Alana 15/04/2016Bizarramente maravilhosoApos a leitura desse livro, é fácil entender porque Voltaire é considerado um filosofo polemista e satirista. Essa é uma historia que, ao mesmo tempo, entretêm e provoca reflexões. Voltaire dedica toda a obra para criticar as ideia de Leibniz, de que o mundo é o melhor possível, que Deus não poderia ter construído outro melhor e que tudo corria às mil maravilhas.
E para isso, Voltaire criou Pangloss. o filosofo da historia, que é uma imagem bem caricata dos ideais de Leibinitz.
"Pangloss confessava que sempre sofrera horrivelmente; mas, tendo uma vez
afirmado que tudo ia às mil maravilhas, continuava a sustentá-lo, mas não o cria"
Mas o personagem principal do livro é Cândido, um pupilo de Pangloss que vive maus bocados durante todo o livro, juntamente com outros personagens que os são queridos, nessa jornada pelo mundo.
Assassinatos, estupros, roubos, desastres naturais, torturas.. Cândido tenta encaixar tudo na máxima que aprendeu: de que tudo é destinado para o melhor fim.
Se sua família o expulsou de casa, deixando-o sem dinheiro e afastando-o de sua amada, então um exercito invadiria o castelo e mataria todos enquanto ele esta longe. Se piratas roubam sua fortuna, mais tarde eles seriam atacados por outro navio e morreriam afogados no oceano com todo o tesouro roubado. O livro segue assim, num jogo de compensações distorcidas e bizarras.
Voltaire consegue, com isso, ridicularizar Leibinz brilhantemente, além de criticar, com a mesma acidez, vários defeitos humanos e costumes da sociedade de sua época, que permanecem ainda muito atuais.
Ao meu ver, três personagens merecem destaque: Cândido, que personifica aquele aqueles que são passivos e não são capazes de expressar sua opiniões, deixando-se à merce de influencias externas; Pangloss, que nunca abre mão de sua opinião primitiva; e Martinho, o pessimista que, no final das contas, encarava tudo com paciência e sensatez, ao esperar sempre o pior das pessoas.
Cândido (ou Otimismo) é um clássico incontestável e muito bem estudado, ao longo dos séculos, desde sua publicação. Termino, portanto, a resenha com o meu trecho preferido do livro:
" - Se ficarmos aqui (Eldorado), não seremos mais que os outros; ao passo que, se voltarmos para o nosso mundo apenas com doze carneiros carregados com o cascalho do Eldorado, seremos mais ricos que todos os reis em conjunto, não mais teremos que temer a inquisidores e poderemos facilmente recuperar a senhorita Cunegundes.
Tais palavras agradaram a Cacambo. O fato é que a gente gosta tanto de fazer-se valer entre os seus, de paradear o que viu pelo mundo, que os dois felizardos resolveram não mais o ser, e pediram a Sua Majestade licença para deixar o país. "