Leila de Carvalho e Gonçalves 17/06/2022
A Importância Do Espírito Crítico
Publicado originalmente em 1759, ?Cândido, Ou O Otimismo? é um conto filosófico e satírico escrito por Voltaire, um dos mais proeminentes nomes do Iluminismo. Comenta-se que o livro foi escrito em apenas três dias no ano anterior de seu lançamento, tendo como protagonista um jovem cujo o nome intitula a narrativa.
Em ritmo veloz, ela apresenta as aventuras de Cândido, após ser expulso do seu ?Jardim do Éden?, o castelo do barão de Thunder-ten-Tronckh, localizado na Vestfália, por ter beijado Cunegunda, a filha do tal aristocrata, que até então fora seu protetor.
Com o banimento, o jovem encerra seus ensinamentos com Pangloss, um mestre adepto do otimismo de Leibiniz, brilhante matemático mas filósofo medíocre. A bem da verdade, Cândido passa a adotar esta corrente filosófica na nova fase da vida, mas acaba decepcionado, conforme testemunha e toma parte de algumas situações ao longo da sua jornada.
Curiosamente, boa parte, por mais improvável e fantasiosa que pareça, tem uma correlação com acontecimentos históricos, isto é, o terremoto de Lisboa (1755) e a Guerra dos Sete Anos (entre 1756 e 1763). O resultado é uma trama picaresca, uma espécie de Bildungsroman ? romance de formação ? que ridiculariza a religião, os governos, os filósofos de forma perceptível e alegórica. Aliás, Pedro Meyer, responsável pelas ilustrações da edição, ressalta na Fortuna Crítica que ?estas divertidas alegorias parecem pura brincadeira, quando na verdade compõem uma obra incendiária?.
Na verdade, uma obra incendiária cujo o sucesso e o escândalo foram instantâneos, chegando até a ser proibida por blasfêmia religiosa, sedição política e hostilidade intelectual escondidas sob um viés ingênuo. Contudo, ao tratar de temas universais e atemporais, até hoje ela desperta interesse e está inserida no cânone literário.
Por sinal, minha relação com sua leitura foi muito semelhante ao relato de Chico Felitti na Apresentação: ?Eu li Cândido em uma manhã. E foi mais um reencontro do que uma descoberta. Este livro esteve do meu lado o tempo todo. O autor escrevia em 1700 e pouco, mas falava exatamente do mundo em que eu vivia...?, pois como explica a pós-doutora Ana Luíza Reis Bedé: ??Cândido, Ou O Otimismo? expõe a frivolidade, o egoísmo e a ganância das classes privilegiadas?, uma desigualdade impiedosa que ainda assusta.
Em síntese, o conto debruça-se sobre a importância da preservação do espírito crítico e a persistência de uma postura ética durante a vida. De acordo com a tradutora Carolina Selvatici: ?É interessante perceber como as relações sociais mudaram pouco na nossa sociedade nos últimos quatrocentos anos. Chega a ser ridículo como algumas situações podem ser comparadas às atuais. Desde negros sendo vistos como inferiores, passando pela degradação feminina, considerada absolutamente normal, aos mil golpes financeiros em que o inocente Cândido cai ? a sensação às vezes é a de que estamos vendo uma série de reportagens do Fantástico?.
Finalmente, mais uma edição sob medida da Autofágica, ideal para ocupar um lugar em sua biblioteca, ou presentear neste Natal.
Notas:
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