Simone 03/03/2016
Machado de Assis
Mais que a história de amor entre uma viúva e um rapaz de intenções duvidadas (por alguns), o último livro de Machado traz a serenidade e monotonia da velhice.
O narrador em 1ª pessoa e a escrita em forma de diário com que o diplomata Aires, recém aposentado e voltado da Europa, onde deixou enterrada sua esposa, escreve suas memórias só permitem descrever até onde as outras personagens são capazes de revelar através de linguagens (corporal, verbal, atitudes) ou por sensações e/ou crivo de outras personagens relatadas a ele, principalmente sua "mana" Rita, a qual tem acesso livre à residência onde acontecem os atos.
Interessante é a localização da história, portanto da obra, no contexto histórico-social da época. A preocupação dos fazendeiros com a iminente abolição da escravatura que permeia atitudes de personagens poderia originar algumas análises.
No entanto, a maior parte da história trata da paixão entre Tristão e Fidélia e da resignação por parte de Aires, que já conta com 66 anos, ao amor, por saber que em sua idade já não poderia dar o que uma rapariga merece.
A viúva e o rapaz não se conheciam, contudo os liga uma afeição enorme tida pelo casal Aguiar, que por não terem filhos, os considera como tal.
Visto pelo ângulo de um leigo pode parecer uma história enfadonha e melosa, porém Machado consegue, sobretudo pela honestidade do narrador e suas citações, trazer-nos a pensar sobe grandes questões humanas.