevia passagens dos seus dias. Estas anotações diárias correspondem ao próprio Memorial de Aires, estruturado sob uma forma de diário com relatos não contínuos ocorridos entre 1888 e 1889. Diplomata aposentado e viúvo, Aires tinha voltado ao Brasil em 1887 para aqui viver seus últimos anos de vida.

Desse modo, o conselheiro se apropria do seu conhecimento como diplomata e de uma robusta capacidade de observação para registrar no papel as suas relações pessoais daquele período, sem um viés apaixonado ou tendencioso. A começar pela irmã, Rita, pela qual nutre um afeto especial. O escopo do olhar de Aires, no entanto, recai sobre o casal Aguiar e D. Carmo, que se não eram família do protagonista, foram claramente baseadas na própria vida de Machado de Assis e sua esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais (1835-1904). Assim como na ficção, Machado e Carolina não tiveram filhos, algo a qual parece ter deixado-os melancólicos especialmente com a chegada da velhice.

Mas Aguiar e D. Carmo, se parecem espelhar esse sentimento de frustração, tiveram dois "filhos" de criação. O primeiro deles foi o afilhado Tristão, que passou boa parte da sua vida até a adolescência cercado pelos cuidados e mimos dos padrinhos. Depois, o moço acompanhou seus pais em mudança para Lisboa. Posteriormente, o casal Aguiar "adota" Fidélia, rica viúva que havia casado sem a permissão dos pais, fazendeiros do interior do Rio de Janeiro.

Fidélia é a protagonista feminina das memórias do conselheiro. A contemplação da moça aos pés do jazigo do seu marido falecido é o pano de fundo da primeira cena do livro, inclusive. Tal cena é o gatilho para a questão da viuvez, que gera nas páginas do memorial várias e cirúrgicas reflexões de como se dá a relação entre quem fica e quem foi. Na retaguarda desse contexto, Machado (ou melhor, o conselheiro Aires, pois ambos parecem confundir-se) traz ao leitor outra tônica: a velhice, com todos os seus desdobramentos (positivos ou não).

As memórias escritas pelo conselheiro Aires são, numa definição exageradamente curta, uma grande reflexão não linear sobre essa fase da vida. Se aos olhos dos mais jovens a velhice pode ser uma sucessão de monotonias (a leitura da obra, inegavelmente, alimenta essa sensação), a terceira idade é sim um momento de reflexão. Aires nos ensina que ser idoso não é ser inútil: é estar mergulhado num contexto que preza pela observação, pelas companhias amigas, pelas relações desenvolvidas durante os anos (relações estas mais pessoais, próprias do final do século XIX, quando tudo certamente parecia passar mais devagar), o convívio com a solidão e seus meandros (nem todos negativos), a já citada viuvez e a relação com entes queridos que já partiram, os tipos de legado que uma geração pode passar para a outra, entre inúmeros outros temas. E tudo isso é derramado por Machado de Assis não de uma forma melancólica, mas sim com uma narrativa serena e com os já recorrentes traços irônicos e de bom humor machadianos.

Aires, entretanto, não olha só para os seus companheiros de velhice: boa parte do seu diário dedica-se a observar e refletir sobre uma linda história de amor, que envolve dois personagens já citados. Temos, assim, o contraste entre a velhice e o nascimento de um relacionamento entre dois jovens. Estes elementos não são apresentados ao leitor dicotomicamente, entretanto. O olhar do conselheiro Aires tempera com ainda mais sabedoria e maturidade a sublime decisão de passar a vida com alguém. E isso era lindo em 1889 e é lindo ainda hoje, apesar de esquecido por uma realidade fútil e imediatista.

Tal fato também amarra a narrativa e traz substância ao raciocínio exposto inicialmente: ao usar um discurso em primeira pessoa sem estrutura convencional (o diário propriamente dito) e colocar nisso uma boa dose de romantismo, Machado de Assis une os traços de romantismo de suas primeiras obras com o verbo realista que o caracterizou a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Por mais que Machado de Assis nunca tenha esquecido-se do papel do romance em seus últimos livros, aqui ele atinge um nível superior de equilíbrio entre romantismo e realismo, vertentes que confundem-se na sua trajetória literária.

Memorial de Aires é um livro que sela com qualidade a carreira literária de seu autor. Apesar dos momentos de monotonia, a terminante obra de Machado de Assis oferece lindos momentos de contemplação, descritos sob um olhar simpático e aprazível do conselheiro Aires. Machado de Assis não poderia, portanto, ser mais certeiro: ao escrever um livro que trata da terceira idade no Rio de Janeiro do final do século XIX, ele deixa um relato com muito de si mesmo, elevando ainda mais grau de qualidade do seu perene legado literário.
Natalie Lagedo 09/01/2023minha estante
Gostei das tuas observações, Lucas. Ainda não li Memorial de Aires, vou adicioná-lo à minha lista.




spoiler visualizar
Micael81 13/12/2016minha estante
Não vi a razão para colocar "spoiler", não tinha spoiler nenhum.

