Amanda 30/04/2021
Maquiavel com toda certeza é um dos nomes mais famosos de todos os tempos, afinal, que atire a primeira pedra quem nunca ouviu falar dele.
Todo político, ainda que nunca tenha lido O Príncipe, aplica-o no seu dia a dia. O livro de Maquiavel é um verdadeiro manual de como fazer política, de como jogar com elegância o jogo do poder e se dar bem na vida pública.
Maquiavel escreveu O Príncipe em 1513, logo após ser banido de Florença (na Itália), que deixou de ser uma república e passou a ser governada por um Príncipe, Lourenço de Médici II. Nesse período em exílio, escreveu a obra, que segundo historiadores, foi escrita com objetivo de conseguir um ?carguinho? no novo governo. No entanto, a obra somente foi publicada postumamente, em 1532.
No contexto em que foi escrita a obra, o Príncipe (ou seja, qualquer espécie de governante) não ascendia ao poder exclusivamente pelo critério hereditário. Por isso, o risco de perder o trono era real, o que ensejou a coletânea de pequenas cartas, destinadas ao novo príncipe, com dicas práticas sobre como ele deveria se portar no ?novo cargo?, de modo que tivesse longevidade como príncipe. Era o Game of Thrones da vida real meus amigos!
Maquiavel tratou a política de uma perspectiva que nenhum outro autor tinha abordado até então. A partir de Maquiavel, a política deixa de ser analisada como uma questão divina, um presente de Deus, e passa a ser vista como uma atividade humana, em que é necessária a estratégia certa para manutenção do poder.
Por isso seu livro se tornou um clássico. Ele fala a linguagem simples, ensina o ?arroz com feijão?, fala a língua do povo, com conceitos simples e prontamente aplicáveis pelo Príncipe para permanecer sentadinho na cadeira do poder. Basta ler o livro para enxergarmos isso? lemos um livro escrito no século XVI, em pleno século XXI, com uma facilidade incrível. Não espanta, portanto, o sucesso que a obra possui.
O Príncipe: um livro de gestão
Além disso, o livro não se aplica apenas aos assuntos da política. Se você é um gestor de equipes, um empreendedor ou tem algumas pessoas trabalhando sob sua tutela, seguramente muitos dos ensinamentos (óbvio, desde que devidamente contextualizados!) são úteis para você.
O que chama atenção é o fato de que as ?dicas? que Maquiavel dá ao Príncipe não são aquelas que tradicionalmente pensaríamos??seja bondoso, honesto, fale sempre a verdade??, nada disso! No livro, o que vemos, são recomendações para que o Príncipe faça todo o possível para manter-se no poder, falseando a verdade quando necessário. Manipulando, usando o temor para garantir a paz do seu Estado, dentre outros, porque os homens são ingratos e infiéis, por isso razão não há para ser diferente com eles.
Por que começar a investir hoje?
O que Maquiavel ensina ao príncipe?
O livro é repleto de ensinamentos objetivos ao príncipe, os quais evidentemente são úteis para que nós saibamos nos defender da lábia empregada pelos políticos. Não é possível analisar todos, mas vejamos 7 ensinamentos importantes extraídos da leitura.
Problemas do Estado são como a tuberculose
Quando se trata de assuntos do Estado, o bom gestor (Príncipe) deve ter a habilidade de se prevenir da ocorrência de problemas. Para Maquiavel, problemas do Estado são como a tuberculose: no início, o mal é fácil de curar, mas difícil de detectar. Sem o tratamento, e com o passar do tempo, o diagnóstico se torna muito fácil, mas difícil de tratar. Em assuntos do Estado (de empresas, de negócios, etc.) o princípio é o mesmo.
Quanto mais sábio é o Príncipe, maior sua habilidade de prevenir problemas que possam o atrapalhar futuramente, e que demandarão mais recursos (guerra, mortes, maiores impostos, etc.) para serem solvidos.
Muito cacique pra pouco índio é confusão na certa
Quando o príncipe não toma as rédeas da gestão do Estado, dando muito poder a Ministros e outros asseclas, seu governo corre risco, pois o povo precisa obedecer a um só senhor, e desde que não seja oprimido, irá amá-lo. Quando muito poder é dado a assessores do Príncipe, o povo fica confuso sobre quem é, de fato, seu senhor, o que pode trazer muitos problemas ao Príncipe. Nesse sentido, Maquiavel cita o exemplo da França, com seus diversos barões locais, que faziam com que o rei tivesse pouca autoridade.
Por isso o poder deve ser altamente concentrado, para que o povo perceba, nitidamente, quem é o seu senhor e a quem ele deve obediência.
P.S.: nesse sentido, nossos governantes parecem ter entendido bem a mensagem de Maquiavel. É comum que, toda vez que um ministro ou um assessor começa a ganhar destaque, o governante sumariamente corte o sujeito. Governantes aplicando Maquiavel.
O mal deve ser feito de uma só vez, e a bondade administrada aos poucos
Todo príncipe deve saber como fazer o mal, e fazê-lo ou não de acordo com a necessidade. Esse princípio se aplica a todo governante, gestor ou pessoa em posição de liderança. O gestor não pode passar a impressão de que é ?liberal demais?, pois isso será a sua ruína.
Por isso, o político inteligente, na visão Maquiavélica, deve fazer o mal todo de uma vez, e a bondade deve ser administrada aos poucos, para que o povo possa melhor apreciá-la. Justamente por isso, ao sentar na cadeira do poder, o Príncipe deveria propor todas as reformas necessárias de uma vez, goela abaixo. Isso seguramente fará com que o povo fique um pouco contrariado, porém, uma vez realizadas no começo, e de uma vez só, podem ser compensadas com benefícios administrados em doses homeopáticas posteriormente.
Além de que, os homens (e aqui, meninas, vocês também estão contempladas!) têm memória fraca e lembram-se mais dos poucos benefícios concedidos recentemente do que de todo o mal infligido anteriormente.
Isso explica porque em todo início de mandato logo vemos o chefe do Executivo propondo alguma reforma. São os princípios de Maquiavel sendo aplicados.