Mas também fiquei curioso sobre o TCC, está disponível para ler?




Natali.Schmitt 29/06/2022

MEMORIAL DE AIRES
Ficha de leitura de junho.

"MEMORIAL DE AIRES" esse livro é tipo um diário íntimo. Onde Aires conta registros das experiências vividas e dos seus sentimentos.
Passado nos anos de 1888 e 1889... Aires conta também da sua irmã Rita, Aires falava que todos os meses ela ia no cemitério orar para seu pai, mãe e marido.
Aires visitou algumas vezes o Brasil... O mais do tempo ele viveu por várias partes.
Nele fala-se sobre dois anos de sua vida como um diplomata aposentado.

Eu gostei muito desse livro conta um pouco sobre a vida de Aires o que acho bem interesante... Ele da conselhos sobre a vida é sobre isso o que mais gostei.
Talia 02/07/2022minha estante
Ok, nota: 8.




AiltonJF 04/03/2009

Eu sou obrigado a discordar dos colegas que dizem ser este um livro "menor" dentre os produzidos na chamada segunda fase da obra machadiana. Por dois motivos.

O primeiro é que bem poucos escritores conseguiram tecer uma narrativa interessante na forma de um diário, que é um gênero textual bastante específico e individualizado. E o segundo é que ele, além de conseguir fazer isso, dá ao livro um tom menos ácido que nos anteriores. E eu, pessoalmente, acho muito bonito esse tom menos carregado.

O Memorial de Aires, para além das histórias particulares de cada personagem, enfoca também as transformações que a sociedade brasileira passava na época, como a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Mas isso é apenas pano de fundo, porque, como sabiamente diz o Conselheiro Aires: "Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular."
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Solinercia 06/11/2024

Dos piores que já li do Machado
É muito difícil se afeiçoar ao narrador, ele parece apenas um fofoqueiro que liga mais pra vida dos outros que a própria. É difícil engolir a narrativa dele, por mais que a história da Fidélia me interessasse.

Num geral, não me agradou, e o pouco que o fez foi relacionado ao contexto político da época, que foi a única parte que genuinamente gostei da história.

Machado tem melhores, esse aqui foi uma decepção.
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Juliana 27/09/2012

Memorial de Aires-Machado de Assis
O livro é bom,mas por ser do Machado de Assis esperava mais.
Aires,um diplomata aposentado,resolve escrever suas memórias sobre sua vida e o convívio com alguns amigos muito importantes na história,como a viúva Fidélia,uma jovem que ficou viúva cedo e que desde então se fechou em seu mundo e por quem Aires nutre uma certa paixão.
Vale a pena lê-lo se não criar nenhuma expectativa.
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Karen Filipelli 24/03/2010

Técnica perspicaz, zero entretenimento.
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Hudson 07/12/2010

Achei um livro bem interessante...

onde o peso da falta dá quase toda a tônica do enredo.

todos os interlocutores, sentem falta de algo que fica evidenciado ao longo do livro

e todos ao mesmo tempo estão atrás do que os falta...

um livro quase que totalmente saudoso, mas não marasmático

onde várias existências e anseios se cruzam e muitas vezes batalham entre si,

algumas impressões marcam bastante como as tardes na praia do Flamengo, dá até saudade de um tempo que não se viveu

como presente em muitas obras de machado o cotidiano de um Rio antigo é abordado enriquecendo mais esta grande obra.

Machado consegue quase que uma abordagem "Dostoevskiana" em muitos aspectos existênciais dos personagens Retratados
dando uma impressão psicológica bem grande.

Um livro bem legal, que acho que é muitas vezes relegado mas uma leitura que vale a pena.

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Gláucia 13/05/2011

Memorial de Aires - Machado de Assis
Último romance do autor, o livro tem traços autobiográficos. Escrito poucos anos após a morte de sua amada esposa e companheira, conta a história de um casal de idosos, suas alegrias e a grande tristeza de não terem tido filhos. Como Machado e Carolina.
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Cesar525 27/11/2011

Leigo que sou, a obra me surpreendeu bastante. Pois aqui a magnífica engenhosidade literária de Machado de Assis está a serviço de personagens perdidos na saudade e de encontro irremediável com a solidão. Sim, há ainda o agudo olhar do autor; há sua escrita inconfundível; mas há uma tristeza que me pareceu inédita.

E ela transborda até nós. Ao concluir a leitura somos tomados por uma sensível melancolia; daí resta saber se toda ela vinda da história, ou se dividida em parte com os resquícios autobiográficos que Machado de Assis impôs á obra.

Para mim, a perfeita obra final na vida de um autor.


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Fátima 18/07/2012

Memorial de Aires
A obra traz as memórias de Aires após sua aposentadoria e a ida para o Rio de Janeiro. Aires convive com sua irmã e amigos próximos, registrando em dias essas relações. O desfecho intriga com um suspense deixado por Machado, da suposta morte dos grandes amigos Aguiares.
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